André Villas-Boas - Não faltará motivação

Villas-Boas garantiu ontem que o FC Porto vai subir ao relvado do Estádio do Dragão para defrontar o CSKA como se dependesse do encontro para garantir o apuramento para a fase seguinte da Liga Europa. A realidade, contudo, é outra: o primeiro lugar é intocável, pelo que nada há a decidir. Mesmo assim, a motivação será alta, porque existem objectivos internos a cumprir e o mais próximo é ganhar os dois jogos que faltam até ao final de 2010, o que prolongaria o recorde de invencibilidade do clube, que datava da era de Mourinho, conseguido após o triunfo sobre o Juventude de Évora.

O técnico admitiu mexidas na equipa e garantiu a continuidade de James no onze. Pelo meio, questionou os critérios de avaliação dos árbitros, agradeceu os elogios de Jesualdo Ferreira, voltou a criticar o formato da Liga Europa, e considerou "entretenimento" a posição do Benfica sobre as arbitragens.

Sente a equipa motivada, sendo este um jogo apenas para cumprir calendário?

É um jogo que se insere nos objectivos internos que temos traçados até ao final do ano e, nesse sentido, penso que não faltará motivação. O jogo de Viena também se inseria, mais ou menos, no mesmo enquadramento, ainda que faltasse garantir o primeiro lugar. Temos dois jogos até ao final do ano e queremos vencê-los.

Estando já tudo decidido, admite poupar os habituais titulares?

Temos dias suficientes de recuperação para o jogo com o Paços, assim como tivemos para este. Vamos continuar a gestão que temos feito. Sentimos o plantel bastante competitivo e qualquer das soluções, entre os jogadores que têm sido menos utilizados, tem aparecido a um nível altíssimo. Pelo que têm feito, dão as máximas garantias de que nos levarão à vitória. A equipa está sempre forte.

Nem o FC Porto, nem o CSKA precisam dos pontos. Pode, por isso, esperar-se um jogo aberto e com vários golos?

O CSKA continua numa sequência importante de resultados positivos. Começou mal a época, mas vai em oito jogos sem perder. Passou por uma mudança na liderança e haverá uma nova empatia pelo líder. Há pouco a perder, o que leva a determinado tipo de riscos e de atrevimento. Por isso, penso que pode ser um jogo estimulante nesse sentido.

Pergunta O JOGO

James Rodríguez confirmado no onze

James vai voltar a ser titular?

Sim. O James foi contemplado com a titularidade pela semana ultrapositiva que teve, com continuidade esta semana. Enquanto mantiver níveis de rendimento em treino terá mais oportunidades. Compete com seis jogadores para aquela posição e é difícil entrar numa equipa que tem estado bem. Se calhar, as oportunidades foram poucas não só por a equipa estar bem, mas também porque o que ofereceu antes não era tão bom como o que está a oferecer agora."

Há cerca de duas semanas, Villas-Boas mostrou-se solidário com Jorge Jesus, alvo de fortes críticas pela época que o Benfica tem realizado e, sobretudo, pela goleada sofrida no Dragão. No entanto, esta semana, o treinador do Benfica não foi tão diplomático referindo a existência de dualidade de critérios na marcação de grandes penalidades e que isso contribuiu para a distância pontual entre as equipas, o que, de certa forma, desprestigia o trabalho de Villas-Boas. O técnico portista não ficou surpreendido pela posição de Jesus, que considerou ser "entretenimento". "Não espero do treinador do Benfica qualquer tipo de solidariedade. A minha solidariedade foi para com o homem, treinador de futebol que atingiu o objectivo que o Benfica procurava há anos. Quem representa o Benfica será sempre um adversário directo e não esperava dele qualquer coisa diferente do que aquilo que tem dito. Quanto ao critério das grandes penalidades, acho que é um entretenimento e se o Benfica quer acreditar nisso, que se entretenha", atirou.

Elogios de Jesualdo bem recebidos

Através de O JOGO, Jesualdo Ferreira elogiou o trabalho de Villas-Boas no FC Porto. Isto a propósito do recorde de invencibilidade "roubado" a José Mourinho. Um feito alcançado pelos últimos dois treinadores a sentarem-se no banco azul e branco. Villas-Boas agradeceu as palavras do professor. "São elogios bem-vindos. Esta sequência faz parte, em muito, do trabalho dele. É uma sequência que se iniciou numa época em que o FC Porto falhou o seu objectivo principal, mas com o Jesualdo o clube atingiu tantos outros objectivos importantes. Portanto, recebo estes elogios de braços abertos", referiu.

"Sem títulos, vão esquecer o que temos feito"

Villas-Boas não sabe o que é perder em partidas oficiais. O balanço dos primeiros cinco meses é positivo - não podia ser de outra forma - mas o técnico lembrou que nada terá significado se não houver continuidade. "Não nos podemos desligar do que está para a frente e esses são os cinco meses que contam em absoluto, que dão os troféus. Estamos a viver uma fase boa, de elogios, mas falta o período das definições e qualquer saída de uma competição passa para objectivo não conseguido e facilmente se esquecerá o que temos feito, porque não terá valor. Temos apenas garantida a qualificação no primeiro lugar da Liga Europa; a qualificação para os quartos-de-final da Taça; e oito pontos de vantagem, o que é bom, para o segundo no campeonato", lembrou.

"Elmano pior do que Jorge Sousa?"

Villas-Boas criticou a nota positiva de Jorge Sousa no Sporting-FC Porto e fez o mesmo à negativa dada a Elmano Santos, com o Setúbal. "Se me querem chamar cego que o façam. Um toque mínimo num jogador em corrida é suficiente para o derrubar; o outro penálti também existe, e na marcação não houve apito. Portanto, onde estão os casos? Esta arbitragem foi pior do que a do Jorge Sousa? Pela nota foi, mas que critérios é que foram utilizados? Os critérios dos observadores podem ser assim tão diferentes?"

A segunda vida dos frustrados europeus

Villas-Boas não concorda com a transição para a Liga Europa dos terceiros classificados da Champions e ontem insistiu no assunto. "São equipas que chegam frustradas por não terem atingido um objectivo e que iniciam a busca de outro, têm uma segunda vida", considerou, deixando uma série de questões em jeito de crítica. "É óbvio que vêm prestigiar porque trazem um palmarés importante, mas isso também quer dizer que os que estão a viver isto desde o início não são importantes? Ou são menos importantes? Porque é que os terceiros classificados da Liga Europa não têm direito a aceder a esta fase da prova e têm de ser os da Liga dos Campeões?"

Carlos Gouveia n' O Jogo.