O Porto está na rua. Quando se olhava a multidão, esmagadora, que encheu a noite com a festa do tetra, a frase sorria, com malícia, em muitos lábios. Mas, quem tem medo dos campeões? Na Praça da Liberdade, ninguém. E eram muitos milhares. A polícia deixou trepar andaimes, crescer à altura do autocarro aberto que tinha no topo os vencedores. Só não deixou cruzar a rampa do edifício da Câmara Municipal, frio e às escuras, fechado para o Porto que saiu à rua. O Infante D. Henrique, no início do percurso da consagração dos campeões, não se melindrou. Quando muito, estremeceu, à primeira explosão em redor da equipa de Jesualdo Ferreira, recém-chegada do Dragão. Mas, não virou a cara. Nem mesmo quando uma zaragata deixou um homem por terra e vários outros desesperados à espera de socorro. Não há quem nos acuda, nesta terra onde o 112 nem sempre está em condições de responder a uma emergência. Esta resolveu-se no hospital, e o caminho ficou livre para a maré azul e branca, que começara muito antes, no pôr do Sol do campeonato, no Dragão.
Há muito quem não queira ver a dimensão do sucesso portista - a Liga nem esperou o fim do campeonato para despachar o troféu e também aqui, como na Câmara Municipal, o representante máximo dispensou o espectáculo, mas não o cartaz a promover-se, na Alameda do Dragão. Talvez tudo isto seja mentira. A Alameda, por exemplo, é possível que só exista ao domingo. Porque ela é feita para descer assim, em passo de paz de domingo de manhã, com sol meigo e promessa de festa, lá ao fundo. Por lá desfila um FC Porto elegante. É claro que continuam a circular por ali os cromos e as figurinhas que elevam a paixão pelo clube a níveis que fazem sorrir, como o homem que veste a bandeira, o que inventa um dragão na caixa aberta da carrinha, ou ainda aqueles que fazem deste ambiente um negócio para ajudar à vida, que está tão difícil - não tanto, porém, que abdique dos preços de festa, que a candonga e os cachecóis do tetra (dois, cinco euros!) não se negam a ninguém; ou talvez seja simplesmente o vendedor que se contenta com pouco. Estão todos lá, pela Alameda, mas, os que passam os portões, são os outros, os adeptos que colocam o cachecol com elegância, os que, mais ou menos desportivos, vestem, invariavelmente, bem. O Dragão reflecte cada vez mais a distância que este clube tem para a realidade da cidade, do país, deste e doutros campeonatos. O que distingue o FC Porto é o que está reservado para depois do jogo com o Braga. É a presença nos Aliados, onde os portistas cabem todos, iguais na paixão, na alegria de sair à rua e ver os futebolistas transformados na claque maior: Hulk, um menino que muitos grandes clubes rejeitaram, por ser humilde nas raízes futebolísticas, ia ao leme da barca, e quase dá para jurar que o fenómeno tem pronúncia do Norte - pelo menos, sabe de cor os versos que melindram o rival da capital, de ouvidos sensíveis à rudeza do falar, à força da maré que subiu quatro campeonatos sem ceder, que cresce cada vez mais só - é o único emblema que resta da cidade, nos campeonatos profissionais. O Boavista caiu, ontem. Foi o último a quem a Câmara cedeu a varanda. Mas, há sempre os Aliados.
Mónica Santos n' O Jogo.
Há muito quem não queira ver a dimensão do sucesso portista - a Liga nem esperou o fim do campeonato para despachar o troféu e também aqui, como na Câmara Municipal, o representante máximo dispensou o espectáculo, mas não o cartaz a promover-se, na Alameda do Dragão. Talvez tudo isto seja mentira. A Alameda, por exemplo, é possível que só exista ao domingo. Porque ela é feita para descer assim, em passo de paz de domingo de manhã, com sol meigo e promessa de festa, lá ao fundo. Por lá desfila um FC Porto elegante. É claro que continuam a circular por ali os cromos e as figurinhas que elevam a paixão pelo clube a níveis que fazem sorrir, como o homem que veste a bandeira, o que inventa um dragão na caixa aberta da carrinha, ou ainda aqueles que fazem deste ambiente um negócio para ajudar à vida, que está tão difícil - não tanto, porém, que abdique dos preços de festa, que a candonga e os cachecóis do tetra (dois, cinco euros!) não se negam a ninguém; ou talvez seja simplesmente o vendedor que se contenta com pouco. Estão todos lá, pela Alameda, mas, os que passam os portões, são os outros, os adeptos que colocam o cachecol com elegância, os que, mais ou menos desportivos, vestem, invariavelmente, bem. O Dragão reflecte cada vez mais a distância que este clube tem para a realidade da cidade, do país, deste e doutros campeonatos. O que distingue o FC Porto é o que está reservado para depois do jogo com o Braga. É a presença nos Aliados, onde os portistas cabem todos, iguais na paixão, na alegria de sair à rua e ver os futebolistas transformados na claque maior: Hulk, um menino que muitos grandes clubes rejeitaram, por ser humilde nas raízes futebolísticas, ia ao leme da barca, e quase dá para jurar que o fenómeno tem pronúncia do Norte - pelo menos, sabe de cor os versos que melindram o rival da capital, de ouvidos sensíveis à rudeza do falar, à força da maré que subiu quatro campeonatos sem ceder, que cresce cada vez mais só - é o único emblema que resta da cidade, nos campeonatos profissionais. O Boavista caiu, ontem. Foi o último a quem a Câmara cedeu a varanda. Mas, há sempre os Aliados.
Mónica Santos n' O Jogo.
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