sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Ditosa pátria a jogar à bola

A pátria, sensata e matreira (estas coisas aprendem-se com o tempo) não festejou a vitória sobre a Hungria. Primeiro, porque não se rende a argumentos que tentam explorar a sua boa-fé, falando em «mau futebol e bom resultado» para o opor ao «bom futebol e mau resultado». Trata-se de um manifesto descaramento, a roçar a imoralidade e que pretende vender a ideia de que a um jogo praticado por um bando de repolhos há-de corresponder um resultado positivo, enquanto o talento só produz miséria. Em segundo lugar, porque não se pode esconder o sol com a peneira - e a peneira é isto: o futebol da selecção não convenceu, em nenhum dos casos, nem contra a Dinamarca, nem contra a Hungria.
Se a ideia é festejarmos o resultado global desta semana, só se andássemos de quatro. Não andamos.

Outro pormenor essencial, de que há lições a retirar: os jogadores mais influentes dos dois jogos foram Pepe, Liedson e Deco - aqueles a quem o patriotismo mais exigente nega emprestar a bandeira. Pensem bem nisso, agora que eu vi Pepe - em formatura, alinhado com os seus colegas - a cantar o hino. Lembro-me disto depois de ter lido os reparos de uma sra. Deputada (repetindo os argumentos estapafúrdios sobre a distinção entre 'portugueses legítimos' e os outros, de segunda categoria) e dirigente partidária à inclusão de Liedson no onze português. Dizia a D. Marta que conceder a nacionalidade portuguesa a estrangeiros, tudo bem, mas deixá-los jogar na selecção, nem pensar; de outra forma: se quiserem ser portugueses para pagar impostos, trabalhar nas obras e lavar a nossa roupa, tudo bem - mas jogar à bola em nosso nome, isso não. Pois foi com Liedson que Portugal marcou logo a seguir. Bem feito. Ditosa pátria que tais talentos abriga.

Finalmente, regressamos ao campeonato-campeonato. O Leixões deste ano pode não ser o Leixões imperturbável das primeiras jornadas da época passada, mas convém o FC Porto precaver-se e preparar-se - primeiro para o jogo com os de Matosinhos; depois, para o Chelsea. Uma coisa de cada vez.

Francisco José Viegas n'A Bola.

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