1 Segundo a opinião insuspeita e prestigiada de Cruz dos Santos, nada menos do que três jogadores do Benfica deveriam ter visto o cartão vermelho directo no jogo contra o Nacional da Taça da Liga, por agressões ou entradas violentas sobre os adversários. Mas não foram nem expulsos nem castigados a posteriori: o árbitro não viu, o CD não corrigiu, não houve sumaríssimo — sorte a deles! Também, segundo relato unânime, Miguel Veloso deveria ter sido expulso por agressão a um adversário, durante o Sporting-Braga: não só não foi expulso, como viria a marcar o golo da vitória. O árbitro não viu, o CD não corrigiu, não houve sumaríssimo: sorte a dele!
No túnel da Luz, o árbitro também não viu, mas o CD estava atento e, por isso, já lá vão três semanas e três jogos de suspensão prévia para Hulk e Sapunaru — nada de grave para quem, a fazer fé nos justiceiros, arrisca nada menos do que seis meses a seis anos de suspensão, por ter andado à pancada com uns seguranças (aliás, stewards, que é mais fino e soa mais a «agentes desportivos»). Não há pressa alguma. Enquanto o pau vai e não vem, folgam as costas... dos adversários. Ao fim de doze dias de suspensão prévia, A BOLA noticiava que as célebres imagens da Benfica-TV sobre o seu famigerado túnel «já» tinham chegado ao CD. O filme demorou doze dias a chegar de Lisboa ao Porto, porque, entretanto, andou em exibições privadas junto dos fiéis do costume, a fim de estabelecer a «verdade prévia» dos acontecimentos!
Entretanto, vi imagens em directo do túnel de Braga, no jogo com o Nacional: sem espanto, constatei que, tal como sucede nas imagens dos túneis dos jogos da Liga dos Campeões, não havia por lá segurança ou steward algum. Será que o túnel de Braga é menos perigoso que o túnel da Luz? Dizem-nos que no túnel da Luz já há seguranças desde 2004 — o que parece sugerir que, afinal, trata-se de um costume e não propriamente de uma disposição regulamentar. Em vão, perguntei aqui se me poderiam esclarecer qual a lei ou regulamento que permitiu aos seguranças do Benfica estarem no túnel, misturados com os jogadores. Não obtive resposta, mas, ao ler que o Benfica será multado na astronómica quantia de 2500 euros pelo facto de eles lá estarem, concluí, logicamente, que eles não podiam lá estar. E, se não podiam lá estar, as coisas ficam feias para o CD: «agentes desportivos» em local proibido? E a fazer o quê — simplesmente caladinhos e quietos, a deixarem-se agredir, sem razão nem motivo, por uma horda de jogadores adversários?
2 Como já devem ter percebido os nossos adversários, tocou a reunir, no Porto. É sempre assim, quando sentimos o inconfundível cheiro dos abutres. Nestas alturas, esquecem-se divergências e discordâncias, pois todos sabemos o trabalho e os sacrifícios que foram precisos para trazer o clube até aqui, até ao lugar que hoje ele ocupa por mérito próprio: não apenas o do melhor e mais prestigiado clube português de futebol, mas também um dos nomes que mais fez por Portugal no mundo. Para o conseguir foi necessário reunir as forças de todos para derrotar a mais extraordinária coligação de medíocres e invejosos que o país já produziu. Porque em Portugal, quando alguém se destaca pelo seu valor ou pelo seu esforço, a reacção da turba não é a de tentar aprender com ele e imitá-lo, muito menos a de lhe reconhecer o mérito: é sim, o de caluniar e tentar manchar o êxito que eles próprios não alcançam. Por alguma razão somos, desde há dois séculos, pelo menos, uma história de sucessivos fiascos — o «país eternamente adiado», de que falava Ramalho Eanes. Mas o FC Porto não se adiou, não ficou à espera que o êxito lhe caísse do céu: foi duas vezes campeão do mundo de clubes (onde só se chega, convém recordá-lo, depois de ser campeão da Europa). Tirando o Nobel de José Saramago, há mais algum português, alguma empresa ou instituição portuguesa, que tenha alguma vez sido reconhecido como o melhor do mundo, em determinado ano?
Por isso, quando, na quinta-feira à noite, recebi uma mensagem de um benfiquista dizendo «o Pinto da Costa passou-se da cabeça!», antes mesmo de saber o que teria dito o presidente do FC Porto, pensei para comigo: «Ainda bem, já era tempo de passarmos ao ataque!». Já chega de escutar em silêncio o discurso dos calimeros e das aves de rapina da paz! E, se alimentaram a esperança de nos encontrar divididos no essencial, é porque não nos conhecem, não aprenderam nada.
3 Entretanto, no campo de jogo, propriamente dito, fui olhando, distraidamente, para os três primeiros jogos da sequência de jogos fáceis que o FC Porto tinha pela frente, entre o Natal e meados de Janeiro: em campo neutro contra a Oliveirense para a Taça, e depois três jogos caseiros contra equipas acessíveis, um para a Taça da Liga, dois para o campeonato. Excelente ocasião para Jesualdo Ferreira mostrar a segunda linha da equipa: os miúdos dos juniores e os argentinos de reserva. O resultado foi fraco, bastante fraco: não há ali ninguém que esteja à altura de, em caso de necessidade repentina, ser chamado à primeira equipa. Os miúdos, que tão mal aproveitados têm sido por Jesualdo (servem para ser chamados aos treinos da equipa principal de vez em quando e depois serem emprestados e perderem-se no vazio), não justificam o tão propalado investimento na formação. Num clube que investe a sério nas camadas jovens, pelo menos um ou dois jogadores devem aparecer todos os anos na equipa principal. Quantos aparecerem no FC Porto nos últimos anos? Quantos jogadores da cantera portista estão actualmente entre os 18 mais utilizados?
Também não admira, visto que eles são sistematicamente tapados pelas sucessivas ondas de sul-americanos. E essa foi a segunda decepção que esta série de três jogos fáceis confirmou: dos três argentinos contratados este ano para o meio-campo (Belluschi, Valeri e Prodiger) nenhum se aproveita. Servem para fazer número, tal como Tomás Costa e Guarín. De todos, só Belluschi consegue ser um quase bom jogador: remata bem, mas raramente; finta bem, mas só o primeiro; passa bem, mas só de vez em quando. Ainda agora se especula com os nomes de mais três argentinos, que viriam por troca com Bollati (outro falhanço) e Farías (idem aspas). Todos jovens, todos semi-desconhecidos, todos argentinos — como se só os argentinos soubessem jogar futebol.
E, todavia, ainda este fim-de-semana, vendo jogar o Rúben Micael, pelo Nacional, constatei como é fácil, afinal, distinguir um bom jogador de um jogador de catálogo: a pose, o estilo, a técnica, a visão de jogo, a noção de criatividade e objectividade simultaneamente, a coragem de assumir riscos. É jovem, é já grande jogador reconhecido por todos, marca golos, é português e não precisa de intermediário para ser contratado: são demasiados defeitos, quando comparado com um argentino qualquer. É verdade que Rui Alves pede por ele 5 milhões. Mas, lembram-se quanto custou, por exemplo, o Prodiger? 4,2 milhões. E o Pelé, ainda se lembram? 7 milhões.
Caiu bem a promessa de Pinto da Costa de oferecer este campeonato a Pedroto. Mas, com este meio-campo, duvido que a promessa possa ser cumprida. É verdade que finalmente o Raul Meireles parece estar a subir de forma, mas o Fernando está uma sombra da época passada, faltoso e desastrado a passar a bola, como ainda agora se viu contra a União de Leiria. E, ao lado deles, não há ninguém, só uns argentinos de ocasião, que vão alternando a titularidade entre si, dando sempre a desagradável sensação de ainda não terem percebido muito bem onde estão. Pode ser que eu me engane e que algum deles ainda se faça jogador — mas duvido que ainda a tempo deste campeonato. (E, a propósito, queria dizer ao internauta portista que me acusa de contradição porque eu teria defendido a saída do Alan, que, pelo contrário e apesar de não o achar um extraordinário jogador, critiquei aqui a sua «doação» ao Sporting de Braga — numa altura, aliás, em que Jesualdo resolveu desfazer-se de todos os extremos que tinha).
4 Ah, e devia também responder ao José Diogo Quintela! Mas vale a pena responder a alguém que acha que o «testemunho» de Carolina Salgado vale mais do que a opinião de três juízes de instrução e seis juízes de julgamento? E que continua a argumentar como se fosse tudo uma questão de opinião e a sua valesse mais do que as sentenças dos tribunais? Espero bem que se ofereça como testemunha da Dª Carolina, quando ela tiver de responder em juízo pelo crime de perjúrio de que está acusada por um juiz...
Miguel Sousa Tavares n' A Bola.
1 comentário:
olá Ana. só um pequeno reparo porque notei que o link para os feeds do meu blog não estão correctamente especificados. se pudesses corrigir, agradecia!
e por favor continuem a publicar os artigos do MST do Rui Moreira, é neste blog que os leio todas as semanas :)
cumprimentos,
Jorge
Porta19
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