VAMOS desdramatizar. Já basta a política, onde o drama subiu ao palco e ameaça — para nossa tranquilidade – não sair de lá tão cedo. Mas, no futebol, vamos dar um desconto. Está certo que o Sporting se afunda a cada semana, mas, vejamos, não se pode ganhar sempre. A ideia de que o campeonato e as competições adjacentes devem ser ganhas pelos «três grandes», com poucas alterações na classificação, é excessiva.
Se o FC Porto, o Benfica e o Sporting tivessem de ficar sempre nos três primeiros lugares de qualquer competição, seria de uma modorra interminável e sem graça. Felizmente, inventaram-se os quarto, quinto e sexto lugares (por exemplo) para serem ocupados por outras equipas concorrentes. Olhe-se o Benfica: ficou em sexto naquele ano em que Manuel José (então ao comando do Leiria) se vingou de ter sido despedido da Luz. Olhem o FC Porto, nos anos em que misturou restos de Fernando Santos com explosões de Octávio, e, depois, o incompreendido talento de Fernández com a pose da gabardina de Couceiro. Foi preciso Del Neri e Co Adriaanse para voltar à normalidade.
Nick Hornby, que escreveu um dos mais talentosos livros de futebol (Fever Pitch) com as suas descrições das várias campanhas do Arsenal, teria entrado em depressão se fosse um sócio dos três grandes portugueses. Javier Marias, que escreveu magníficos textos sobre o Real Madrid, teria já rasgado o cartão de sócio a cada deslize dos três grandes lusitanos, se lhe acontecesse ter nascido aqui.
Aprende-se uma certa virtude na derrota. Mas o futebol não tem nada de ciência (nem, acho eu, de desporto propriamente dito) – é um jogo puro, uma tabela de probabilidades que se cumprem algumas vezes. Eu, por exemplo, que me exaspero com Mariano González (a quem imagino como digno empregado de mesa, transportando bandeja e martinis, ou como barbeiro de uma vila transmontana), saltei da cadeira para aplaudir o golo com a Académica e incensá-lo como génio. E, confesso-vos: estive todo o resto do jogo a insultá-lo. Nada de dramas.
Francisco José Viegas n' A Bola.
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