"Há meio País a fazer força para que o FC Porto não seja campeão"
Uma mensagem de confiança absoluta. Na conversa que teve com O JOGO, em jeito de introdução a 2008, o treinador bicampeão fala dos jogadores, do campeonato e até da Champions com um optimismo inabalável, talvez até surpreendente, mas coloca o foco sobre a compreensão que entende ainda faltar a respeito do que realmente é o FC Porto neste momento: uma equipa em perpétua formação
Entre o balanço do ano que acabou e a projecção do ano que começa, Jesualdo Ferreira prefere o futuro, até porque não tem o hábito de "olhar para trás" embora seja aí que normalmente encontra os adversários. E, negando o pessimismo generalizado, o treinador do FC Porto olha com confiança para 2009. É lá que espera terminar a construção da sua equipa, depois de já ter ganho os jogadores que precisava para as fundações. De resto, também é lá que espera festejar a Taça, a Taça da Liga e o seu terceiro campeonato consecutivo, apesar da resistência que sente no ar à ideia de um tetracampeão azul-e-branco. Uma entrevista tranquila e desassombrada, dada no coração do Porto entre dois cafés servidos no bar do renovado Vitalis Park, antigo Campo da Constituição, onde o entusiasmo dos miúdos da formação do FC Porto dão razão ao optimismo de Jesualdo Ferreira no futuro.
Já tem saudades de 2008, ou está ansioso por 2009?
Não tenho por hábito olhar para trás, portanto, o que me interessa agora é olhar com confiança para 2009 que é quando vamos retomar o nosso percurso nas quatro frentes em que estamos envolvidos. Temos consciência de que somos candidatos às quatro provas que existem no nosso calendário: Liga dos Campeões, Liga, Taça da Liga e Taça de Portugal. Somos o único clube em Portugal nessas condições e, portanto, o que está para trás já é passado e aquilo que nos interessa neste momento são os cinco meses de 2009 que nos faltam para terminar uma época que, para já, nos proporcionou a possibilidade de atingirmos um dos nossos objectivos que era chegar aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. De resto, estamos posicionados em todas as competições de maneira a podermos discutir as vitórias finais. Mas foi um trajecto difícil até aqui chegarmos. Pelo menos, aquele que percorremos durante a primeira parte desta nova temporada. De Janeiro até Maio de 2008, em contrapartida, tivemos apenas dois percalços: um foi a derrota justa na final da Taça de Portugal e a saída injusta nos oitavos-de-final da Champions frente ao Schalke 04. De resto, vencer a Liga com 20 pontos de vantagem foi uma demonstração de poderio e de pujança que não deu margem para dúvidas.
Esta temporada, em contrapartida tem sido bem mais complicada, nomeadamente com a necessidade de reconstruir a equipa...
Sim, iniciámos a construção de uma nova equipa com a entrada de vários jogadores que projectam o FC Porto como um clube que tem uma filosofia clara: é um clube formador. E é um clube formador porque tem jogadores nas áreas de projecção e formação, mas também é um clube formador na equipa principal. Termos a humildade de reconhecê-lo é a única forma de podermos evoluir. No mercado actual quem não tiver capacidade para formar e tirar partido dessa formação quer a nível desportivo, quer financeiro, não tem futuro.
Mas não preferia ter a possibilidade de ter jogadores completamente formados?
Não e por vários motivos. Porque nenhum jogador formado teria facilidades para chegar ao FC Porto e jogar de imediato, assumindo a filosofia, o processo e os princípios de jogo do FC Porto. Acho que é mais fácil fornecermos esses dados a jogadores novos, com potencial e com qualidade. Por outro lado, os atletas completamente formados com qualidade e capacidade para se imporem de imediato, esses estão muito para além das capacidades financeiras do FC Porto. Que fique claro, então, que o FC Porto é um clube formador, como demonstra a aproximação do plantel principal à equipa de Sub-19 e a criação por nossa iniciativa da Liga Intercalar. Aliás, atendendo à dimensão do nosso mercado, não vejo muito bem que outra forma o FC Porto tenha de competir com as grandes potências mundiais com as quais se confronta na Liga dos Campeões.
Neste momento, já se percebe uma forma definida no onze e a equipa até já igualou alguns recordes do passado recente. O FC Porto já amadureceu ou está a meio do processo?
Acredito que esta equipa ainda está à procura de uma identidade. Se é verdade que se percebe que já há aqui uma equipa na linha das que a antecederam, também se percebe que está diferente. Não necessariamente para melhor ou para pior, mas está diferente.
Em quê?
É uma equipa que perdeu alguma profundidade ao nível do jogo exterior, perdeu também alguma capacidade para gerir o jogo em relação ao ano anterior, mas em compensação é uma equipa com muito mais potência do que a anterior. É uma equipa que não defende tão bem como a anterior, e não me estou a referir apenas à defesa, mas a toda a equipa. Mas esta equipa não está a defender tão bem como a outra por questões que têm a ver com a adaptação de alguns jogadores e com o enquandramento dos equilíbrios defensivos, que ainda não estão perfeitamente alcançados. É uma equipa que, pela sua potência e capacidade de aceleração do jogo, quando conseguirmos que ela toda o faça em uníssono, acredito que será tão ou mais eficaz do que a equipa do ano passado.
Disse que já há quem tenha medo que o FC Porto ganhe outro título. A quem se referia? Aos adversários ou aos críticos?
É preciso esclarecer isso. Alguém disse que eu endureci o meu discurso e que apontava baterias a quem me criticava. Não é nada disso. Ou eu me calo e não respondo às perguntas que me fazem, ou se responder, tenho de ser sério, não posso estar com meias palavras. E assim, ao fim destes quase três anos de FC Porto, percebo que é mais difícil recolher críticas positivas aqui do que noutros clubes. Também percebo que, aqui, para ter reconhecimento e merecer críticas positivas, temos de ganhar muitas vezes seguidas, demonstrando a nossa capacidade para lá de qualquer dúvida razoável ou, às vezes, nada razoável. Em caso de dúvida, o FC Porto, o seu treinador e os seus jogadores são criticados. Apenas quando a qualidade é demasiado evidente, quando os resultados não deixam margem para dúvidas, apenas nessa altura é que pronto, vá lá, com algum esforço, se reconhece qualidade e mérito a esta equipa. E não me digam que não sei do que falo e que não conheço quem são as pessoas que estão na comunicação social. Somos gente que se conhece.
Sente que a crítica prefere os maus momentos do FC Porto aos bons momentos?
Sem dúvida e vou mais longe: numa determinada altura desta temporada, o facto de o FC Porto estar mal deu muito jeito e serviu para esconder outras coisas. Quando a equipa começou a ficar melhor, começou a ser um pouco mais aborrecida e eu passei a ser um treinador agressivo. Porque quando perco, até sou um tipo simpático.
Sente que há uma pressão especial este ano na corrida pelo título pelo facto de haver só uma vaga para a Liga dos Campeões?
É evidente que anda meio País a fazer força para que o FC Porto não seja campeão. Não sei se é cansaço pelos três títulos do FC Porto, não sei se é por haver só um lugar na Champions, não sei se é porque se fizeram investimentos demasiado ambiciosos ou se é porque algumas pessoas novas têm qualquer coisa para provar, mas sei que há aquilo que posso descrever como uma grande preocupação com a necessidade de alternância democrática no primeiro lugar.
Disse que o FC Porto está em todas as frentes, mas há responsabilidades diferentes em frentes diferentes, não é assim?
Claro que sim. Sabemos exactamente quais os objectivos que devemos atingir em cada uma delas. O campeonato, como sempre, é a nossa meta mais importante. Foi sempre importante sermos campeões nos últimos três anos e isso não mudou...
E o FC Porto é favorito ao título?
É pelo menos tão favorito como os outros e tem um trunfo importante nas mãos: depende apenas de si próprio para o conseguir. Serão as nossas competências a ditar o campeão e isso dá-nos alguma tranquilidade porque confiamos muito no nosso trabalho.
Tinha dito que queria terminar 2008 na frente do campeonato, mas não o conseguiu. Qual é o novo prazo?
Acredito que 24 de Maio, salvo erro. É nessa altura, no final do campeonato, que queremos ser primeiros.
Entrevista de Jorge Maia, n' O Jogo.
Uma mensagem de confiança absoluta. Na conversa que teve com O JOGO, em jeito de introdução a 2008, o treinador bicampeão fala dos jogadores, do campeonato e até da Champions com um optimismo inabalável, talvez até surpreendente, mas coloca o foco sobre a compreensão que entende ainda faltar a respeito do que realmente é o FC Porto neste momento: uma equipa em perpétua formação
Entre o balanço do ano que acabou e a projecção do ano que começa, Jesualdo Ferreira prefere o futuro, até porque não tem o hábito de "olhar para trás" embora seja aí que normalmente encontra os adversários. E, negando o pessimismo generalizado, o treinador do FC Porto olha com confiança para 2009. É lá que espera terminar a construção da sua equipa, depois de já ter ganho os jogadores que precisava para as fundações. De resto, também é lá que espera festejar a Taça, a Taça da Liga e o seu terceiro campeonato consecutivo, apesar da resistência que sente no ar à ideia de um tetracampeão azul-e-branco. Uma entrevista tranquila e desassombrada, dada no coração do Porto entre dois cafés servidos no bar do renovado Vitalis Park, antigo Campo da Constituição, onde o entusiasmo dos miúdos da formação do FC Porto dão razão ao optimismo de Jesualdo Ferreira no futuro.
Já tem saudades de 2008, ou está ansioso por 2009?
Não tenho por hábito olhar para trás, portanto, o que me interessa agora é olhar com confiança para 2009 que é quando vamos retomar o nosso percurso nas quatro frentes em que estamos envolvidos. Temos consciência de que somos candidatos às quatro provas que existem no nosso calendário: Liga dos Campeões, Liga, Taça da Liga e Taça de Portugal. Somos o único clube em Portugal nessas condições e, portanto, o que está para trás já é passado e aquilo que nos interessa neste momento são os cinco meses de 2009 que nos faltam para terminar uma época que, para já, nos proporcionou a possibilidade de atingirmos um dos nossos objectivos que era chegar aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. De resto, estamos posicionados em todas as competições de maneira a podermos discutir as vitórias finais. Mas foi um trajecto difícil até aqui chegarmos. Pelo menos, aquele que percorremos durante a primeira parte desta nova temporada. De Janeiro até Maio de 2008, em contrapartida, tivemos apenas dois percalços: um foi a derrota justa na final da Taça de Portugal e a saída injusta nos oitavos-de-final da Champions frente ao Schalke 04. De resto, vencer a Liga com 20 pontos de vantagem foi uma demonstração de poderio e de pujança que não deu margem para dúvidas.
Esta temporada, em contrapartida tem sido bem mais complicada, nomeadamente com a necessidade de reconstruir a equipa...
Sim, iniciámos a construção de uma nova equipa com a entrada de vários jogadores que projectam o FC Porto como um clube que tem uma filosofia clara: é um clube formador. E é um clube formador porque tem jogadores nas áreas de projecção e formação, mas também é um clube formador na equipa principal. Termos a humildade de reconhecê-lo é a única forma de podermos evoluir. No mercado actual quem não tiver capacidade para formar e tirar partido dessa formação quer a nível desportivo, quer financeiro, não tem futuro.
Mas não preferia ter a possibilidade de ter jogadores completamente formados?
Não e por vários motivos. Porque nenhum jogador formado teria facilidades para chegar ao FC Porto e jogar de imediato, assumindo a filosofia, o processo e os princípios de jogo do FC Porto. Acho que é mais fácil fornecermos esses dados a jogadores novos, com potencial e com qualidade. Por outro lado, os atletas completamente formados com qualidade e capacidade para se imporem de imediato, esses estão muito para além das capacidades financeiras do FC Porto. Que fique claro, então, que o FC Porto é um clube formador, como demonstra a aproximação do plantel principal à equipa de Sub-19 e a criação por nossa iniciativa da Liga Intercalar. Aliás, atendendo à dimensão do nosso mercado, não vejo muito bem que outra forma o FC Porto tenha de competir com as grandes potências mundiais com as quais se confronta na Liga dos Campeões.
Neste momento, já se percebe uma forma definida no onze e a equipa até já igualou alguns recordes do passado recente. O FC Porto já amadureceu ou está a meio do processo?
Acredito que esta equipa ainda está à procura de uma identidade. Se é verdade que se percebe que já há aqui uma equipa na linha das que a antecederam, também se percebe que está diferente. Não necessariamente para melhor ou para pior, mas está diferente.
Em quê?
É uma equipa que perdeu alguma profundidade ao nível do jogo exterior, perdeu também alguma capacidade para gerir o jogo em relação ao ano anterior, mas em compensação é uma equipa com muito mais potência do que a anterior. É uma equipa que não defende tão bem como a anterior, e não me estou a referir apenas à defesa, mas a toda a equipa. Mas esta equipa não está a defender tão bem como a outra por questões que têm a ver com a adaptação de alguns jogadores e com o enquandramento dos equilíbrios defensivos, que ainda não estão perfeitamente alcançados. É uma equipa que, pela sua potência e capacidade de aceleração do jogo, quando conseguirmos que ela toda o faça em uníssono, acredito que será tão ou mais eficaz do que a equipa do ano passado.
Disse que já há quem tenha medo que o FC Porto ganhe outro título. A quem se referia? Aos adversários ou aos críticos?
É preciso esclarecer isso. Alguém disse que eu endureci o meu discurso e que apontava baterias a quem me criticava. Não é nada disso. Ou eu me calo e não respondo às perguntas que me fazem, ou se responder, tenho de ser sério, não posso estar com meias palavras. E assim, ao fim destes quase três anos de FC Porto, percebo que é mais difícil recolher críticas positivas aqui do que noutros clubes. Também percebo que, aqui, para ter reconhecimento e merecer críticas positivas, temos de ganhar muitas vezes seguidas, demonstrando a nossa capacidade para lá de qualquer dúvida razoável ou, às vezes, nada razoável. Em caso de dúvida, o FC Porto, o seu treinador e os seus jogadores são criticados. Apenas quando a qualidade é demasiado evidente, quando os resultados não deixam margem para dúvidas, apenas nessa altura é que pronto, vá lá, com algum esforço, se reconhece qualidade e mérito a esta equipa. E não me digam que não sei do que falo e que não conheço quem são as pessoas que estão na comunicação social. Somos gente que se conhece.
Sente que a crítica prefere os maus momentos do FC Porto aos bons momentos?
Sem dúvida e vou mais longe: numa determinada altura desta temporada, o facto de o FC Porto estar mal deu muito jeito e serviu para esconder outras coisas. Quando a equipa começou a ficar melhor, começou a ser um pouco mais aborrecida e eu passei a ser um treinador agressivo. Porque quando perco, até sou um tipo simpático.
Sente que há uma pressão especial este ano na corrida pelo título pelo facto de haver só uma vaga para a Liga dos Campeões?
É evidente que anda meio País a fazer força para que o FC Porto não seja campeão. Não sei se é cansaço pelos três títulos do FC Porto, não sei se é por haver só um lugar na Champions, não sei se é porque se fizeram investimentos demasiado ambiciosos ou se é porque algumas pessoas novas têm qualquer coisa para provar, mas sei que há aquilo que posso descrever como uma grande preocupação com a necessidade de alternância democrática no primeiro lugar.
Disse que o FC Porto está em todas as frentes, mas há responsabilidades diferentes em frentes diferentes, não é assim?
Claro que sim. Sabemos exactamente quais os objectivos que devemos atingir em cada uma delas. O campeonato, como sempre, é a nossa meta mais importante. Foi sempre importante sermos campeões nos últimos três anos e isso não mudou...
E o FC Porto é favorito ao título?
É pelo menos tão favorito como os outros e tem um trunfo importante nas mãos: depende apenas de si próprio para o conseguir. Serão as nossas competências a ditar o campeão e isso dá-nos alguma tranquilidade porque confiamos muito no nosso trabalho.
Tinha dito que queria terminar 2008 na frente do campeonato, mas não o conseguiu. Qual é o novo prazo?
Acredito que 24 de Maio, salvo erro. É nessa altura, no final do campeonato, que queremos ser primeiros.
Entrevista de Jorge Maia, n' O Jogo.
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