Varela é o jogador do momento. Marcou um golo no último jogo do FC Porto, à Académica, e também foi dele o único golo da Selecção Nacional, anteontem, com o Chile. A O JOGO, abre o livro de uma época.
Já imaginou como é que vai festejar o titulo?
Mais ou menos... Aliás, até já sei. [risos] Mas não vou dizer o que vou fazer, porque primeiro é preciso ser campeão.Neste momento não adianta estar a fazer previsões do que vai acontecer.
Mas não lhe passa pela cabeça perder o título?
Não, claro que não. Isso não passa pela cabeça de ninguém. Só nos falta uma vitória, e sabemos que temos vários jogos para garantir esse triunfo.
Como se sente em vésperas de ser campeão pela primeira vez?
É um sonho que vai ser tornado realidade. Como devem imaginar, vou ficar extremamente feliz. Mas neste momento é difícil antecipar o que de facto vou sentir no dia em que formos matematicamente campeões. No entanto, já me imaginei a festejar com os adeptos, com aquele mar de gente que costuma encher as ruas do Porto. Até agora, só assisti a esses momentos à distância, através da televisão, mas sei que vou ficar radiante quando estiver lá no meio.
E há, no seio do plantel, um sentimento especial se o FC Porto for campeão no Estádio da Luz?
Na Luz ou noutro estádio qualquer, o importante é ganhar mais um jogo para ser campeão. O local em que isso vai acontecer não nos interessa muito.
Mas tem consciência de que, para os adeptos, seria um acontecimento especial fazer a festa em casa do Benfica...
Não tenho dúvidas de que é especial, mas queremos apenas vencer esse jogo, como qualquer outro, sem pensar em tudo o resto.
A equipa está preparada para o ambiente que se vai viver na Luz?
Temos de estar tranquilos. Sabemos o excelente trabalho que temos realizado, e os resultados comprovam-no, nomeadamente no campeonato, onde ainda não perdemos. Estamos confiantes e tranquilos para fazer um bom jogo.
Teme que possa haver problemas no túnel, tendo em conta os episódios mais recentes nos jogos entre as duas equipas?
Acho que não vai chegar a esse ponto...
Qual vai ser o resultado e quem marcará os golos?
Aposto na nossa vitória. Depois, quem marca interessa-me pouco. Seja eu, Falcao, Hulk, James ou Cristian, é igual; o importante é vencer.
Qual é a mais-valia desta equipa relativamente ao Benfica?
É o nosso colectivo. A equipa esteve sempre unida, mesmo nos momentos mais difíceis. Temos superado tudo. Para além disso, o treinador está sempre a motivar-nos e nós temos tido um grande querer em tudo o que fazemos, porque jogamos sempre com amor à camisola.
Terminar o campeonato sem derrotas é um objectivo?
Pensamos ganhar jogo a jogo e, no final, logo veremos... É um objectivo bonito, mas veremos se é possível concretizá-lo.
Durante esta época temos assistido a várias trocas de palavras entre André Villas-Boas e Jorge Jesus. Como é que os jogadores recebem essas declarações?
Eu, pelo menos, não ligo a isso. [risos] São situações que não me dizem respeito. Acho piada a essas conversas, mas passam-me completamente ao lado. Mesmo nós, os jogadores, não comentamos muito esse assunto no balneário. Acho que as pessoas que estão fora, como os adeptos, dão mais importância a essas trocas de palavras do que propriamente os jogadores das duas equipas. Mas compreendo que este aspecto também faz parte do jogo.
Ainda falta disputar seis jornadas, mas já ninguém duvida de que o FC Porto será campeão. O campeonato português é pouco competitivo ou o FC Porto é que está muito forte?
Acredito que somos nós que estamos muito fortes, quando comparados com as outras equipas do nosso campeonato. Temos de valorizar o trabalho que estamos a realizar, porque, de facto, a nossa época tem sido extraordinária.
Acreditava se lhe dissessem, no início da época, que o FC Porto ia chegar à 24ª jornada sem derrotas e com apenas dois empates?
Os resultados foram aparecendo, e agora resta-nos continuar no mesmo caminho para terminarmos a época em grande. A verdade é que poucas equipas conseguiram chegar ao final do campeonato sem derrotas... Esse é um feito fantástico e difícil de repetir. Mas vamos tentar.
O onze mais utilizado não é muito diferente da última época, mas os resultados sim. Afinal, o que mudou de um ano para o outro?
O míster trouxe um querer enorme à nossa equipa e incutiu um grande espírito de sacrifício em todos. Ele é um treinador próximo dos jogadores e conversa muito connosco. Está sempre interessado em saber a nossa opinião sobre todos os assuntos e oferece uma maior liberdade aos jogadores.
Sendo assim, há muitas diferenças entre André Villas-Boas e Jesualdo Ferreira?
Diferenças? [grande pausa] Como já disse, o André trouxe um grande querer à equipa, porque é muito ambicioso. Está sempre atento aos jogadores, ao que fazemos.
E em termos tácticos?
Por acaso, acho que o nosso estilo não foge muito ao que apresentávamos no ano passado.
Alguma vez encarou com desconfiança a idade de André Villas-Boas?
Não, não. Além disso, ele sempre soube lidar com essa situação e é um excelente treinador. Quando soube que ia ser ele, fiquei curioso. Felizmente correspondeu às minhas expectativas, e sinto que ele pode ter uma grande carreira como treinador, não só no FC Porto, onde já provou o seu valor, mas também lá fora, se assim o entender.
A chegada de João Moutinho foi importante para o FC Porto?
Para mim, foi a melhor contratação desta época. Sem dúvida. É um grande jogador e veio dar muita qualidade à nossa equipa. Está a fazer uma grande temporada e tem sido muito importante para os nossos sucessos.
O que sentiu quando soube da notícia?
Fiquei surpreendido, porque não estava à espera. Saiu de um grande clube como o Sporting para jogar num rival, algo que não é muito normal acontecer em Portugal. Foi uma grande surpresa.
Como é que ele reagiu, na altura, às acusações vindas do Sporting?
Esteve sempre tranquilo. Costumo partilhar o quarto com Moutinho nos estágios e sei que ele tem uma personalidade muito forte. Aguentou tudo isso com relativa facilidade.
Já agora, como tem seguido o actual momento do Sporting?
O Sporting é um clube grande que está a passar por um momento complicado. Deveria estar a discutir o título... Mas não está, e de certeza que vão chegar dias melhores. É lógico que faz falta um Sporting forte, até para tornar o campeonato mais interessante e competitivo.
Taça: porque não marcar mais de dois golos na Luz?
Numa época que parece estar destinada ao sucesso, com o campeonato quase ganho e a presença nos quartos-de-final da Liga Europa, escolher um momento difícil pode mesmo ser complicado. "O mais difícil? [pausa] Acho que não há nenhum. Tem sido uma época fantástica", atirou o extremo portista. O JOGO ripostou com a derrota sofrida em casa com o Benfica, a contar para a Taça de Portugal, mas Varela não se intimidou. A eliminatória está a meio e, mesmo que a viagem à Luz se afigure como muito complicada, face aos dois golos de diferença, perdida é que não está de certeza. "Não vejo essa derrota com o Benfica como o momento mais difícil da temporada. Nada está perdido na Taça de Portugal." Da mesma forma que a equipa encarnada conseguiu marcar dois golos no Estádio do Dragão, Varela também confia que é possível fazer o mesmo em casa dos rivais lisboetas. "Acreditamos que é possível dar a volta à eliminatória. Podemos ganhar no Estádio da Luz por mais de dois golos, até porque, como se costuma dizer, o futebol é uma caixinha de surpresas", afirmou. Seja como for, um finalista da Taça de Portugal já está encontrado: o Guimarães. E se o FC Porto não for à final, interrompe um ciclo de três temporadas consecutivas com presenças no Jamor.
Hulk brilha e Rolando ofusca
Varela tinha a resposta na ponta da língua quando surgiu a pergunta sobre quem está a ser o melhor jogador da Liga ZON Sagres: "Hulk, claro." Habituado a vê-lo fazer diabruras nos treinos, nos jogos são os adeptos que ficam extasiados com os arranques, as fintas e a velocidade estonteante do internacional brasileiro. "Escolho Hulk como o melhor do campeonato por tudo o que já fez, os golos, as assistências... Ele tem mesmo feito a diferença durante esta época", explicou Varela.
A sorte de Hulk é ter Rolando na mesma equipa. É que Varela garante que o defesa-central português é mesmo o mais difícil de ultrapassar. No Olival, o extremo sente as dificuldades na pele; e nas pernas. "O defesa mais difícil? Bem, vou escolher um que encontro todos os dias nos treinos. É Rolando. É muito complicado passar por ele", conta, sem conter um sorriso.
"Gosto da liga inglesa mas estou bem aqui"
Que balanço faz da época a nível individual?
Tem sido uma época muito boa, sobretudo para quem veio de uma lesão complicada, como foi o meu caso. Sinto que estou a a ter um ano espectacular, embora haja sempre margem para melhorar.
Já marcou nove golos. Tem a meta de ultrapassar os 11 da última temporada?
Nunca coloco os meus interesses pessoais em primeiro lugar. Com isto, quero dizer que em primeiro lugar penso sempre nos objectivos da equipa e depois encaro tudo o que vier como um extra. Apesar disso, seria bom ultrapassar essa marca, até porque era sinal de que tinha ajudado o FC Porto com os meus golos.
E como tem convivido com a concorrência de James?
Tenho aproveitado a concorrência, seja de James ou de Rodríguez, para tentar melhorar o meu jogo. É sempre bom ter grandes jogadores no plantel, porque faz aumentar o nível de exigência interna. E nós temos muitos: James, Rodríguez, Mariano ou Hulk, todos somos importantes para a equipa.
Está surpreendido com o rendimento de James?
É um miúdo com muito valor e que se adaptou bem ao clube. No entanto, ele ainda tem muito para crescer e, por isso, acredito que vai ser ainda melhor no futuro.
Fala-se do interesse de clubes estrangeiros em vários jogadores do plantel, mas nunca se ouve nada sobre o Varela. Consegue perceber porquê?
Não sei... [risos]. É uma pergunta difícil de responder, porque não faço a mínima ideia de como isso acontece.Ainda assim, acho perfeitamente normal que se fale lá fora de clubes interessados nos jogadores do FC Porto, porque isso só serve para comprovar a qualidade individual dos jogadores que formam esta equipa. No entanto, essas situações passam-me completamente ao lado. Quero é trabalhar bem e estar concentrado no FC Porto.
Já teve uma experiência no estrangeiro. Pensa lá voltar?
Neste momento sinto-me bem no FC Porto e só penso em continuar por aqui. Não estou obcecado com grandes voos, só em ser campeão. Sou ambicioso, gosto muito do campeonato inglês, mas sinto que ainda tenho muito tempo para lá chegar. Actualmente, só quero saber do FC Porto e nada mais.
Como é que o balneário encara o facto de, provavelmente, o FC Porto voltar a perder alguns dos jogadores mais influentes no final da época?
É uma situação normal... Os jogadores são ambiciosos e também querem dar o salto para os maiores clubes do mundo. Felizmente, o FC Porto sempre soube lidar bem com essa situação e acredito que continuará assim no futuro.
"Seria uma desilusão não chegar à final da Liga Europa"
Depois do CSKA, o FC Porto volta a Moscovo na Liga Europa. O que espera desta eliminatória com o Spartak?
Vamos defrontar uma equipa complicada e sabemos que teremos dois jogos muito difíceis pela frente. Para passarmos mais esta eliminatória, vamos ter de lutar muito. Por acaso, conheço relativamente bem o plantel do Spartak de Moscovo, e temos de ser cuidadosos na forma como vamos abordar este confronto, porque eles têm excelentes jogadores.
Como vai ser voltar a jogar num relvado sintético?
Pelo menos temos uma certeza: jogar num sintético nunca será uma vantagem para nós, mesmo que já lá tenhamos defrontado o CSKA. Nunca treinamos naquele tipo de piso, e é muito complicado jogar lá. A bola prende e salta muito, para além de que o terreno é mais duro. Mas não devemos perder muito tempo com isso.
O que sente quando se fala na final de Dublin?
É um sonho, claro. Jogar uma final de uma competição europeia é sempre um momento especial na carreira de um jogador e eu gostaria de experimentar essa sensação. E, de preferência, gostava de sair de lá com um sorriso. [risos]
Gostava de encontrar o Benfica ou o Braga na final?
O que me interessa é que o FC Porto esteja lá. Não estou preocupado com o eventual adversário, apesar de considerar que, para o futebol português, seria bom ter uma final entre dois dos nossos clubes.
Está surpreendido com a carreira do Braga na Liga Europa?
O Braga está a surpreender tudo e todos, mas a mim nem por isso; eles têm uma excelente equipa, composta por jogadores de grande qualidade e muita experiência.
Para as casas de apostas, para a Imprensa internacional e até para os adeptos, o FC Porto é o grande favorito a vencer a Liga Europa. Isso representa uma motivação ou uma pressão extra?
É uma motivação; só pode ser. Esse facto é apenas mais um sinal de que as pessoas, seja em Portugal ou lá fora, valorizam o nosso trabalho e que estamos a realizar uma grande temporada.
Tendo em conta as circunstâncias, será uma desilusão para os adeptos se o FC Porto não chegar à final. E para os jogadores?
Confesso que seria uma desilusão se não conseguíssemos lá chegar. Honestamente, todos pensamos em atingir a final, apesar de sabermos que temos adversários complicados para ultrapassar até chegar a Dublin.
Das equipas que estão em prova, qual é o adversário mais forte?
Para se chegar a esta fase da Liga Europa, tem de se ter qualidade. Não há forma de fugir a esta realidade. Por isso sabemos que qualquer jogo será difícil.
E como encara o regresso do FC Porto à Liga dos Campeões?
Isso é só para o ano... [risos] Já temos a garantia de que vamos lá estar na próxima época, mas, sinceramente, ainda nem penso nisso. Para já, quero é pensar no que ainda temos para conquistar esta temporada, antes ainda de pensar na próxima. Queremos, por exemplo, vencer a Liga Europa.
À procura do golo
Sintéticos, com neve ou encharcados, Varela tem sido decisivo em vários pisos europeus. Só lhe falta mesmo marcar na Liga Europa, porque os nove golos que tem foram todos conseguidos em competições internas.
"Iturbe? Dizem que é o novo Messi"
A próxima época já começou há muito tempo nos gabinetes da SAD. Iturbe e Kelvin estão assegurados e, mesmo com a quantidade de tinta que o craque argentino faz correr, Varela não sente curiosidade em dar uma espreitadela no YouTube. "Confesso que não vi vídeos do Iturbe [risos]." Mas já ouviu falar dele? "Claro que sim. Dizem que é o novo Messi... O importante é que continuem a chegar jogadores jovens e com qualidade ao FC Porto, de forma a mantermos o hábito de vencer mais vezes do que os nossos adversários."
Pedro Matos Costa e Tomaz Andrade n' O Jogo.
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