O historial do túnel da Luz merece que as visitas guiadas ao estádio do Benfica o incluam como suplemento inevitável e muito valorizado pelos seus turistas. «Foi aqui», dirão os guias, aos visitantes comovidos. O que já escrevi sobre o filme que circulou pelas televisões bastava-me; o extraordinário peso do castigo aplicado aos jogadores também não surpreendeu — esperava-se mão pesada por parte da CD da Liga, como estava prometido pelo seu historial.
No entanto, é impossível deixar passar em branco o lamentável espectáculo de exibicionismo justiceiro protagonizado pelo meirinho de serviço. Não só quis exibir o seu poder, convocando os holofotes das televisões, mas também mostrar ao país que um castigo — aplicado aos atletas do FC Porto — merece festa e deve passar como um aviso. Evidentemente que posso discutir o pormenor da presença dos stewards naquele espaço e da provocação que decerto eles protagonizaram, mas o caso não é esse. O caso é que o 'país futebolístico' já não é surpreendido por estes excessos. Fazem parte do cenário rocambolesco em que as coisas andam a decorrer.
Uma das explicações tem a ver com o ressentimento (sempre mesquinho e infantil — o dr. Freud explica) contra dois jogadores e um clube. Trata-se, naturalmente, de um problema de personalidade ou de matéria sociológica. A inveja faz mal à razão; mas a arrogância completa o quadro. E o resultado não se recomenda.
Outra explicação tem a ver com a quantidade de juristas e legisladores que andam à volta do futebol. Não sei — mas suponho que sim — se as nossas leis apenas respeitam o cânone internacional e a legislação da UEFA e da FIFA. Mas a vontade de legislar, criar trapalhadas processuais, artigos de excepção e armadilhas legais é demasiada. E faz desconfiar (regulamentos mais simples seriam mais úteis, mas tirariam protagonismo a esta gente) da sua eficácia — e, evidentemente, da justiça. Devolvam, pois, o futebol ao estádio. Não ao túnel.
Francisco José Viegas n' A Bola.
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