SE não temos grandes árbitros é porque a sua ascensão na carreira depende de observadores comprometidos, o que os obriga a inúmeros compromissos. Aqueles que chegam ao topo são sobreviventes: fazem concessões, transigem com cinismo e compreendem de onde sopram os ventos.
Esses ventos sopram hoje do lado do Benfica e com uma intensidade que lembra os anos 60. O que está em jogo, esta época, é mais do que o título: é a exequibilidade da aposta no «tudo ou nada». Depois de anos de fracassos desportivos, os seus dirigentes não têm margem de erro, porque hipotecaram os rendimentos futuros e convocaram enormes recursos de investidores e patrocinadores.
Se tudo lhes correr de feição, o clube será campeão, estará na Champions, realizará mais-valias com jogadores, atrairá maiores receitas de bilheteiras, recuperará o seu antigo prestígio internacional, reembolsará os investidores, compensará os patrocinadores e poderá entrar num ciclo virtuoso, ombreando com o FC Porto.
Se, contudo, as coisas correrem mal, a aposta será irrepetível: o Benfica terá de desinvestir à pressa e ficará reduzido, nas épocas vindouras, à irrelevância desportiva e, quiçá, à insolvência.
Há um mês, o panorama era prometedor. Com o Sporting em decadência e o FC Porto em ajustes, o Benfica somava vitórias gordas e jogava bom futebol. Havia, é certo, quem questionasse a sustentabilidade do apuro de forma, mas os resultados iam calando esses cépticos.
De repente, o panorama mudou, porque a equipa parece acusar o esforço prematuro do princípio da época. O Benfica optou, então, pela vitimização e por dramatizar o discurso. Tudo isso é mais fácil em tempo de crise para a imprensa e para os media, que não querem correr o risco de hostilizar os anunciantes e clientes que fazem parte dos «seis milhões». Acentuou-se, assim, o branqueamento, que propicia o clima de intimidação que já vinha de épocas anteriores, com o propósito nítido de condicionar as arbitragens.
Viu-se como Pedro Henriques foi afastado, há mais de um ano, e desde que não assinalou, a pedido, um inexistente penalty, dos grandes jogos. Vê-se como Jorge Sousa passou de herói em Leiria a vilão depois do jogo de Braga, onde não participou no ciclone encarnado. Não admira, por isso, que Soares Dias não tenha conseguido, em Olhão, descortinar mais uma agressão de David Luiz, que a generalidade da imprensa também omitiu. O que admira é que nem assim tenha conseguido agradar aos benfiquistas...
A pressão encarnada vai, assim, continuar a semear vítimas, afastando os árbitros que não se fingem de vesgos, nem actuam de acordo com os interesses do Benfica. Resta saber se isso chega para concretizar o seu plano. Tem a palavra o FC Porto…
Emprestados
SE Ventura e Tengarrinha tivessem falhado como falharam (cada um do seu lado do campo, mas de forma igualmente clamorosa) contra o FC Porto, com quem têm contrato, estaria criado um clima de escândalo e não faltaria quem os acusasse de alterarem a verdade desportiva. Mesmo assim, ainda houve quem lembrasse que o Olhanense tem jogadores emprestados pelo FC Porto, e atribuísse a essa condição o facto de os algarvios terem realizado uma boa e esforçada exibição. Houve até um jornal que chegou ao cúmulo de, em subtítulo de capa, chamar de «armada portista» à equipa de Olhão e quem dissesse que os jogadores do Benfica foram provocados, numa tentativa clara de branquear a violência encarnada.
Opção lógica
O FC Porto cumpriu, frente aos sadinos, tudo o que era exigível. Não fez uma exibição brilhante nem encantou os adeptos enregelados, que compareceram no Dragão, mas Jesualdo fez o que devia fazer. Poupou jogadores, fez experiências, não correu riscos desnecessários. Afinal, o próximo jogo é na Luz… Não será o jogo do título, qualquer que seja o resultado, porque falta muito campeonato e vão surgir surpresas nos jogos que faltam. Mas o jogo da Luz é muito, muito importante. É verdade que surge num bom momento, mas não se justificam os excessos de optimismo que, aqui e ali, vou ouvindo aos adeptos. O FC Porto terá de estar concentrado, para dar aos adeptos o mais desejado presente de Natal.
Grande Pavão
JESUALDO FERREIRA teve a feliz ideia de homenagear o grande Pavão, que morreu em campo, no Estádio das Antas, ao 13º minuto da 13ª jornada do campeonato, quando defrontava precisamente o Vitória de Setúbal. Pavão foi um dos melhores jogadores de sempre, entre os muitos que vi actuar com a camisola do FC Porto. Merece, por isso, a recordação do seu amigo de infância. O futebol tem dias tristes e, para quem esteve nessa tarde nas Antas, as imagens da tragédia nunca serão esquecidas. Tem, também, momentos bonitos, quando os protagonistas se esquecem das incidências e das questões imediatas. Jesualdo aqueceu a minha noite, com as suas sentidas e bem medidas palavras.
Olhar Olhão
UM golo marcado em off-side, ainda que dificilmente perceptível, já em tempo de descontos, garantiu um pontinho ao Benfica, em Olhão. Jorge Costa optou por não falar sobre esse lance e sobre o critério disciplinar do árbitro. Curiosamente, após o jogo com o FC Porto, não se coibira a tecer críticas severas à arbitragem. Sinal dos tempos, em que até um homem corajoso não se inibe de reclamar por coisas menores, ainda para mais num jogo contra o clube do seu coração, mas não ousa falar de males bem maiores. Pelo menos teve o mérito de o confessar, invocando que tem família… É que o andor anda por aí e, em tempo de Natal, ninguém quer fazer figura de mártir no presépio benfiquista.
Rui Moreira n' A Bola.
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