sábado, 2 de abril de 2011

André Villas-Boas - Festejar na Luz teria um sabor diferente

Aos 33 anos, e a um pequeno passo de tornar-se campeão nacional no primeiro ano completo de treinador, André Villas-Boas deu uma imagem de grande tranquilidade. Afastou os festejos antecipados e incluiu o Benfica na luta pelo campeonato. Assim, o título tem mais sabor. Críticas só à decisão de proibir a entrada aos adeptos portistas equipados... normalmente.

Amanhã o FC Porto tem um jogo complicado, mas com algo a acrescentar, que é a possibilidade de chegar ao título. Como tem sido esta semana e se tem sentido alguma ansiedade especial?

Em termos de ansiedade, só um pouco antes do jogo é que poderemos ter uma noção mais exacta de como nos sentimos, mais ou menos ansiosos, mas não é isso que vai afectar o nosso rendimento desportivo. De resto, foi uma semana diferente, muito condicionada pelo regresso tardio dos jogadores que estiveram nas selecções. Hoje, finalmente, conseguimos fazer um treino normal, com todos os disponíveis. Quanto ao resto dos dias, alguns jogadores estiveram em recuperação e outros a treinar em absoluto. Não quero dizer que se tivesse sido uma semana normal teríamos trabalhado melhor, porque acreditamos no que fazemos e, apesar da escassez de treinos, a identidade está intacta. Mas a realidade é que só hoje pudemos juntar todos os jogadores. Amanhã [hoje] faremos os últimos ajustes estratégicos para o jogo.

Qual é a importância real de festejar o título no Estádio da Luz?

Não é nenhuma obsessão em particular. O mais importante é o campeonato e, não acontecendo na Luz, queremos festejar o mais rapidamente possível. É o principal objectivo. Sempre foi. O sentimento dos adeptos é legítimo, e sem dúvida que festejar na casa de um rival teria um sabor diferente, embora não seja uma novidade. Já aconteceu com Siska [1939/40]. Mas claro que há esse sentimento de que seria um feito importante e os jogadores também sentem isso. Não pode é ser uma obsessão; a obsessão é com o objectivo principal, que queremos atingir o mais cedo possível.

Mas o contexto de ser campeão na Luz não lhe é indiferente...

O mais importante é distanciarmo-nos um pouco do título atribuído à partida. É inútil fazer as contas de um FC Porto campeão, é inútil atribuir-se o título ao FC Porto e a estes jogadores quando ele não está conseguido. Se houver um atraso na Luz, teremos de trabalhar mais para conseguir alcançá-lo. Matematicamente não há título e o Benfica ainda está na luta. Sempre acreditámos nisso e transmitimos essa mensagem. A realidade é que chegámos a esta jornada com esta diferença pontual, enquanto outros esperavam outro cenário. O Benfica alimentou sempre a esperança de voltar a conseguir ser campeão. As mensagens foram claras durante toda a época, na antevisão dela e no fim da época anterior. Enquanto assim for, queremos ter o nosso sonho do título e queremos roubá-lo ao campeão nacional.

Sendo portista, dá-lhe um gozo especial ser campeão na Luz?

Logo que tenhamos o título será festejado da forma mais natural possível. O importante não é a previsão dos festejos, porque faltam 90 minutos de um jogo bastante emocional, de grande intensidade e de grandes organizações, entre duas equipas que estão a ter épocas absolutamente fantásticas. Fomos progredindo juntos na Liga Europa e na Taça de Portugal. No campeonato é o que é. O Benfica é um excelente desafio e é óptimo termos esta oportunidade de chegar ao título, mas não é uma obsessão.

Com o Benfica mais concentrado na Liga Europa, acredita que Jorge Jesus pode poupar alguns jogadores? E está a pensar também poupar algum jogador?

Não faz sentido. Da nossa parte não o faremos. Cada encontro é o mais importante. Em relação ao treinador do Benfica, percebo onde quer chegar, que leva imediatamente a uma resposta, que é também o seu pensamento. O treinador do Benfica teve a declaração que teve com o Portimonense, mas seguramente não se permitirá ao luxo de fazer o que fez nesse jogo. O significado de um FC Porto campeão no Estádio da Luz é o que é e, portanto, não sou eu que vou ditar as escolhas de Jorge Jesus. Mas parece-me pouco provável [que poupe jogadores].

Então que Benfica espera na Luz? E esta agressividade latente entre dirigentes e adeptos de que forma pode condicionar o jogo?

Os clássicos são quentes por natureza. Sempre foram. É uma rivalidade que é cultural. Acho que é isso que mantém vivo o interesse por cada campeonato e cada clássico. Não é nada de novo e diferente em relação a outros anos. E acho que tem pouca importância para quem trabalha para ganhar jogo a jogo. Espero o mesmo Benfica que luta em todas as competições, mesmo fora da Liga dos Campeões e da Supertaça. É uma das equipas de topo da Europa, que alimenta como nós o sonho da Liga Europa e também alimenta, como acredito, o sonho do campeonato nacional. Porque tudo pode acontecer. O imprevisível acontece quando menos se espera. Nesse sentido, espero um Benfica de topo, difícil de vencer e um Benfica campeão nacional, com aspirações a ser bicampeão nacional.

Espera alguma surpresa no onze do Benfica?

É imprevisível. Tentamos fazer o nosso estudo de acordo com o que perspectivamos, mas não sei o que se passará na cabeça do Jorge Jesus, nem que equipa vai apresentar. Desconfiamos de algumas coisas, mas não faço uma ideia concreta. Qualquer onze que apresente será de alto rendimento desportivo e alto talento individual, de acordo com os investimentos época após época.

Olhando para as estatísticas da Liga, o FC Porto domina. O que significa isso para um clássico?

Acima de tudo transmite uma identidade muito forte que estes jogadores conseguiram implementar. Mérito total dos jogadores para abordar uma nova forma de jogar. Mas, se me permitem dizer algo, chamar ao FC Porto uma equipa de transição é algo aberrante quando temos o melhor ataque e a melhor defesa. Quando a equipa joga, e ganha continuamente, em posse de bola, algo que tem um significado especial para esta equipa técnica. Isto reflecte a nossa identidade e cultura de posse de bola, reflecte o privilégio pelo jogo apoiado, curto e bem jogado. É uma aberração chamar ao FC Porto uma equipa de transição. É algo fora do normal.

O que vai dizer aos jogadores na palestra?

Não vamos pedir nada de mais. Obviamente, o emocional deste jogo vai levá-los para patamares motivacionais intensos, possivelmente ou não de ansiedade. Será decisiva uma boa entrada em campo, de ambas as equipas, e acima de tudo que seja um bom espectáculo.

O Benfica proíbe aos adeptos do FC Porto a entrada com bandeiras, tarjas e outros adereços. Que comentário lhe merece a decisão e se vai aproveitá-la para motivar mais os seus jogadores?

O assunto também diz respeito à legalidade das claques, do qual percebo pouco, mas pelo menos estamos felizes porque as nossas são legais. Será talvez a segunda pior decisão antifutebol que o Benfica toma. A primeira foi dizer aos seus adeptos para não apoiarem a equipa fora de casa. Esta decisão vem na continuidade dessa. É mais uma medida antifutebol e não é nada de surpreendente.

Vai ter alguma conversa especial com Hulk e Sapunaru?

Não, penso que não. São jogadores de grande talento e controlo emocional. O que se passou, ou não se passou, é passado. Os jogadores estão conscientes do que têm de fazer em campo e isso é que faz a diferença.

O Benfica conseguiu ser superior no último clássico, para a Taça de Portugal. Que lição retirou desse jogo e o que vai fazer para contrariar uma eventual nova supremacia do Benfica?

Já debatemos esse jogo vezes sem conta. Não retiro uma vírgula ao que disse, isto é, o Benfica entrou superior, agressivo e o FC Porto pagou caro os erros que teve. E tivemo-los muito cedo no jogo. O primeiro golo condicionou o resto de toda a partida. Não foi um jogo diferente do habitual, porque fomos totalmente dominadores, embora sem criar oportunidades com a fluidez habitual. Mas fomos dominadores em termos de controlo do jogo. O Benfica chegou ao 2-0, as coisas estavam difíceis e, com alguma infelicidade, não matou a eliminatória, valendo a defesa do Helton aos 86 minutos. Apesar do controlo, foi o jogo menos conseguido de sempre do FC Porto.

A gestão da titularidade do Guarín tem sido um assunto recorrente e agora foi Rúben Micael a marcar dois golos na Selecção. Como é gerir este assunto, com tantos candidatos à titularidade?

Gostava de apenas exemplificar com a forma como treinámos hoje, a um nível absolutamente fora do normal em termos de intensidade e agressividade. Acima de tudo, são estes jogadores que nos inspiram e motivam para trabalhar, de maneira a chegarmos ao sucesso. São eles que decidem por nós em campo, independentemente das escolhas que fazemos. Hoje treinámos a um nível fora do normal, com todos os jogadores muito competitivos e disponíveis. E não foi só o Rúben, que passou por um bom momento na Selecção. As dificuldades de escolha aumentam.

E a proximidade do jogo com o Spartak condiciona o clássico?

Não. Nem sequer peguei em nada do Spartak, nem sei quem joga à baliza... [risos] Estou a brincar.

Pressão que alivia

A possibilidade de Pinto da Costa sentar-se no banco do FC Porto, em detrimento do camarote reservado aos dirigentes da equipa adversária, está a ser ponderada. Possivelmente, só em cima da hora da partida é que se conhecerá a decisão do presidente portista, mas, para já, André Villas-Boas vai brincando com o assunto. "Mais pressão? Só se for sobre mim [risos]. O presidente é livre de escolher o que quiser", afirmou o treinador portista.

"Rendimento coerente e regular"

Para a IFFHS (Federação Internacional de História e Estatística), a equipa do FC Porto foi considerada a melhor do mundo no mês de Março. Villas-Boas registou a distinção com agrado, mas não lhe atribuiu valor para decidir o clássico. "É indiferente [no contexto do clássico]. Provou que o que fizemos em Março foi bom. O Benfica foi a melhor equipa do mundo em Janeiro, mas nós mantivemos o nosso rendimento desportivo de forma coerente e regular".

Que tudo corra bem a Duarte Gomes

Duarte Gomes vai estar pela primeira vez num clássico entre o Benfica e o FC Porto, depois de ter dirigido cinco jogos entre benfiquistas e sportinguistas. "A minha opinião é óptima. Espero que tudo corra bem a Duarte Gomes. É o que lhe desejo e que todas as decisões sejam correctas".

T-shirts de campeão e as escorregadelas

O treinador do FC Porto garantiu que não houve estampagem de t-shirts relativas ao título. "É muito fácil atribuir o título ao FC Porto e depois esperar por uma escorregadela. Na semana passada falámos do exemplo do Dortmund. Vou acreditando no imprevisível e vocês vão acreditando no que já está feito", afirmou.







Tomaz Andrade n' O Jogo.

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