Foi em Aveiro que André Villas-Boas conquistou o primeiro troféu e, no regresso, volta a encontrar João Ferreira, o árbitro da Supertaça que, na altura, o treinador portista criticou. Arbitragem foi, de resto, tema nuclear da conferência de ontem.
Tendo em conta o jogo da Taça da Liga, que tipo de adversário espera?
Espero um jogo completamente diferente. O Beira-Mar jogou com apenas um jogador dos mais utilizados. Será uma alteração completa, em termos individuais e colectivos. Não sei que tipo de ambição têm em termos de classificação, mas o objectivo da manutenção está mais perto. Uma equipa que teve os resultados que teve com o Braga, Guimarães e Sporting, e que fez a exibição que fez com o Benfica, vai proporcionar-nos um desafio extremamente difícil. Queremos manter a vantagem para o segundo classificado num jogo em que o estímulo e o desafio serão completamente diferentes.
O que representa o regresso de Cristian Rodríguez à convocatória?
O Cristian mostrou-se muito competitivo desde que recuperou da lesão. Teve uma ligeira paragem, de dois ou três dias, porque estava a sentir algum desconforto. Regressou forte e decidi incluí-lo na lista de convocados tendo em conta aquilo que nos pode oferecer para este jogo.
E a exclusão do Rúben Micael pode ser entendida como um passo atrás?
Não. Fazendo um pouco a antecipação sobre as vossas reacções às convocatórias, reparem que o Walter ficou de fora do jogo com a Naval, regressou forte com o Beira-Mar e agora mantém-se na convocatória. As decisões são tomadas com uma lógica estratégica e, nesse sentido, tocou ao Rúben ficar de fora. É dos jogadores mais utilizados, é preponderante e fez uma grande época no ano passado. Depois encontrou um ambiente extremamente competitivo nas posições que disputa. Está fora deste jogo, mas conto com ele e seguramente vai regressar, porque é um jogador extremamente forte. Vai integrar as próximas convocatórias.
Falcao continua ausente. Faz muita falta?
Tivemos um jogo muito conseguido com o Marítimo e o Falcao não esteve presente. Continuámos com uma grande dinâmica atacante. Falcao é um jogador muito importante para nós, mas acreditamos que as soluções que temos nos dão continuidade de dinâmica e de fluxo atacante para ganhar. O Falcao falha mais um jogo, mas ambicionamos tê-lo de volta o mais rápido possível.
Já decidiu quem vai ser o ponta-de-lança e se haverá uma mudança táctica?
Não devem encontrar muitas novidades. Temos a nossa estrutura perfeitamente delineada e preferida. Somos uma equipa que se enquadra no 4x3x3 pelas mais variadas razões e por aí não haverá novidades. O Walter dá-nos uma série de soluções. É outro tipo de jogo e de jogador. Apreciámos a forma como estivemos frente ao Marítimo, com a variabilidade que nos deu o James e o Hulk. É uma decisão que está tomada, mas que não quero partilhar, prefiro manter um pouco de imprevisibilidade. O Walter teve um jogo muito conseguido na Taça da Liga e é uma forte possibilidade.
Sente que o Hulk tem vontade de jogar a ponta-de-lança para chegar mais depressa à selecção brasileira?
Não é essa a nossa preocupação. Acho que não. O Hulk sente vontade de jogar sempre, porque é um talento indiscutível, acima da média, que se sente confortável nas várias posições na frente. Não é a primeira vez que faz várias posições na frente. Não é uma ou outra posição que terá influência na escolha do seleccionador.
Na terça-feira, Vítor Pereira vai fazer mais uma análise da arbitragem. Qual é a sua análise?
A arbitragem não tem sido muito diferente das épocas anteriores. Quem se sente mais prejudicado faz questão que se saiba e, depois, depende do tipo de preponderância que se dá na Comunicação Social. Depende do enquadramento em que os clubes estão inseridos e da protecção que determinados clubes têm. Esperamos sempre por uma evolução. Se houver profissionalização dos árbitros, esperamos que as coisas melhorem. Queremos acreditar que temos um presidente competente à frente da Comissão de Arbitragem e que as coisas terão tendência para melhorar.
Mais ou menos como se faz em Inglaterra, admitia uma medida que proibisse falar-se de arbitragem?
Não me parece possível, e nem é bem isso que acontece em Inglaterra. Lá há penalizações extremas para determinado tipo de mensagens. As equipas de arbitragem fazem parte do espectáculo, da emoção, geram também emoção, e seria ilógico retirá-las da envolvência do futebol. Todos estamos sujeitos a críticas pelo trabalho que fazemos e não vejo razão nenhuma para que não estejam sob o escrutínio dos outros.
Em Aveiro vai estar o árbitro [João Ferreira] que fez o relatório no túnel da Luz e também o que esteve na Supertaça. Como comenta a nomeação?
Os antecedentes são infelizes. Na Supertaça a arbitragem também não foi feliz. Traduziu-se na vitória do FC Porto, mas a outra equipa não foi prejudicada, pelo contrário, foi beneficiada. A preponderância que a arbitragem teve não foi muito explorada. Queremos acreditar que agora se mostrará competente e que fará um bom trabalho. A nomeação está feita e, se é lógica, não me parece. Mas está feita e esperamos que faça um bom trabalho.
No Académica-Benfica, a arbitragem [de Elmano Santos] foi polémica e mereceu um comentário irónico de Pinto da Costa. Acha que os árbitros entram condicionados nos jogos do Benfica?
Quero acreditar que não. Se a nomeação é lógica, não me parece que seja. Pelo caso que não foi caso na arbitragem do FC Porto-Setúbal [de Elmano Santos] fizeram dele um grande alarido. A nomeação de Elmano Santos parece-me ilógica para um jogo do Benfica, tendo em conta aquele antecedente tão fresco. Discordo quando dizem que a arbitragem de Coimbra foi comentada, porque não foi. Foi esquecida, se calhar, pelos principais intervenientes do jogo. Se calhar, foi comentada com pouca preponderância nacional.
Janeiro está a ser um mês cheio para o FC Porto e Fevereiro vai pelo mesmo caminho, porque, para além do campeonato, a Taça de Portugal (Rio Ave ou Benfica) e a Liga Europa (Sevilha) irão preencher a agenda competitiva. A perspectiva de um novo clássico com o Benfica já está na cabeça dos adeptos, mas foi ontem desvalorizada pelo treinador. Tudo por respeito ao Rio Ave, precisamente o adversário dos portistas nas meias-finais da última edição da Taça de Portugal. "A possibilidade de defrontar o Benfica não influi nada nesta altura da época. É um clássico, mas o Rio Ave tem uma palavra a dizer. Na época passada foi às meias-finais com o FC Porto e quer marcar presença novamente nessa fase da prova. Vamos esperar pela eliminatória e depois logo veremos", disse o treinador do FC Porto.
Rodríguez no Boca Juniors?
"Não. [O Boca Juniors] é uma entidade oficial, mas emitiu uma opinião falsa. É tão grave como uma namorada [de Salvio] de um determinado tipo de pessoa escrever o que bem lhe apetece em determinado meio. Cada um é livre de dizer o que lhe apetece e depois cada um é livre de comer ou não o que lê"
Ukra em Braga
"Relativamente aos casos do Castro e do Ukra sempre partilhámos as opiniões convosco e dependia muito das motivações de cada um. Havia essa possibilidade de partirem, porque a opção de jogar conta muito nas carreiras dos jogadores. Havia a opção do Braga para o Ukra e acho que vai aproveitá-la para crescer. Pode triunfar. Não estamos a dispensá-los. O Castro foi cedido ao Gijón sem direito de opção de compra e o Ukra será cedido por um ano e meio. São ambos jovens e têm grande potencial. Para ambos foi uma evolução terem vindo para o FC Porto, neste ambiente competitivo e de terem estado nas convocatórias com alguma frequência, apesar dos poucos minutos de utilização. O Castro parte para um campeonato extremamente competitivo e o Ukra parte para um clube com as mesmas ambições que o FC Porto, isto é, quer ganhar troféus. Vai continuar num ambiente competitivo e sabe que terá de manter-se no topo para ganhar espaço nesse clube."
Salvio interessa-lhe?
"É um jogador extremamente interessante. Foi preponderante no sub-20, na mesma altura do Walter. Não está nos planos do FC Porto e nem precisamos de avançados. Temos uma quantidade anormal de avançados, com muita qualidade e variabilidade, e não precisamos de acrescentar ninguém. O Salvio, pela época que está a fazer, é um jogador extremamente caro e fora do mercado do FC Porto"
Lá se perdeu um jornalista desportivo
O sucesso de André Villas-Boas ultrapassou há muito as fronteiras nacionais. Ontem, o secular jornal "The Times", de Londres, esteve no Olival a acompanhar a conferência de Imprensa - porque André não dá entrevistas individuais - e, quando as perguntas dos jornalistas portugueses terminaram, o discurso foi feito em inglês. Saber como chegou a treinador, os métodos de trabalho, a relação com Bobby Robson e Mourinho e a possibilidade de treinar na Premier League foram os temas abordados. Com uma revelação pelo meio. "Bobby Robson foi importante no início da minha carreira. Ia para jornalismo desportivo e tive a oportunidade de o confrontar com uma série de questões relacionadas com o FC Porto e a sua maneira de jogar. Só uma mente aberta como a de Bobby podia aceitar a arrogância de um miúdo. Deixou-me assistir aos treinos e, como adepto, estar perto dos meus ídolos foi inesquecível." Dizendo que é diferente de Mourinho - "as nossas carreiras parecem iguais, mas na verdade não são parecidas" - e que não imagina alcançar o mesmo sucesso do técnico do Real Madrid, Villas-Boas destacou a liberdade que dá aos jogadores. "Espero deles uma boa dose de criatividade. Para se potenciarem ao máximo, têm de fazer escolhas durante o jogo e nós não somos ditadores. Respeitamos a liberdade de escolha dos jogadores, porque o jogo é imprevisível. Só com liberdade de escolha se consegue potenciar o talento."
"Iturbe é explosivo"
André Villas-Boas comentou ontem a contratação de Iturbe com as habituais cautelas que costumam acompanhar este tipo de operações de mercado no FC Porto, embora não tenha perdido a oportunidade de elogiar o "potencial" de uma promessa que se encontra actualmente a brilhar pela selecção argentina no campeonato sul-americano de sub-20. "É um jogador interessante, mas enquanto não for oficializado não quero alongar-me muito sobre o assunto. É um jogador com grande potencial, explosivo, um ala puro e que rapidamente entrou no futebol profissional. Tem tido uma carreira explosiva e nós estamos atentos à sua carreira. Enquanto não for oficializado prefiro não alongar-me no assunto", explicou o treinador, quando instado a responder, ontem, a uma pergunta sobre as qualidades do primeiro reforço garantido pelo FC Porto para a próxima temporada. André Villas-Boas não foi, de resto, o primeiro a comentar a contratação de Iturbe, uma vez que Pinto da Costa já se pronunciou sobre o jovem argentino mas apenas para... não desmentir a contratação: "Não posso garantir que não é verdade", respondeu o presidente portista no final do encontro com o Beira-Mar. O negócio foi concluído nos últimos dias no Porto por representantes do jogador e do Cerro Porteño.
Tomaz Andrade n'O Jogo.
Sem comentários:
Enviar um comentário