1 - O Leixões merece. Merece ter ganho em Alvalade, merece ter ganho no Dragão e merecia ter ganho ao Benfica, se a sorte não lhe tivesse voltado as costas. O Leixões merece as quatro vitórias obtidas fora de casa em outros tantos jogos. Merece o primeiro lugar isolado, os cinco pontos a mais que leva sobre o FC Porto e os seis que leva sobre o Sporting. O Leixões merece este regresso à 1ª Liga, depois de tantos anos de espera e de dois anos em que esteve quase a conseguir chegar, mas no fim fraquejou.
Durante toda a semana foi um «blitz»de entusiasmo da imprensa, antevendo a chegada do Benfica ao primeiro lugar, após quatro anos de ausência da posição cimeira do futebol português. Lendo os jornais, eram favas contadas: o Benfica vencia tranquilamente na Luz os sub-alimentados do Estrela da Amadora, e o Sporting, com uma «arbitragem imparcial», só podia vencer de forma igualmente tranquila o intruso de Matosinhos. Ah, mas o futebol ainda tem parte substancial que se decide no relvado, apesar de tanta conversa, tantas queixas e lamúrias, tantas pseudoverdades proclamadas para valerem como factos!
Facto é que o Benfica lá venceu o Estrela da Amadora, ao estilo tem-te não caias, que é a sua imagem de marca este ano. Foi uma exibição pífia, a fazer lembrar o Benfica de Trapattoni, que foi campeão sem convencer ninguém. Facto é que o Leixões chegou a Alvalade, levou meio tempo a perder o respeito ao Sporting e depois mostrou ao que vinha: jogar sem medo, jogar com qualidade, com classe, com alegria. Já é tempo de fazer justiça a José Mota: não sei se haverá, entre os treinadores portugueses em actividade aqui, quem se lhe possa comparar em termos de resultados. Que os há menos humildes, sempre em bicos de pés mal obtêm um bom resultado, bem-falantes, isso há. Mas que consigam, uma, duas, várias vezes, pegar em equipas sem esperança e pô--las a jogar mais do que seria legítimo exigir e chegar aonde ninguém pensava possível, como José Mota tem feito, isso não há muitos.
Em Alvalade e no Dragão, a prestação do Leixões confirmou uma coisa que há muito penso: que uma equipa pequena, bem treinada e bem motivada, não precisa de jogar naqueles «quintais» onde se disputam tantos jogos da 1.ª Liga para fazer frente aos grandes. O que mais tenho gostado de ver no Leixões é o aproveitamento que a equipa faz do campo todo. As dimensões do relvado dos grandes não a intimidam, antes pelo contrario: é nesse espaço todo que o Leixões mostra que sabe jogar futebol. Bater o pé aos grandes em campos como o de Paços de Ferreira, Nacional, Naval, Amadora, não é tão difícil como parece: porque a falta de espaço prejudica o melhor futebol e beneficia quem quer, acima de tudo, defender e apostar na confusão e na sorte. Não é por acaso que os jogos dos campeonatos inglês, espanhol, italiano, francês ou alemão, são sempre bem disputados, mesmo com equipas fracas. Porque ninguém vê, nas Ligas desses países, campos como aqueles. Se eu mandasse, havia dois tipos de clubes que seriam excluídos do primeiro escalão: os que não pagam os salários, a Segurança Social ou o fisco, e os que não dispõem de relvados com a dimensão máxima.
2 - Já aqui escrevi algumas vezes que tenho todo o respeito por Paulo Bento. Acho que ele faz o melhor possível com a equipa que tem e, para todos os efeitos, é uma proeza ter que disputar o campeonato de igual para igual com dois rivais que gastam o dobro ou o triplo do que o Sporting gasta em jogadores. Mas Paulo Bento, de facto, não tem o dom da palavra e parece achar que isso não é importante. Está errado: um treinador é um líder, um condutor de homens, e um líder tem de saber falar para que o entendam, para que as suas razões sejam escutadas. Mesmo falando «a quente», não pode dizer a primeira coisa que lhe vem à cabeça, não pode anunciar como verdades indiscutíveis coisas que não resistem ao senso-comum de quem o ouve e também vê os jogos, não pode adoptar uma linguagem sem freio, ao nível do adepto de bancada.
Durante toda a semana, foi montada uma fortíssima campanha, e não apenas interna, de lavagem das declarações incendiárias de Paulo Bento, no final do Sporting-FC Porto. Ao ler algumas das opiniões expressas a propósito disso, fiquei a pensar se os tais que se intitulam cavalheiros do futebol acham mesmo que é admissível que um treinador diga o que Paulo Bento disse, no final daquele jogo.
Mas também fiquei a pensar porque razão não se atrevem os nossos jornalistas a contraditar treinadores ou dirigentes, quando eles dizem a primeira coisa que lhes apetece e anunciam como verdades inquestionáveis coisas que não resistiriam a um simples escrutínio de facto. Porque razão, quando ouvem Paulo Bento ou Dias da Cunha a falarem daquela arbitragem como se o Sporting tivesse sido roubado, não se atrevem a dizer-lhes: «E a cotovelada do Liedson no Fucile, que passou impune? E o descarado penalty do Rui Patricio sobre o Hulk, que acabou com cartão amarelo ao Hulk, por ter sido derrubado por um e pisado no chão por outro? E a gravata dentro da área do Rochemback ao Rolando, que acabou em livre contra o Porto? O que tem a dizer sobre isso?» Será precisa assim tanta coragem para fazer perguntas destas, as perguntas pertinentes?
Se as tivessem feito, e logo ali, no flash-interwiew, a Paulo Bento, ter-se-iam evitado muitas asneiras subsequentes, dele e de outros. Assim, foi necessário esperar que o Leixões fosse a Alvalade e tratasse de demonstrar que a desculpa das arbitragens não serve sempre. Apesar de, na sequência do apelo de Paulo Bento, o público de Alvalade ter recebido os árbitros com a dose de intimidação recomendada. Aliás, o apelo de Paulo Bento nem sequer faz sentido: de há muito que Alvalade é o estádio que mais pressiona os árbitros- e por isso é que o Sporting é cronicamente o clube com mais penalties a favor e mais adversários expulsos nos jogos disputados em sua casa. Mas como ninguém se atreve a lembrar-lhes as estatísticas nem os muitos e muitos casos em que a arbitragem os favorece, eles conseguiram fazer das suas verdades doutrina. Enfim, daí não vem grande mal ao mundo. Nem verdade ao futebol...
3 - Estávamos três a ver o FC Porto-Vitória de Guimarães e, de princípio a final, o que a todos mais impressionou foi a exibição de Cristian Rodriguéz. Acho que não exagero muito (é ver o vídeo...), se disser que ele não ganhou nem 10% dos lances disputados. Não fez uma assistência para golo, um cruzamento de jeito, um remate digno desse nome, não acabou ou deu sequência a uma jogada que fosse. Foi absolutamente impressionante a quantidade de jogo que ele estragou à equipa. E isto repete-se, jogo após jogo, desde o início da época, fazendo-me crer que o Cristian Rodriguéz é o útlimo de uma série de fiascos resultantes da irresistível tentação de Pinto da Costa de roubar jogadores ao Benfica- na esteira, por exemplo, dos inesquecíveis Iuran e Sokota.
Mas, afinal, li aqui, no relato do jogo, que dois jornalistas de A Bola tinham considerado o Cristian Rodriguéz como dos melhores portistas em campo. Ou não vimos o mesmo jogo ou só me resta render-me à evidência de que não percebo nada de futebol. Mas lá que gostava de ver Jesualdo experimentar o Candeias, de vez em quando, isso gostava. Mas não vou ter sorte, porque, como disse Carlos Azenha, na excelente entrevista que deu ao Diário de Notícias de 6.ª feira, para Jesualdo Ferreira há sempre titulares indiscutíveis. E já é uma sorte que Mariano González não seja sempre um deles.
Miguel Sousa Tavares n' A Bola.
Durante toda a semana foi um «blitz»de entusiasmo da imprensa, antevendo a chegada do Benfica ao primeiro lugar, após quatro anos de ausência da posição cimeira do futebol português. Lendo os jornais, eram favas contadas: o Benfica vencia tranquilamente na Luz os sub-alimentados do Estrela da Amadora, e o Sporting, com uma «arbitragem imparcial», só podia vencer de forma igualmente tranquila o intruso de Matosinhos. Ah, mas o futebol ainda tem parte substancial que se decide no relvado, apesar de tanta conversa, tantas queixas e lamúrias, tantas pseudoverdades proclamadas para valerem como factos!
Facto é que o Benfica lá venceu o Estrela da Amadora, ao estilo tem-te não caias, que é a sua imagem de marca este ano. Foi uma exibição pífia, a fazer lembrar o Benfica de Trapattoni, que foi campeão sem convencer ninguém. Facto é que o Leixões chegou a Alvalade, levou meio tempo a perder o respeito ao Sporting e depois mostrou ao que vinha: jogar sem medo, jogar com qualidade, com classe, com alegria. Já é tempo de fazer justiça a José Mota: não sei se haverá, entre os treinadores portugueses em actividade aqui, quem se lhe possa comparar em termos de resultados. Que os há menos humildes, sempre em bicos de pés mal obtêm um bom resultado, bem-falantes, isso há. Mas que consigam, uma, duas, várias vezes, pegar em equipas sem esperança e pô--las a jogar mais do que seria legítimo exigir e chegar aonde ninguém pensava possível, como José Mota tem feito, isso não há muitos.
Em Alvalade e no Dragão, a prestação do Leixões confirmou uma coisa que há muito penso: que uma equipa pequena, bem treinada e bem motivada, não precisa de jogar naqueles «quintais» onde se disputam tantos jogos da 1.ª Liga para fazer frente aos grandes. O que mais tenho gostado de ver no Leixões é o aproveitamento que a equipa faz do campo todo. As dimensões do relvado dos grandes não a intimidam, antes pelo contrario: é nesse espaço todo que o Leixões mostra que sabe jogar futebol. Bater o pé aos grandes em campos como o de Paços de Ferreira, Nacional, Naval, Amadora, não é tão difícil como parece: porque a falta de espaço prejudica o melhor futebol e beneficia quem quer, acima de tudo, defender e apostar na confusão e na sorte. Não é por acaso que os jogos dos campeonatos inglês, espanhol, italiano, francês ou alemão, são sempre bem disputados, mesmo com equipas fracas. Porque ninguém vê, nas Ligas desses países, campos como aqueles. Se eu mandasse, havia dois tipos de clubes que seriam excluídos do primeiro escalão: os que não pagam os salários, a Segurança Social ou o fisco, e os que não dispõem de relvados com a dimensão máxima.
2 - Já aqui escrevi algumas vezes que tenho todo o respeito por Paulo Bento. Acho que ele faz o melhor possível com a equipa que tem e, para todos os efeitos, é uma proeza ter que disputar o campeonato de igual para igual com dois rivais que gastam o dobro ou o triplo do que o Sporting gasta em jogadores. Mas Paulo Bento, de facto, não tem o dom da palavra e parece achar que isso não é importante. Está errado: um treinador é um líder, um condutor de homens, e um líder tem de saber falar para que o entendam, para que as suas razões sejam escutadas. Mesmo falando «a quente», não pode dizer a primeira coisa que lhe vem à cabeça, não pode anunciar como verdades indiscutíveis coisas que não resistem ao senso-comum de quem o ouve e também vê os jogos, não pode adoptar uma linguagem sem freio, ao nível do adepto de bancada.
Durante toda a semana, foi montada uma fortíssima campanha, e não apenas interna, de lavagem das declarações incendiárias de Paulo Bento, no final do Sporting-FC Porto. Ao ler algumas das opiniões expressas a propósito disso, fiquei a pensar se os tais que se intitulam cavalheiros do futebol acham mesmo que é admissível que um treinador diga o que Paulo Bento disse, no final daquele jogo.
Mas também fiquei a pensar porque razão não se atrevem os nossos jornalistas a contraditar treinadores ou dirigentes, quando eles dizem a primeira coisa que lhes apetece e anunciam como verdades inquestionáveis coisas que não resistiriam a um simples escrutínio de facto. Porque razão, quando ouvem Paulo Bento ou Dias da Cunha a falarem daquela arbitragem como se o Sporting tivesse sido roubado, não se atrevem a dizer-lhes: «E a cotovelada do Liedson no Fucile, que passou impune? E o descarado penalty do Rui Patricio sobre o Hulk, que acabou com cartão amarelo ao Hulk, por ter sido derrubado por um e pisado no chão por outro? E a gravata dentro da área do Rochemback ao Rolando, que acabou em livre contra o Porto? O que tem a dizer sobre isso?» Será precisa assim tanta coragem para fazer perguntas destas, as perguntas pertinentes?
Se as tivessem feito, e logo ali, no flash-interwiew, a Paulo Bento, ter-se-iam evitado muitas asneiras subsequentes, dele e de outros. Assim, foi necessário esperar que o Leixões fosse a Alvalade e tratasse de demonstrar que a desculpa das arbitragens não serve sempre. Apesar de, na sequência do apelo de Paulo Bento, o público de Alvalade ter recebido os árbitros com a dose de intimidação recomendada. Aliás, o apelo de Paulo Bento nem sequer faz sentido: de há muito que Alvalade é o estádio que mais pressiona os árbitros- e por isso é que o Sporting é cronicamente o clube com mais penalties a favor e mais adversários expulsos nos jogos disputados em sua casa. Mas como ninguém se atreve a lembrar-lhes as estatísticas nem os muitos e muitos casos em que a arbitragem os favorece, eles conseguiram fazer das suas verdades doutrina. Enfim, daí não vem grande mal ao mundo. Nem verdade ao futebol...
3 - Estávamos três a ver o FC Porto-Vitória de Guimarães e, de princípio a final, o que a todos mais impressionou foi a exibição de Cristian Rodriguéz. Acho que não exagero muito (é ver o vídeo...), se disser que ele não ganhou nem 10% dos lances disputados. Não fez uma assistência para golo, um cruzamento de jeito, um remate digno desse nome, não acabou ou deu sequência a uma jogada que fosse. Foi absolutamente impressionante a quantidade de jogo que ele estragou à equipa. E isto repete-se, jogo após jogo, desde o início da época, fazendo-me crer que o Cristian Rodriguéz é o útlimo de uma série de fiascos resultantes da irresistível tentação de Pinto da Costa de roubar jogadores ao Benfica- na esteira, por exemplo, dos inesquecíveis Iuran e Sokota.
Mas, afinal, li aqui, no relato do jogo, que dois jornalistas de A Bola tinham considerado o Cristian Rodriguéz como dos melhores portistas em campo. Ou não vimos o mesmo jogo ou só me resta render-me à evidência de que não percebo nada de futebol. Mas lá que gostava de ver Jesualdo experimentar o Candeias, de vez em quando, isso gostava. Mas não vou ter sorte, porque, como disse Carlos Azenha, na excelente entrevista que deu ao Diário de Notícias de 6.ª feira, para Jesualdo Ferreira há sempre titulares indiscutíveis. E já é uma sorte que Mariano González não seja sempre um deles.
Miguel Sousa Tavares n' A Bola.
1 comentário:
O Cebola não fez um grande jogo e perdeu bolas em contra-ataques em superioridade numérica, mas daí a ler o que diz o Miguel coadjuvado por mais dois amigos, via uma grande diferença.
Um abraço
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