PARA além das muitas razões que o FC Porto tem da arbitragem, CD da Liga, renascimento de poderes que já adulteraram a verdade desportiva e branqueamento dessas situações, é inegável que a equipa é, por ora, incapaz de atingir com consistência os níveis de competência que lhe são exigidos não só pela concorrência (como se reflecte nos resultados), mas também pelos adeptos (como se comprova pelas bancadas vazias).
Recordar e exaltar a memória de Pedroto ajuda a compreender o tempo presente. O grande treinador e, a par de Pinto da Costa, ideólogo do renascimento portista, sabia que, em regra, o FC Porto era prejudicado pela arbitragem e reclamava sempre que isso acontecia; mas explicava que para ganhar era preciso ter os melhores jogadores.
Ora, quando hoje vemos os titulares e as reservas, perguntamo-nos se o FC Porto, apesar de ter o plantel mais caro, ainda terá os melhores jogadores. Há que fazer um diagnóstico justo e reconhecer que se o clube tem tido o realismo de vender bem os seus melhores activos, também é normal que, cada vez que isso acontece, seja preciso algum tempo para reconstruir a equipa. Mas, essa realpolitik, de que depende a sustentabilidade, deveria ser compensada pelo projecto Visão 611, um plano de formação e promoção de jovens que deveria, a prazo, reduzir os custos salariais. É que, até 2004, o FC Porto ganhara gastando menos que os adversários, mas vivia-se um tempo em que as vitórias dependiam de um orçamento que não era perpetuável.
Mas continuou-se a gastar mais do que a concorrência, ao passo que parte das mais-valias realizadas foi sangrada pela contratação de jogadores piores e de custo elevado. É lícito, por isso, que se pergunte como é que com a rede de scouting que descobre Valeri e Prediguer é preciso desviar Falcao e Álvaro da Luz. É razoável questionar se vale a pena continuar a apostar nas camadas jovens, se nem os melhores merecem a confiança do treinador entre as reservas utilizadas na Taça da Liga. É legítimo questionar se, este ano, houve um erro nas contratações que falharam, ou se não estão a ser aproveitadas.
É isto que aflige o adepto comum que, para além de verberar os roubos de catedral (que prejudicam a classificação mas ajudam a unir a família portista, como se viu na forma como a equipa foi aplaudida depois de um empate caseiro), também quer mais classe, ambição e qualidade e começa a temer que não haja tempo útil para o desejado crescimento da equipa, que só Jesualdo parece vislumbrar.
Agora, com o presidente a assumir publicamente as rédeas e a falar curto e grosso, com Rúben Micael como reforço do sector mas frágil da equipa, espera-se que o treinador consiga transmitir confiança e engendrar uma solução que permita disputar o campeonato até ao fim. O campeonato não está perdido, mas precisamos, urgentemente, de um Porto à moda de Pedroto.
Guerra de palavras
FERNANDO GUERRA está preocupado com o aperto financeiro do FC Porto e com a coerência de Pinto da Costa. Aflige-se com a cara contratação de Rúben Micael. Não saberá que o clube vendeu bem a sua parte no passe de Bolatti, e que, com base no segredo que a Liga guarda mas que A BOLA revelou, há quem garanta que Jesualdo vai ficar inibido de utilizar cinco dos titulares que, em vez de fazerem como Luisão, à vista de todos e protegidos por um conveniente cartão amarelo, terão dado uns pontapés no escuro do túnel a um inocente agente desportivo. Claro: o que Pinto da Costa devia fazer era calar-se, acatar, não contratar. Vivemos uma época que parece retirada do arquivo da RTP Memória.
As nomeações
PELOS vistos, Vítor Pereira está contente com Lucílio Baptista e com a sua prestação na Luz. Assim se entende que lhe tenha confiado o jogo que o Braga disputou em Coimbra. E estará também contente como 4.º árbitro na Luz que, depois de ter arbitrado o jogo da Taça da Liga envolvendo o FC Porto, foi agora apitar o Marítimo-Benfica. As duas arbitragens foram polémicas, mas mesmo que não o tivessem sido, continuaria a discutir o critério de nomeações, porque a suspeita não precisa de novos rastilhos. Dizia-se, dantes, que na dúvida os grandes eram sempre beneficiados. Agora que o «Benfica é Portugal», parece ser o único clube com esses estatuto, e não apenas para os senhores do apito.
Nevoeiro encarnado
TODOS concordam que Fernando desviou a bola com a mão no jogo com o U. Leiria, e com o penalty que poderia ter custado pontos ao FC Porto. Mas quando se trata de avaliar a mão de Maxi Pereira, que a deixa para trás e assim desvia a bola, o lance é ignorado porque se viu que não houve intencionalidade. Pior, só os foras-de-jogo assinalados ao FC Porto, através de um novo critério que impede os seus jogadores portistas de jogarem à queima. Depois, ainda se admiram por os jogadores portistas olharem desconfiados para o assistente, antes de celebrarem. Tudo isto se passa em claro-escuro, excepto as claríssimas ofensas de Oberdan e a mão de Falcao, que são indiscutíveis para alguns…
À deriva
EM Belém, num jogo frente ao último classificado da Liga, o FC Porto ganhou sem merecimento. A roleta da sorte que tudo decidiu sorriu a Jesualdo, quando Beto se redimiu fechando a porta aos adversários. Mas viu-se que a equipa está doente, muito doente. Assim se entende a forma como os seus penalties foram, em muitos casos, mal marcados. O que custa a perceber, neste jogo, é que, se oferecessem ao FC Porto todos os jogadores adversários a custo zero, e muitos eram jovens e inexperientes, nenhum deles teria lugar no plantel. E isso deve-nos fazer pensar se o plantel é o cerne da questão, se o crescimento da equipa está emperrado, ou se o problema é mais simples e de natureza diversa.
Rui Moreira n' A Bola.
Sem comentários:
Enviar um comentário