domingo, 21 de junho de 2009

O oráculo de Jesualdo

Rui Silva. O nome dirá pouco à maior parte dos adeptos, mas representa um dos aspectos mais importantes do trabalho de Jesualdo Ferreira. Rui Silva observa os adversários, descobre-lhes lacunas e virtudes, mas também analisa a própria equipa do FC Porto e os jogadores, que ajuda a corrigir defeitos e potenciar qualidades. Ele é, no fundo, o homem dos pormenores no FC Porto, aquele que tem por missão descobrir aquele detalhe que, num determinado jogo, pode fazer toda a diferença. E faz muitas vezes. Numa conversa com O JOGO, Rui Silva explicou o trabalho que é desenvolvido nesta área muitas vezes obscura do jogo, mas também a relação de proximidade que tem com Jesualdo Ferreira.

"O meu trabalho com o professor tem uma vantagem muito grande: já nos conhecemos desde o Braga. Aqui, no FC Porto, sei perfeitamente quais são os processos da equipa e aquilo que ele pretende. Existe uma grande ligação entre nós depois de termos passado tanto tempo juntos, não só nos treinos, mas também nos estágios, que aproveitamos para conversar sobre futebol." Neste trabalho, existem dois aspectos distintos: a observação externa, do adversário, e a observação interna, a nível individual ou colectivo, da própria equipa do FC Porto. Rui Silva defende, no entanto, que eles estão interligados: "A observação dos adversários e posterior mensagem que chega aos jogadores é sempre feita em função da nossa equipa. Ou seja, a observação que fazemos de um determinado adversário só serviria para ser utilizada no FC Porto. Sendo assim, posso concluir que 70 por cento do nosso trabalho incide na nossa equipa." Mas, afinal, como é feito esse trabalho em termos práticos? Na observação dos adversários, existem três fases. "O primeiro jogo é visto pelo nosso departamento de observação, o segundo é visto por mim, e o terceiro é observado pelo adjunto que vai estar presente no jogo com essa equipa. Estes três jogos são observados in loco. Depois disso, ainda visiono mais três ou quatro jogos dessa equipa em vídeo - demoro umas quatro ou cinco horas a trabalhar cada um desses jogos - antes de apresentar o trabalho final." Depois de recolhida a informação, importa saber como é que ela vai chegar aos jogadores. Rui Silva explica que utiliza o vídeo. "É difícil, através de um relatório escrito, dizer-se exactamente aquilo que se viu. Através do vídeo, é muito mais fácil, sobretudo para os jogadores." E contou uma história: "Quando estava no Leixões, o clube onde comecei a trabalhar, escrevi no relatório que um determinado jogadores batia os penáltis para o lado direito. Nós, quando escrevemos, referimo-nos sempre ao lado do guarda-redes, mas ele, na altura, ficou com dúvidas e atirou-se para o outro lado. Com o vídeo, isso não acontece. Mais: dá para fixar mentalmente com maior eficácia se o remate vai ser rasteiro, a meia altura, forte ou devagar." Depois sobra ainda a análise individual da própria equipa. Na recolha da informação, Rui Silva utiliza um software que segue os jogadores em todos os aspectos do jogo: distâncias e velocidades percorridas, passe, análise qualitativa e quantitativa, entre outros aspectos. Para além disso, todos os jogos disputados no Estádio do Dragão são filmados a 3/4 do campo, desde a linha defensiva até ao ataque, para além de existir uma câmara por trás das balizas para ter a mesma perspectiva dos guarda-redes. Estes dados são depois recolhidos e chegam mais tarde a Jesualdo Ferreira. Assim se percebe, também, a evolução de alguns jogadores.

Pedro Marques Costa n' O Jogo.

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