TAL como no desajustado mundo da política, o do futebol tem os seus rabos de palha, as suas conveniências, dislates, coincidências, interesses comerciais e palermices — tudo junto também é possível arranjar-se. Num mundo ideal, estas coisas diluíam-se dentro das quatro linhas, a jogar à bola, com laterais rápidos, centrais portentosos e pontas-de-lança, digamos, com sentido de oportunidade. Ai de nós; o futebol só a espaços se joga nos relvados. Não porque haja falta deles (somos, provavelmente, um dos países com mais concentração de estádios de futebol da União Europeia), mas porque conveniências, dislates, coincidências e interesses comerciais se unem em conciliábulo para promover patetas e canalhas a «uma espécie de gente». Esta «espécie de gente» tomou conta do futebol por causa do poder que ele transporta para todo o lado. Um dia, havemos de festejar os jogos das distritais — e mesmo esses, olha lá.
Tudo se havia de harmonizar se houvesse justiça desportiva a sério e não um arremedo de «tribo disciplinar» muito entretida a negociar favores, promovendo conveniências, dislates, coincidências, interesses comerciais e palermices.
Não, não me assusta o clima de guerra aberta instalado na bola. É normal e faz parte do cenário. O país não merece mais — e não me consta que haja países subdesenvolvidos em que a tentativa de transformar o futebol em merda não resulta. Resulta sempre. Bom proveito é o que lhes desejo. Lá se arranjem.
A bola, finalmente. A bola, bola: o meu FC Porto desenvencilhou-se contra um Estoril aguerrido e decente. Não sei se se desenvencilhará na próximas partidas, enquanto a equipa não apresentar armas à chamada. Ilibo Jesualdo, à partida – e não peciso de citar Freud nem Clausevitz ou Maquiavel. Há momentos em que a guerra é a guerra e só essa me interessa. Jogo, jogo puro, golos, laterais rápidos, avançados oportunos e centrais portentosos. Quem gosta de futebol, gosta desse jogo. Estou à espera, de cachecol na mão.
Francisco José Viegas n'A Bola.
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