AO olhar para o rosto de Jesualdo Ferreira pintado de cinzento pálido lembrei-me de desabafo de Alex Ferguson depois do Manchester United perder por 1-5 com o Manchester City, em 1989:
– Sinto que traí quem me vira envergonhado a cara, vejo-me espécie de criminoso a quem só apetece fugir. Mas daqui a três anos, continuarei por cá – e muito bem-sucedido...
Não sei o que JF sentiu na Figueira mas sei que se não for capaz de colocar o passado no futuro do FC Porto, se perder agora em Kiev e domingo em Alvalade – de nada lhe servirá acolher-se à sombra da tirada filosófica do esfíngico alemão que disse
— Primeiro não tivemos sorte e depois ainda tivemos azar...
ou queixar-se de golos sofridos que não lembram ao diabo, de bolas que, em demasia, esbarram, caprichosas, em postes e barras. Acho que sim, que ainda pode dar a volta ao destino como Ferguson: se deixar de insistir em mudar o jogo e a equipa com base na bola e na táctica, o que tem feito sem préstimo – e conseguir mudar o jogo e a equipa com base no homem e na sua esperteza. Para fazê-lo tem uma hipótese: levar para o balneário a história de Helénio Herrera, que, nos anos 60, ganhou tudo o que tinha a ganhar com o famoso truque da alma: obrigava os seus jogadores a jurarem uns aos outros:
– Eu confio em ti e tu confias em mim...
e a cumprirem, sagrados, a jura em campo. Admito que neste deprimente FC Porto haja o empenhamento que JF garante que há, mas se há é o empenhamento que se alimenta do desespero e do medo do abismo, por isso vão, inútil. E falta classe, inteligência, talento, carácter – e também espírito de equipa, lógica de grupo, malha de solidariedade. E sobram birras, egos e umbigos. Coisas que se o treinador não resolve de uma penada – perde a cabeça e o emprego. Sobretudo num clube em que quem manda recebe bónus de 2,2 milhões pelo primeiro lugar e nada pelo quarto ou quinto...
António Simões n' A Bola
– Sinto que traí quem me vira envergonhado a cara, vejo-me espécie de criminoso a quem só apetece fugir. Mas daqui a três anos, continuarei por cá – e muito bem-sucedido...
Não sei o que JF sentiu na Figueira mas sei que se não for capaz de colocar o passado no futuro do FC Porto, se perder agora em Kiev e domingo em Alvalade – de nada lhe servirá acolher-se à sombra da tirada filosófica do esfíngico alemão que disse
— Primeiro não tivemos sorte e depois ainda tivemos azar...
ou queixar-se de golos sofridos que não lembram ao diabo, de bolas que, em demasia, esbarram, caprichosas, em postes e barras. Acho que sim, que ainda pode dar a volta ao destino como Ferguson: se deixar de insistir em mudar o jogo e a equipa com base na bola e na táctica, o que tem feito sem préstimo – e conseguir mudar o jogo e a equipa com base no homem e na sua esperteza. Para fazê-lo tem uma hipótese: levar para o balneário a história de Helénio Herrera, que, nos anos 60, ganhou tudo o que tinha a ganhar com o famoso truque da alma: obrigava os seus jogadores a jurarem uns aos outros:
– Eu confio em ti e tu confias em mim...
e a cumprirem, sagrados, a jura em campo. Admito que neste deprimente FC Porto haja o empenhamento que JF garante que há, mas se há é o empenhamento que se alimenta do desespero e do medo do abismo, por isso vão, inútil. E falta classe, inteligência, talento, carácter – e também espírito de equipa, lógica de grupo, malha de solidariedade. E sobram birras, egos e umbigos. Coisas que se o treinador não resolve de uma penada – perde a cabeça e o emprego. Sobretudo num clube em que quem manda recebe bónus de 2,2 milhões pelo primeiro lugar e nada pelo quarto ou quinto...
António Simões n' A Bola
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