sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Uma historieta sórdida


A historieta do túnel vai fazer correr muita tinta. Haverá, agora, imagens nítidas, de câmaras que só são cegas por conveniência e envolverão outros jogadores portistas, para além dos que estão suspensos. É evidente que houve uma armadilha bem urdida, já que houve provocações dirigidas a Reinaldo Teles ainda antes do início do jogo. Seria impensável que os jogadores dirigissem a sua ira a uma pessoa em particular, sem que tivesse havido forte agravo. Nada disso é novidade no túnel da Luz e só admira que a experiência do FC Porto não tenha conseguido precaver e impedir o sucedido.
Ofereceu-se, assim, mais um pretexto ao presidente do CD da Liga, que tem averbado sucessivas derrotas nos tribunais e, agora, até nas instâncias desportivas. Também me pergunto se este caso não explica o insólito pedido revogatório que Ricardo Costa apresentou contra a decisão unânime do CJ da FPF quanto ao recurso de Rui Cerqueira, que desfez a sentença da CD da Liga. Admira-me, aliás, que os seus encarniçados defensores, que tantas vezes o louvaram por entender que a justiça desportiva deve prevalecer e não se deve submeter à justiça comum, não questionem a sua irredutibilidade em não respeitar sequer a sacrossanta justiça desportiva. O dr. Costa tem uma presunção que o impede de aceitar decisões que não sejam as suas. Não as acata, sequer, mesmo que para isso precise de se socorrer de singulares figuras processuais sem suporte ou fundamento jurídico para tentar sustentar, contra tudo e contra todos, as suas opiniões. Conhecem-se os seus tiques, percebe-se o mote da sua entrevista.

Mas, neste caso, se o processo disciplinar ao Benfica pela conduta dos assistentes desportivos após o jogo na zona de acesso ao balneário comprova que a sua presença no local era proibida, então esses assistentes nunca poderão ser considerados como «intervenientes no jogo com direito de acesso ou permanência no recinto» para os efeitos no disposto no nr.º 115 do RD da Liga, ao contrário da interpretação que a participação apresentada contra os atletas quer fazer vingar. Não apenas porque estavam num local que lhes estava vedado, mas também por uma questão a montante desta: é que eles não são sequer «intervenientes no jogo». Esses resumem-se aos que, directa ou indirectamente, participam, determinam ou avaliam a conformidade do seu resultado. Jamais o serão os meros vigilantes de recinto, alheios ao desfecho desportivo e ao serviço e sob as instruções e direcção do clube organizador do espectáculo. De outra forma, estaria aberta a porta a que qualquer hooligan investido de colete pudesse provocar a prática de uma infracção desportiva, para benefício do seu patrão. O que eventualmente sucedeu, em limite, poderá configurar um caso de polícia, envolvendo jogadores de cabeça quente e capangas de colete, mas jamais a pretendida infracção disciplinar desportiva.


Sem desculpas
NÃO branqueio a violência, mas não crucifico os atletas. Tinham perdido o jogo, prejudicados pelo árbitro e falhado o seu objectivo; tinham sido apupados, insultados e cuspidos; tinham sido atingidos por objectos lançados da bancada e viram a intimidação a um seu dirigente. No túnel, em vez de protecção, havia provocadores amestrados. O que faltou foi autoridade e quem deitasse a água na fervura. Por isso, este caso deve servir para que a estrutura do FC Porto medite no que falhou e prepare a defesa dos seus atletas, em vez de recorrer à inútil vitimização que tem sido a arma favorita dos seus adversários. Na hora certa, será preciso que não se cale e denuncie tudo aquilo que tem sucedido.

Vinte e cinco anos
JOSÉ MARIA PEDROTO desapareceu há vinte e cinco anos. O FC Porto recordou-o, ontem, com uma justa e sentida homenagem. Foi com Pedroto que desapareceu o medo de atravessar a ponte da Arrábida. Foi com ele que Pinto da Costa proferiu o seu grito de revolta contra o status quo, abanando as hostes portistas, propondo primeiro e depois provando que a derrota não era o destino fatal do clube. Foi Pedroto quem fez as primeiras escolhas, quem construiu as equipas guerrilheiras, preferindo os combatentes aos artistas. Mestre do futebol, gestor de homens e de recursos, Pedroto é, a par de Pinto da Costa, uma das figuras inesquecíveis e irreplicáveis, no glorioso historial do FC Porto.

Taça Lucílio Baptista
A Taça da Liga é uma vergonha. Sabe-se que o andor anda por aí, que o Benfica vai sendo levado ao colo com o compadrio de toda a estrutura do futebol e o silêncio cúmplice de muita gente. Há muito que os campos não estavam tão inclinados. Ainda assim, a calabotagem a que se assistiu no jogo entre Benfica e Nacional foi grotesca. Uma competição cujas regras são alteradas anualmente, e sempre com erros de palmatória, em que se sucedem jogos em que os árbitros são mais influentes no seu desfecho do que os melhores jogadores sem que isso afecte a sua classificação, não tem grande futuro. Mais vale acabar de uma vez com a farsa e atribuir ao Benfica o troféu perpétuo desta prova.

Pai Natal e futebol
EM Inglaterra, a festa natalícia inclui o futebol. No Boxing Day, o feriado que se segue ao dia de Natal, as famílias acorrem aos estádios. Os bilhetes disponíveis esgotam-se com grande antecedência, e são uma das prendas favoritas que as crianças pedem ao Pai Natal. Em Portugal, o futebol aproveita essa ocasião e entra de férias. Talvez seja melhor assim porque, com a fraca qualidade dos nossos jogos, só uma criança muito mal comportada mereceria tal triste presente. O nosso futebol vai de mal a pior, as assistências são, na maior parte dos jogos, ridículas, o campeonato parece a torre de Babel, com um número incompreensível de estrangeiros de valor duvidoso. A FPF, essa, dorme sossegada.

Rui Moreira n' A Bola.

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