HÁ anos a fio que recorrem ao mesmo truque, como se fosse inovador e surpreendente. A sua maior estultice é, portanto, a de se enganarem redondamente ao crer que enganam os outros. Deitam mão a uma série de espertezas saloias, bolorentas, gastas e velhas, que funcionam precisamente ao contrário. Basta estar atento aos sinais que emitem, para se perceber, de modo rápido e inequívoco, o que lhes vai na alma indolente: a admissão da incapacidade para evitar a derrota eminente.
Mal acabam os foguetes da entrada no novo ano e o frio começa a apertar, puxam a manta de um lado, deixando os pés ao léu do outro. Não é preciso ter a atenção muito apurada; é suficiente não fechar os olhos aos títulos e notícias com que o seu numeroso e ruidoso batalhão de agentes e mensageiros, muito mal disfarçados de comentadores e jornalistas, enxameia e inunda os jornais e as televisões. Jogadores normais e até banais são convertidos em craques da noite para o dia; os maiores clubes do planeta suspiram ansiosamente por eles e incumbem os mais reputados e hábeis empresários de os assediar com ofertas irrecusáveis, ficando assim provado quão grande foi a visão, rendoso o investimento e atinado o acerto da sua contratação. Ele são pungentes campanhas e petições, lançadas diariamente em tudo quanto é suporte mediático e informático, apelando veementemente à renovação e compra do passe de jogadores emprestados ou ligados à instituição por contrato parcial. Ele são dramáticas vagas de fundo, atroando os ares com um coro de rogos para que o presidente renove o mandato e se mantenha à frente do projecto por muito tempo, sob pena de terem sido em vão os esforços, sacrifícios e desaires dos anos transactos (já tão longos!) e de se perder no nevoeiro a última réstia de esperança em relação a um futuro semelhante a um passado remoto, cada vez mais situado lá para trás e de improvável ressurreição. Ele são anúncios de contratações para a próxima época, já apalavradas, se não mesmo inteiramente consumadas, conforme as mais fidedignas fontes de informação. Ele é a corrente de críticas sub-reptícias e sibilinas, postas a circular, visando atrair à pérfida emboscada da auto-demissão o treinador, inicialmente endeusado e apresentado como um astro-rei do firmamento reluzente e olímpico dos deuses e sábios do treino, mas agora reduzido à condição de ignorante dos cantos da casa, dos caprichos dos donos do balneário e das artimanhas e peculiaridades do futebol indígena. Ele são tantas coisas do mais fino brocado, tecidas pela insanidade mental, que não dá para as enumerar todas. Com isso tentam conseguir o impossível, isto é, transformar falhanços deprimentes em sucessos consequentes, mas logram êxito na operação de aquietar e alienar adeptos complacentes.
Uma coisa é certa: quando esta festa é desencadeada e os andores saem à rua numa vistosa procissão de pompa e circunstância, é sinal evidentíssimo de que a toalha foi atirada ao chão. Os adversários podem então respirar tranquilamente e partir para cima deles com à-vontade, porquanto não há nada a temer de quem, julgando-se iluminado, sabido, esperto e superior aos demais, recorre a tão ridículos expedientes. Coitados, cuidando que encobrem a frustração e vergonha, expõem assim, em toda a nudez e na praça pública, a sua condição interior de derrotados!
Mas não ganham emenda. Por mais que o método seja repetido e seja identificado como anunciador do fracasso e suscitador de chacota e gozo, eles não aprendem. Não estão para aí virados. Nasceram para dar e não para receber lições. A arrogância e a soberba não lhes consentem o gesto da humildade. Por isso na próxima época vão subir a parada, aumentando e desdobrando ainda mais os coros e sons, os fumos e sinais com que anunciarão a todo o mundo a sua persistência na via para a derrocada. São mais que os outros, não havendo quem os iguale ou deles se aproxime; logo têm que fazer um alarido recrudescente, ocupar o espaço correspondente e gerar uma poluição crescente. Isto já lhes basta e dá imagem perfeita da sua dimensão e grandeza.
Jorge Olímpio Bento n' A Bola.
Mal acabam os foguetes da entrada no novo ano e o frio começa a apertar, puxam a manta de um lado, deixando os pés ao léu do outro. Não é preciso ter a atenção muito apurada; é suficiente não fechar os olhos aos títulos e notícias com que o seu numeroso e ruidoso batalhão de agentes e mensageiros, muito mal disfarçados de comentadores e jornalistas, enxameia e inunda os jornais e as televisões. Jogadores normais e até banais são convertidos em craques da noite para o dia; os maiores clubes do planeta suspiram ansiosamente por eles e incumbem os mais reputados e hábeis empresários de os assediar com ofertas irrecusáveis, ficando assim provado quão grande foi a visão, rendoso o investimento e atinado o acerto da sua contratação. Ele são pungentes campanhas e petições, lançadas diariamente em tudo quanto é suporte mediático e informático, apelando veementemente à renovação e compra do passe de jogadores emprestados ou ligados à instituição por contrato parcial. Ele são dramáticas vagas de fundo, atroando os ares com um coro de rogos para que o presidente renove o mandato e se mantenha à frente do projecto por muito tempo, sob pena de terem sido em vão os esforços, sacrifícios e desaires dos anos transactos (já tão longos!) e de se perder no nevoeiro a última réstia de esperança em relação a um futuro semelhante a um passado remoto, cada vez mais situado lá para trás e de improvável ressurreição. Ele são anúncios de contratações para a próxima época, já apalavradas, se não mesmo inteiramente consumadas, conforme as mais fidedignas fontes de informação. Ele é a corrente de críticas sub-reptícias e sibilinas, postas a circular, visando atrair à pérfida emboscada da auto-demissão o treinador, inicialmente endeusado e apresentado como um astro-rei do firmamento reluzente e olímpico dos deuses e sábios do treino, mas agora reduzido à condição de ignorante dos cantos da casa, dos caprichos dos donos do balneário e das artimanhas e peculiaridades do futebol indígena. Ele são tantas coisas do mais fino brocado, tecidas pela insanidade mental, que não dá para as enumerar todas. Com isso tentam conseguir o impossível, isto é, transformar falhanços deprimentes em sucessos consequentes, mas logram êxito na operação de aquietar e alienar adeptos complacentes.
Uma coisa é certa: quando esta festa é desencadeada e os andores saem à rua numa vistosa procissão de pompa e circunstância, é sinal evidentíssimo de que a toalha foi atirada ao chão. Os adversários podem então respirar tranquilamente e partir para cima deles com à-vontade, porquanto não há nada a temer de quem, julgando-se iluminado, sabido, esperto e superior aos demais, recorre a tão ridículos expedientes. Coitados, cuidando que encobrem a frustração e vergonha, expõem assim, em toda a nudez e na praça pública, a sua condição interior de derrotados!
Mas não ganham emenda. Por mais que o método seja repetido e seja identificado como anunciador do fracasso e suscitador de chacota e gozo, eles não aprendem. Não estão para aí virados. Nasceram para dar e não para receber lições. A arrogância e a soberba não lhes consentem o gesto da humildade. Por isso na próxima época vão subir a parada, aumentando e desdobrando ainda mais os coros e sons, os fumos e sinais com que anunciarão a todo o mundo a sua persistência na via para a derrocada. São mais que os outros, não havendo quem os iguale ou deles se aproxime; logo têm que fazer um alarido recrudescente, ocupar o espaço correspondente e gerar uma poluição crescente. Isto já lhes basta e dá imagem perfeita da sua dimensão e grandeza.
Jorge Olímpio Bento n' A Bola.
Sem comentários:
Enviar um comentário