sábado, 5 de fevereiro de 2011

André Villas-Boas - Não há crise nenhuma

O FC Porto tem 29 triunfos esta temporada, em 35 jogos, mas não venceu os últimos dois encontros, tendo sido afastado de uma prova e comprometido a presença na final de outra. Perante estes factos, Villas-Boas tratou de afastar categoricamente o cenário de crise no universo portista e até carrega na pressão. Se não vencer o Rio Ave é "porque alguma coisa está mal". Assumindo um discurso de desdramatização da derrota no clássico e da eliminação na Taça da Liga, o técnico elogiou Sereno, garantiu não ter qualquer problema com Fucile e confirmou que ainda não conta com Falcao.


A derrota no clássico abriu feridas na equipa ou só vai perceber isso depois deste jogo?
Parece claro que há uma tentativa de criarem as feridas, nem digo de as abrir, porque estão bem fechadas. Nem a eliminatória está perdida, nem isto abala a nossa confiança ou o trabalho que temos feito. Há que continuar a acreditar. É uma derrota importante, porque não gostamos de perder em nossa casa, mas não vai abalar o nosso percurso. O compromisso imediato é o campeonato e depois vamos focalizar-nos no Sevilha.

Mas, pela primeira vez, o FC Porto não venceu dois jogos seguidos. Nesse sentido, os próximos compromissos são decisivos para afastar o fantasma da crise?
Para nós, de forma alguma, está instalado um cenário de crise. Estão prontos para nos espetar esse rótulo, mas contrariamos isso com rendimento desportivo e continuidade de vitórias, que é o que temos mais esta época. Foram dois jogos em que não conseguimos, mas tentámos. De uma forma menos conseguida com o Benfica, porque não fomos tão criteriosos como costumámos ser, permitimos muito poucas oportunidades. Foi o jogo, esta época, com menos remates: apenas seis do Benfica, quatro à baliza; e 13 nossos, dois à baliza. Fomos pouco clarividentes, mas há que desligar do insucesso e ligar de novo ao sucesso com o Rio Ave e o Braga.

Foi mais difícil treinar nestes últimos dias?
Obviamente que a recuperação física e mental a seguir a uma vitória é mais fácil. Ontem [quinta-feira] tivemos uma sessão muito ligeira, com jogos recreativos para animar o lado emocional e hoje [ontem] trabalhámos um pouco mais a nível estratégico. Amanhã será o lado mais táctico. Mas já há níveis de confiança.

Das cinco competições, uma já foi (Taça da Liga) e outra está hipotecada (Taça de Portugal). Isto serve de alerta para o que resta da época?
Não quero hipotecar de forma alguma a Taça de Portugal. Se o resultado da Supertaça foi inesperado, o da primeira volta no Dragão também e este igualmente. Portanto, por que não poderá o inesperado acontecer na Luz? A Taça da Liga estava comprometida desde a primeira jornada, mas não perdemos a competição principal, não perdemos a Liga dos Campeões nem fomos repescados para outra competição. É evidente que queremos ganhar um dia esta prova [Taça da Liga] pela primeira vez. Restam-nos competições muito importantes.

Concorda que houve algum desgaste físico na segunda parte do clássico?
Discordo em absoluto. Devido à carga de Janeiro, a equipa mostrou-se extremamente fresca. Foi pouco clarividente em termos de organização, teve falta de concentração que a impediu de tomar as melhores decisões, mas nada com o físico.

A exigência do público poderá ter afectado a equipa?
Não. As claques têm sido fundamentais em casa e fora, e os adeptos em geral também. O público do Dragão é sempre exigente, sofremos um golo aos 6', num clássico, e é normal que isso aumente a ansiedade. Não penso que tenha ajudado à intranquilidade e não foi por aí que o clássico se resolveu.

O FC Porto vai ganhar ao Rio Ave?
É a sua obrigação. Se não o fizer é porque alguma coisa está mal.

Que perigos identifica no adversário?
O Rio Ave é uma equipa construída há muitos anos pelo Carlos Brito. No ano passado, teve alguns resultados negativos que a deixou numa posição desconfortável. No entanto, está regularmente na primeira divisão. É uma equipa bem organizada, combativa, com num bloco curto baixo e saídas rápidas para o ataque com muito critério, não só através dos alas como do João Tomás, que liga bem com os médios. Vai criar-nos dificuldades.

Já decidiu quem vai jogar no lugar do Belluschi?
Tenho em mente. Mas amanhã [hoje] é que será decidido.

E o Hulk vai continuar no centro?
O Falcao ainda não terá hipóteses neste jogo, perspectivamos o Braga como regresso às convocatórias e depois decidiremos se joga tendo em conta o rendimento dele. Amanhã [hoje] joga o Hulk ou outro dos que estão disponíveis.

Houve bluff com Falcao no clássico ou passou-se alguma coisa no processo de recuperação?
A variabilidade que o Falcao oferece em relação aos outros atacantes é grande e apostámos uma carta nesse sentido. Se a comeram ou não é indiferente agora com o resultado feito.

Elogiou as actuações do Sereno, vai mantê-lo no lado esquerdo?
Gostei dele nesses jogos e, sem entrar muito pela prestação individual, parece-me claro que, para um jogador com poucas oportunidades e pouca rotina da função, esteve muito bem. Teremos de equacionar o que será melhor para a equipa.

E quando pensa ter Álvaro Pereira?
Provavelmente apenas para o Braga ou o Sevilha.

Que se passou com Fucile e as declarações no Facebook?
É importante que os clubes estejam a par do que cada jogador exprime, das suas páginas oficiais e não oficiais. Acredito nas palavras do Fucile, que disse nada ter a ver com isso. Foi um mal-entendido que está esclarecido e bola para a frente. Procuramos potenciar os jogadores do plantel e conseguimos isso, mais com uns do que com outros. O Fucile, como homem decisivo no Mundial, é a quem temos prestado mais atenção e queremos tê-lo de volta a um nível elevado. O plantel é competitivo, há grande intensidade e competitividade, neste caso entre ele e o Sereno, que fez um jogo bem conseguido em Barcelos e ainda melhor no clássico. Apesar das lesões, ainda temos boas alternativas.

O Falcao também usa muito as redes sociais. Que pensa dessa utilização por parte dos jogadores? Pensa falar com eles para que tenham mais cuidado?
Não. A vida social diz-lhes respeito apenas a eles. Enquanto for usado como um instrumento social que é perfeito. Qualquer um gosta de partilhar as suas vivências do trabalho, mas sempre com o máximo respeito pelos companheiros e pelo clube.

Tem conta no Facebook?
Por acaso, não.

Confiança total nas capacidades de Walter

Villas-Boas não está arrependido de não ter levado Walter para o banco na partida com o Benfica, da mesma forma que assegura ter total confiança no jogador. O problema, dele, é a forte concorrência. "Não posso desligar do que tenho vindo a dizer: são sete os avançados que temos. O Walter já esteve de fora de outras convocatórias e esta pergunta repete-se a cada conferência. Tenho total confiança nas suas capacidades e tem havido alternância em todas as posições. Todos têm minutos e oportunidades, mas uns agarram melhor do que outros. O Walter anda à procura de mais e isso é positivo", considerou, sem revelar se conta com o Bigorna para o encontro de amanhã.

Lima? Aprecio, mas desminto

Villas-Boas desmentiu interesse em Lima, do Braga, que O JOGO escreveu ontem ter sido apalavrado com os minhotos para a próxima época. O técnico negou a notícia, mas acabou por admitir que se trata de um jogador que admira. "Aprecio o jogador, mas desminto a notícia". Ainda em relação ao mercado, Villas-Boas explicou por que não quis outro lateral-esquerdo. "Fomos afectados pela lesão do Rafa perto do fecho e acabámos por transmitir confiança ao plantel porque acreditamos nas competências que temos. Isso dá um panorama bom sobre o que foi decidido em Julho", referiu.





Carlos Gouveia n'O Jogo.

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