terça-feira, 30 de março de 2010

Capas de 30 de Março de 2010

Hulk faz falta...

Havia algumas dúvidas sobre a importância de Hulk, não só para o FC Porto, mas para o campeonato. Pois bem, o brasileiro tratou de as esclarecer de forma eloquente no Restelo. Um golo, duas assistências, duas mãos-cheias de ataques, uma de remates e a consagração inequívoca enquanto jogador mais influente do FC Porto não deixa grande margem para dúvidas sobre aquilo que os tetracampeões nacionais e o campeonato perderam com a ausência do brasileiro durante quase três meses. Claro que a presença de Hulk não faria do Benfica nem do Braga equipas piores, mas faria certamente do FC Porto uma equipa melhor, inevitavelmente mais próxima do topo da classificação, provavelmente com uma palavra a dizer no título e certamente mais confortável na luta pela Champions. A boa notícia, para o FC Porto, mas também para o campeonato, é que Hulk está de volta e pelos vistos, numa versão revista e melhorada. É, como disse Jesualdo, um Hulk mais sereno (não discutiu nenhuma decisão da arbitragem), mais maduro (duas assistências para golo) e por isso melhor jogador.

Jorge Maia n' O Jogo.

Do poeta morto

Meu caro Hulk:
OI! Você me conhece, sou Carlos Drummond de Andrade, o poeta. Não estranhe: mesmo morto continuo vendo futebol. Deixe que conte um troço para você: uma noite, entre o fio de cachaça e a nuvem de fumo, amigo meu me revelou, torcido:

– Tenho remorso antigo. Quando era garoto, adorava futebol de botão. Um dia, acabei com os botões do quarto de costura de mamãe, e não havia outros em casa. Fui ao guarda-roupa de vovô e saqueei-o. Coitado, o velhinho vivia na cadeira de rodas, e praticamente só usava pijama. No dia em que ele morreu, a família ficou atrapalhada para vestir-lhe um terno escuro: estava tudo sem botão...

É, eu sei que houve gente aí que andou fazendo de você botão, agarrado não para jogar – mas para esconder, estragar, queimar talvez. (E acho que não tem remorso, não...) Por isso, quando, domingo, o vi, vibrando louco com aquele gol, sabe que pensei?:

– O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É fazer um gol como Pelé. Aquele gol que gostaríamos tanto de fazer, que nos sentimos maduros para fazer, mas que, diabolicamente, não se deixa fazer...

Esse seu gol foi gol como só Pelé fazia, acredite – contra o destino e a revolta, um desses lances que levam vocês, os jogadores de bola, para lá da humanidade. Pois é, ainda estava com aquela sua festa em Belém nos olhos - e um cara aqui, lembrou que fui eu que descobri que no futebol a imparcialidade do juíz é uma virtude que desejaríamos se voltasse para o nosso lado. Percebi a insinuação dele, rebati: não tem nada a ver. E não. E lembrei de lhe escrever – para dizer que seu gol não foi o ponto mágico onde há-de começar tudo a nascer do perdido, lentamente - foi a prova de que crime mesmo é deixar alguém como você fora da grama sem dar para nós sua poesia. Quem ganhou com seu drama? Não sei - nem importa. Quem perdeu, isso sei - foi o futebol. (Ah! Pecou? Tinha de pagar! Mas justo era pagar em dinheiro, jogando, né?! Fala isso aí...)

António Simões n' A Bola.

Um tributo a Bruno Alves e a Lionel Messi

1 Muito raras vezes vi um jogador de futebol fazer um percurso tão extraordinário quanto Bruno Alves. Quando, há uns anos, o então inofensivo Benfica quebrou um jejum de largos anos e ganhou no Dragão por 2-0, Bruno Alves estava praticamente a ensaiar os seus primeiros passos no FC Porto e a sua prestação foi má demais: teve culpas num golo, ofereceu outro e acabou expulso depois de agredir Nuno Gomes, num acesso de descontrolo. Achei então que não havia futuro para ele no FC Porto. Mas — e com Jesualdo Ferreira — ele soube contrariar um destino que parecia traçado: em dois ou três anos, transformou-se num dos melhores centrais do mundo. É inigualável em poder de impulsão e jogo aéreo, inultrapassável em entrega ao jogo e atitude competitiva, e brilhante na ocupação do espaço que defende e na leitura da construção do jogo de trás para a frente. É verdade que muitas vezes se excede na forma como entra às jogadas e aos adversários, mas só quem nunca jogou futebol e nada entende do jogo pode confundir isso com violência ou anti-jogo. Muitos outros que aí estão, bem menos exuberantes e generosos na entrega ao jogo, procuram, não a bola, mas as canelas dos adversários, à socapa, disfarçadamente, cobardemente — mas magoando e deixando mossas. Ele, não: nunca partiu a perna a um adversário (o Mossoró ou o Anderson que o digam…), nunca remeteu alguém para o estaleiro e passa jogos inteiros (que ninguém repara) sem cometer uma única falta. Sim, tem mau feitio a jogar — mas nisto, como em tudo o resto, eu prefiro mil vezes as pessoas com mau feitio e bom carácter do que o oposto. Também John McEnroe, que foi o maior tenista de todos os tempos, tinha mau feitio e era perseguido pela imprensa politicamente correcta — que hoje o venera como comentador e lenda viva do ténis que valia a pena ver.
As virgens pudicas que por aí proliferam quiseram, uma vez mais, crucificar Bruno Alves pela sua actuação no Algarve. Eu vi e revi os tão citados quatro lances em que dizem que ele deveria ter sido expulso e em nenhum deles vi jogo subterrâneo e sujo, vontade deliberada de aleijar o adversário (excepto, no ultimo, uma tentativa de intimidação). Vi, sim, excesso de atitude e de entrega, raiva pelo decurso do jogo. Reacções condenáveis e decerto puníveis, mas não mais do que isso. Não mais do que o desespero de um vencedor perante a derrota, como quando apontou para o emblema do clube e mostrou os quatro dedos, um por cada campeonato que ele e os seus companheiros conquistaram — e que deveriam merecer mais respeito das indignadas virgens. Primeiro, diziam que ele já não se entregava à defesa da camisola que veste porque o clube o não deixou sair; mas depois, e afinal, é de excesso de entrega que é acusado. Mas em Junho próximo, quando ele estiver vestido com as cores da Selecção, o País vai torcer para que Bruno Alves seja igual a si próprio e para que todos os outros se entreguem ao jogo como ele. E se, depois do Mundial e como tantos desejam, ele sair mesmo para o estrangeiro, aí vira herói nacional e a mesma imprensa que agora o massacra vai passar a idolatrá-lo. Tão certo como eu me chamar Miguel. Força, Bruno, não se preocupe: ao contrário do que possa parecer, as vozes de virgens não chegam ao céu.

2 Numa noite cinzenta e chuvosa de Novembro de 2003, assisti ao vivo à inauguração do Estádio do Dragão e ao baptismo no futebol sénior de um miúdo argentino de 17 anos, chamado Lionel Messi, que nessa noite se estreou pelo Barcelona. Dois anos e meio depois, na antevisão do Mundial da Alemanha e respondendo a um inquérito da A Bola junto dos seus colunistas sobre quem iria ser o melhor jogador do Mundial, eu respondi Lionel Messi. Mas o seleccionador argentino não comungava do meu entusiasmo e deixou Messi sentado no banco, até a Argentina ser enviada para casa, sem honra nem glória. Em 2009, no auge da Ronaldofobia, atrevi-me a escrever aqui um texto ao arrepio da histeria patriótico-futebolística herdada do consulado de Scolari, dizendo que, perdoassem-me pelo crime de lesa-pátria, mas, apesar de achar que Cristiano Ronaldo era, indiscutivelmente, um fora-de-série, para mim, o melhor jogador do mundo chamava-se… Lionel Messi. Com um ano de atraso, finalmente, lá vi os crânios que entendem disto concordarem comigo. Foi preciso que Messi tenha marcado um «golo à Maradona» e que tenha ganho a Liga dos Campeões — porque parece que não pode haver títulos individuais sem títulos colectivos, o que julgo bastante redutor (foi assim que o banal Canavarro conseguiu ser eleito o melhor do mundo em 2007, só por ter sido campeão do mundo pela Itália).

Agora, que Messi assinou um segundo «golo à Maradona» e dois hat-tricks seguidos na Liga espanhola, intervalados por dois golos num jogo da Liga dos Campeões, discute-se se ele não será mesmo o melhor jogador de todos os tempos. Tem apenas 24 anos e muito tempo para manter viva a discussão. Mas, se é preciso responder já à pergunta, a minha resposta é que provavelmente sim. O melhor jogador que eu alguma vez vi jogar, o mais completo, o mais genial e regular na sua generalidade, foi Johan Cruyff. Maradona era mais espectacular, mas menos eficaz, Pelé e Eusébio mais instinto e talento bruto, mas menos inteligência de jogo. Mas, se pensarmos em como os espaços eram maiores, o ritmo mais lento e as marcações menos impiedosas, talvez nenhum deles conseguisse fazer o que Messi hoje faz. Ele integra-se no jogo a uma velocidade instantânea, que os defesas não conseguem acompanhar, e é capaz de decidir, em cada instante, se joga para a equipa ou se joga sozinho, direito ao golo. E, quando opta pela solidão e pela investida direito à baliza adversária, quando tira partido de cada centímetro vago e de cada subtil desequilíbrio do defesa à sua frente, o pequeno Messi cresce à dimensão de um dançarino de tango no bairro de Palermo, Buenos Aires. Parece empurrado pelos deuses, senhor de um destino que ninguém, nem ele mesmo, consegue já travar. Na verdade, não sei se algum dia voltaremos a ver um jogador como ele. Deus proteja Lionel Messi!

3 Ouvi o António-Pedro Vasconcelos falar do «começo do hooliganismo» a propósito dos incidentes com os Super Dragões no Algarve. Deve estar a brincar: se há algum marco histórico para isso, o hooliganismo por cá começou quando um adepto do Benfica matou um do Sporting numa final da Taça, lançando um very-light direito à claque sportinguista. Continuou quando uma das claques benfiquistas foi buscar o material armazenado no Estádio da Luz e invadiu um autocarro com a equipa de hóquei em patins do FC Porto lá dentro, agredindo os jogadores com bastões e tacos de basebol e deixando um jogador em coma. E continuou ainda quando dois adeptos sportinguistas morreram quando desabou um varandim de Alvalade onde estavam a apedrejar o autocarro do FC Porto — continuando depois a apedrejar o médico do FC Porto que assistia os adeptos sportinguistas caídos no chão. Ou quando o carro do presidente do FC Porto e o autocarro do clube foram emboscados e apedrejados há poucas semanas, num viaduto da A-5, a caminho do Estoril, para um jogo da Taça da Liga. Por onde tem andado o António-Pedro?

4 O «jogo do título» foi previsivelmente táctico e fraco do ponto de vista futebolístico. Ganhou a única das duas equipas que tem cultura de futebol de ataque — e, sem atacar, dificilmente se voa até ao topo. O melhor de tudo foi, de longe, a arbitragem de Pedro Proença e os seus auxiliares: firme mas tranquila, isenta, personalizada, sem alardes. Um único senão: a falta de um amarelo a Di María, por tantas e tão impudicas simulações de faltas e agressões, iniciadas logo aos 4 minutos.

5Hulk voltou em grande estilo: um golo e três assistências para golo — a última das quais anulada sem motivo sequer aparente (e já lá vão quatro golos limpinhos anulados ao Falcão — assim é difícil ganhar a Bola de Prata!).

Já disse, e não volto atrás, que seria injusto e até pouco sério especular sobre o que teria sido o campeonato se o dr. Ricardo Costa não tem resolvido ser parte decisiva nele: o melhor futebol visto ao longo do ano foi do Benfica e ponto final. Mas não posso deixar de dizer que acho simplesmente indecoroso que tantos arautos da «verdade desportiva» tenham gasto tanta energia e tanta inteligência a tentar convencer-nos que um pontapé no traseiro de um steward infiltrado no túnel da Luz, como agente provocador, merecesse quatro meses de suspensão daquele que é (para quem gosta de futebol…) um dos jogadores emocionantes do nosso tão pouco emocionante campeonato. Espero voltar ao tema em breve, mas, por ora, só queria registar isto: a prestação de Hulk no Restelo foi a única coisa que correu mal ao Benfica, no fim-de-semana passado. Agradeçam ao dr. Ricardo Costa.

Miguel Sousa Tavares n' A Bola.

domingo, 28 de março de 2010

Liga dos Campeões - Porto ganha

Belenenses 0 - FCPorto 3.






Formação - resultados de ontem

Sub-19: Campeonato Nacional de Juniores A
Gil Vicente-FC Porto, 0-5
(Christian, 51, 62 e 71m; Pipo, 75m; Claro, 90m)

Sub-13: Campeonato Distrital de Juniores D (I Divisão)
Progresso-FC Porto, 0-3
(Rui Varejão, 2m; Tiago Couto, 23m; Bruno Almeida, 27m)

Sub-11: Campeonato Distrital de Juniores E (Futebol de 7, Série 5)
Freamunde-FC Porto, 0-15
(Diogo Dalot, 1; Nuno Esgueirão, 1; António Pedro, 4; Zé Miguel, 3; João Félix, 1; Hélder Silva, 3; Paulo Estrela, 2)

Sub-10: Campeonato Distrital de Juniores E (Futebol de 7, Série 3)
Aliados de Lordelo-FC Porto, 0-16
(Bernardo Sousa, 1; Vítor Oliveira, 1; Fábio Vieira, 3; Diogo Andrezo, 5; António Mendes, 4; Nuno Oliveira, 2)

Sub-10: Campeonato Distrital de Juniores E (Futebol de 7, Série 4)
Paço de Sousa-FC Porto, 0-7
(Gonçalo Nunes, 2; Vasco Paciência, 3; João Mário, 2)

Basquetebol - Porto ganha

Depois da Taça Federação e em menos de dois meses, o FC Porto Ferpinta voltou a vencer o Benfica, equipa, que, desafiando qualquer lógica, preservava o qualificativo «invencível». Fê-lo, desta vez, no Dragão, em encontro da Liga e por 78-69. Mesmo privado de Greg Stempin, o mais influente do jogo azul e branco.

Capas de 28 de Março de 2010

sábado, 27 de março de 2010

Capas de 27 de Março de 2010

Pinto da Costa na Grande Entrevista na RTP1

Pinto da Costa é o convidado de Judite de Sousa na "Grande Entrevista" da próxima semana, sendo que o programa é transmitido excepcionalmente na terça-feira (21h00, RTP1). A conversa ocorre na sequência do acórdão do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol que alterou substancialmente a pena de suspensão aplicadas a Hulk e Sapunaru. Tanto o clube como os jogadores já anunciaram a intenção de pedir uma indemnização à Liga de clubes, cujo presidente, Hermínio Loureiro, acabou por renunciar ao cargo na sequência deste caso.

N' O Jogo.

É só desfazer as contas

Houve quem tivesse feito as contas e chegasse à conclusão que o FC Porto sem Hulk não é muito diferente do FC Porto com Hulk. A matemática é assim, fria e calculista, sem alma nem coração. Mas todos sabemos que o resultado da relação entre o FC Porto e Hulk não se pode resumir a uma equação matemática. O FC Porto sem Hulk até pode ganhar mais jogos, marcar mais golos e conseguir mais pontos do que o FC Porto com Hulk, mas não é a mesma coisa. O que o FC Porto perdeu sem Hulk foi muito mais do que os pontos que o brasileiro podia ter valido, ou os golos que podia ter marcado. Faltou-lhe a alegria, a intensidade, a explosão, a velocidade, a imprevisibilidade, a potência, os excessos, a energia, os devaneios, a técnica e a força de Hulk. Pois é. O que o FC Porto perdeu, o que o clube e os adeptos perderam quando perderam Hulk é tão impossível de resumir a uma equação matemática como qualquer outra paixão. Talvez um poema pudesse lá chegar. Já o que Hulk perdeu é quantificável. Em euros.

Jorge Maia n' O Jogo.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Capas de 26 de Março de 2010

Assumir responsabilidades

É evidente que o FC Porto, Hulk e Sapunaru foram prejudicados pela decisão da Comissão Disciplinar da Liga que o Conselho de Justiça agora reviu. E também é evidente que o FC Porto, Hulk e Sapunaru podem e devem pedir responsabilidades à Liga pelos prejuízos que sofreram. Mas também me parece evidente a necessidade do FC Porto, mas também de Hulk e Sapunaru resistirem à tentação de se montarem no bode expiatório que Ricardo Costa tão bem personifica para justificarem tudo o que lhes correu mal esta temporada. O pior que tanto o clube como os jogadores podem fazer é pensar que, se não fosse o presidente da CD e a sua grosseira, injusta e excessiva decisão, tudo estaria bem. Não é assim e tanto o FC Porto como os dois jogadores devem não só pedir contas à Liga, mas também assumir as suas próprias responsabilidades no que correu mal. Para que esta época seja uma excepção e não a regra é importante não repetir os erros de outros que passaram décadas a sacudir a água do capote e a arranjar desculpas para os respectivos insucessos.

Jorge Maia n' O Jogo.

Sentença tardia

NÃO fiquei surpreendido com a decisão do Conselho de Justiça da FPF. Não tenho formação jurídica nem sou especialista em justiça desportiva, mas apreendi a ler e a interpretar textos nos bancos da escola. Por isso, e ainda antes de ouvir as doutas opiniões e ler os pareceres jurídicos de muitas pessoas respeitáveis, expliquei nesta coluna porque razão os stewards não são agentes desportivos, ao contrário do que foi defendido neste jornal, que antecipou e adivinhou a sentença da Liga.
Não me conformei com a morosidade do processo nem aceitei a sentença, proferida numa lamentável conferência de imprensa em que um justiceiro em vestes de Pilatos confessou que a pena lhe parecia excessiva mas resultava da lei. Por essa altura, já era evidente para quem não se deixa cegar pela clubite aguda, que a desproporcionalidade da pena não resultava da letra ou do espírito da lei, mas da forma iníqua como esta fora interpretada.

Foi por isso que participei numa pacífica manifestação junto à sede da Liga, para fúria de alguns dos meus detractores, que têm saudades dos gloriosos tempos em que estes actos eram ilegais e em que o FC Porto era proibido de ganhar fosse o que fosse. Felizmente, e como vivemos em liberdade, temos o direito e o dever de protestar contra a injustiça.

Vivemos, também, num país onde há gente com decência, competência e bom senso, como agora se comprova. O CJ não absolveu os atletas do FC Porto, como não absolvera o seu Director de Comunicação, mas voltou a reduzir a sentença do CD da Liga, que já então fizera uma interpretação errada e dolosa dos regulamentos.

Pouco haverá a acrescentar sobre este caso vergonhoso. Infelizmente, a justiça chega tarde e a más horas, quer para o FC Porto quer para os seus jogadores, a quem resta exigir as indemnizações a que têm direito. A verdade desportiva nunca será reposta e o FC Porto não recorrerá à secretaria, porque esse não é o seu desporto favorito.

Logo que conheci a sentença do CJ, defendi que Hermínio Loureiro se devia demitir, como veio a acontecer horas mais tarde. Lamento que o faça pelas piores razões. É que, segundo nos conta José Manuel Delgado, Hermínio diz-se, imagine-se, indignado, não entendendo que são os portistas que têm direito a esse sentimento. O que lhe vale é que, nesta hora difícil, conta com o apoio do Benfica, que não esconde a sua gratidão pela sua missão e pelos serviços que prestou à causa da moralização e da credibilização.

Se o Benfica ganhar o campeonato, e por muito que tenha sido a equipa que melhor futebol jogou, essa moralização e credibilização terá contribuído para que o título fique indelevelmente ligado às toupeiras, da mesma forma que o seu anterior título ficou ligado ao Estorilgate. É essa, afinal, a triste conclusão deste caso, e o legado de Hermínio Loureiro e de Ricardo Costa para a história do nosso futebol.

O terceiro desastre
DEPOIS de Alvalade e de Londres, ainda nos faltava passar pelo calvário algarvio. Como me lembro do futebol dos anos sessenta, tenho dificuldade em concordar que esta é a pior equipa do FC Porto, mas não tenho pejo em afirmar que é a mais vulnerável e instável dos últimos trinta e cinco anos. Lamento, por isso, que Jesualdo Ferreira, por quem os associados sentem gratidão e estima, se tenha prestado aos episódios deprimentes que constituíram o flash interview e a conferência de imprensa no final do jogo. Só ele viu um jogo equilibrado e, se houve uma coisa que não esteve em campo, foi uma equipa digna das tradições de FC Porto.

Onde anda Bruno Alves?
Oque se passa com Bruno Alves? Não sei se está mal aconselhado ou triste por não ter sido transferido para Espanha, mas esse Eldorado só está ao seu alcance se voltar às grandes exibições. Imagino, também, que esteja acabrunhado por a sua equipa estar a jogar mal, e zangado por ter sido castigado pelo incidente com Tomás Costa. Nada disso explica as suas fracas exibições e, principalmente, o seu comportamento no Algarve onde, se estivesse sob a tutela de um treinador com um resquício de autoridade, teria sido substituído ao intervalo, depois de ter protagonizado uma cena lamentável aplacada por Nélson Puga, num jogo que só completou graças à benevolência do árbitro.

Que plantel para o futuro?
NÃO gosto de sentenciar jogadores, porque o seu rendimento depende de um conjunto de circunstâncias: da metodologia de treino e da forma física, do dispositivo táctico e da sua inserção na equipa, da sua motivação e estado de alma. Ainda assim, quando olhamos para o plantel do FC Porto neste final de temporada, e descontando a infelicidade das muitas lesões, é inevitável pensar que, para que a próxima época não seja um desastre, vai ser precisa uma revolução. Basta olhar para o meio-campo, para perceber que muita coisa terá de mudar. Fernando, Ruben e Meireles terão sempre lugar no plantel, mas que fazer com todos os outros que não se têm conseguido afirmar?

Equação difícil
PARA sustentar uma época sem as receitas da UEFA, o FC Porto deveria reduzir o custo do seu plantel através de dispensas, o que se complica por haver jogadores cujos salários excessivos não condizem com as suas qualidades e que não aceitarão rescindir os seus contratos. A alternativa passa por voltar a fazer mais-valias com os jogadores cujos passes têm valor comercial, que são precisamente aqueles de que o clube mais necessita por razões desportivas. É essa a difícil equação que se coloca à sua gestão. A solução passa por encontrar um treinador que mereça a paciência dos associados, porque vai ser preciso tempo para construir uma nova equipa competitiva, com um orçamento mais realista.

Rui Moreira n' A Bola.

Para o futuro

A decisão do Conselho de Justiça da FPF não vem repor nenhuma justiça no «caso do túnel da Luz» (porque a grave injustiça é irreparável), embora confirme a pantomineirice em que se transformou o arremedo de sistema jurídico em que agonizam os donos da bola. O responsável pelo primeiro castigo aplicado a Hulk e Sapunaru não pode, de nenhuma forma, compensar os prejuízos causados aos jogadores e ao clube – fica-lhe, simplesmente, colado o rótulo mais conveniente e que não é lisonjeiro.
Já a demissão de Hermínio Loureiro de presidente da Liga me parece mais suspeita e, declaradamente, um tiro no próprio pé – que o próprio Hermínio Loureiro, não merecia ter desferido. Em primeiro lugar, devia existir uma separação clara entre os objectivos da presidência da Liga e as decisões tomadas por um órgão como o CD, que devia ser (mas não é) independente. Ao demitir-se na sequência de uma decisão contrária ao CD da Liga, o presidente reconhece que um dos seus objectivos seria a aplicação de um castigo ao FC Porto e aos jogadores do FC Porto, mesmo se aquele se revelasse inadequado. Ou seja, confirma por este meio que uma desautorização a Ricardo Costa e ao CD é uma desautorização à sua presidência. Hermínio Loureiro, que é um político, devia ter sabido reconhecer a armadilha.

Evidentemente que o FC Porto foi prejudicado – e gravemente prejudicado. O que não serve para justificar uma temporada anódina e desportivamente fraca. Enfraquecido por processos jurídicos duvidosos e por manobras escandalosas (ou, para ouvidos delicados, no mínimo, «suspeitas»), o FC Porto devia ter-se precavido devidamente no plano estritamente desportivo, à semelhança do que aconteceu na época passada. Infelizmente, isso não aconteceu – pelo que têm inteira razão os que falam do «fim de um ciclo». Isso tem de ser encarado sem drama. Ao fim de quatro anos de invencibilidade, é preciso reorganizar as tropas, desenhar uma estratégia e traçar novos objectivos sobre o mapa do futebol. Nada mais natural.

Francisco José Viegas n' A Bola.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Taça de Portugal - Porto vence

Rio Ave 1 - FCPorto 3.


Comunicado da FCPorto - Futebol SAD

da FC Porto – Futebol, SAD comunicar o seguinte:

1 – O CJ da FPF decidiu convolar as penas de quatro e seis meses aplicadas a Hulk e Sapunaru, pela Comissão Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, em consequência das ocorrências no túnel do Estádio da Luz, após o Benfica-FC Porto de 20 de Dezembro de 2009;

2 – Depois de analisar o recurso apresentado pelos atletas do FC Porto, o CJ decidiu punir Hulk com suspensão de três jogos e multa de 2.500 Euros e Sapunaru com suspensão de quatro jogos e multa de 4.500;

3 – Ao contrário da CD da LPFP, o CJ da FPF concluiu que a conduta de Hulk e Sapunaru «integra, por violação do disposto no art. 18º, nº 4 do RC, a infracção disciplinar grave» punível «pelo art. 120º, j) do RC da LPFP com suspensão de 1 a 4 jogos e multa de 750 a 3750 Euros»;

4 – Fica assim desmontada mais uma habilidade despudorada perpetrada pela CD da LPFP e exibida em praça pública por uma lamentável sede de protagonismo. Resta saber se o «acto de contrição» que agora se impõe terá o mesmo exibicionismo mediático;

5 – Desde a suspensão imposta pela CD da Liga a Hulk e Sapunaru passaram 17 jogos das competições nacionais e mais de três meses. Como teria sido o desempenho do FC Porto nestes compromissos, caso os dois atletas estivessem, como deviam ter estado, disponíveis e quais os reflexos desta aberração na classificação da Liga 2009/10? Será que a verdade desportiva foi defendida?;

6 – Fica novamente comprovada a perseguição da CD da LPFP ao FC Porto e a cegueira persecutória de Ricardo Costa, ratificada, ao melhor estilo de Pôncio Pilatos, pelo presidente da LPFP, Hermínio Loureiro. Recorde-se que, ainda recentemente, o mesmo Hermínio Loureiro afirmou que o seu papel se limitou a criar condições para que os órgãos da LPFP funcionem. Nem que seja sem rigor, de forma grosseira e com arbitrariedade…;

7 – Este, de resto, será o facto mais marcante do mandato dos actuais órgãos dirigentes da LPFP. O futebol não esquecerá o péssimo serviço que lhe prestaram nesta matéria e, por conseguinte, só lhes resta uma saída: Obviamente, demitam-se!;

8 – A FC Porto – Futebol, SAD já deu instruções aos seus advogados para intentarem as competentes acções de responsabilização e indemnização, quer dos membros da CD da LPFP, quer da própria instituição.

Capas de 24 de Março de 2010

terça-feira, 23 de março de 2010

Capas de 23 de Março de 2010

Uma questão de potencial

Durante os últimos anos, durante quase toda a última década, os adeptos do FC Porto viveram sob a pressão constante de terem de lidar com a enorme margem que a sua equipa tinha para piorar. Tome-se a última época como ponto de partida: depois de vencer o campeonato, depois de ganhar a Taça de Portugal e de garantir a presença nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, onde só caiu aos pés do Manchester United de Cristiano Ronaldo, Rooney e companhia, o potencial para fazer pior esta temporada era enorme. Ora, se nos últimos anos o FC Porto foi capaz de se reinventar a si próprio para contrariar esse potencial e se afirmar consistentemente como a melhor equipa portuguesa, este ano parece inevitável entregar esse título a outros. Claro que ainda há a Taça de Portugal para ganhar, mas, no contexto actual, convém aos adeptos do FC Porto não darem nada por garantido. Ou quase nada. Afinal, tal como aconteceu aos principais adversários durante os últimos anos, as coisas estão tão mal que, por uma vez, é garantido que têm muito por onde melhorar.

Jorge Maia n' O Jogo.

Qual será o prémio dos srs. administradores, este ano?

1 Filmados lado a lado no final do jogo, no Estádio do Algarve, Pinto da Costa e Adelino Caldeira eram a imagem exuberante da derrota. Não apenas da derrota no jogo, na Taça da Liga ou na época toda, mas da derrota inapelável de um modelo de gestão que consiste em destroçar a equipa todos os anos, vendendo todos os grandes jogadores para comprar carregamentos de indigentes futebolistas sul-americanos.
Agora, que tanto se fala dos prémios dos gestores, públicos e privados, e que os actuais dirigentes da SAD do FC Porto estão a explicar em tribunal a legitimidade de prémios auto-atribuídos há anos atrás, vale a pena levantar a questão que já aqui levantei há tempos: se os administradores da SAD do FCP recebem prémios quando o clube gera lucro (o que acontece uma vez por década) e também o recebem quando o clube gera prejuízo mas obtém vitórias desportivas, o que deverão eles fazer quando, como vai ser o caso, acumulam prejuízos financeiros e desaires desportivos? A mim, parece-me que deveriam reembolsar o clube dos prémios recebidos anteriormente. Ou isto é uma gestão por objectivos, mas sem riscos?

O que eles vão fazer, porém, já todos sabemos: apresentar aos sócios a cabeça de Jesualdo Ferreira, para assim tentarem desviar as atenções dos erros próprios de que são responsáveis. Jesualdo aguentou até onde pôde e até ganhou três campeonatos com equipas refeitas cada época. Mas bastou que o Benfica abrisse os cordões à bolsa, para que os contentores de argentinos do dr. Caldeira mostrassem a sua total impotência, não apenas para manter a hegemonia, mas para lutar de igual para igual.

É verdade que Jesualdo parece, ele próprio, perdido já. A sorte não o tem ajudado este ano (25 jogadores lesionados ao longo da época num plantel de 28, Hulk emboscado no túnel da Luz e afastado num momento crucial, e a própria sorte dos jogos decisivos, tudo tem estado contra ele). No Algarve, a história de Alvalade e Londres repetiu-se, quase igual: um golo oferecido logo aos 9 minutos, no primeiro remate do Benfica, e outro, no segundo remate, também a 50 metros e à beira do intervalo, dão cabo de qualquer estratégia e qualquer ânimo. Mas quem é que o manda meter o Nuno à baliza, numa final? Já Mourinho tinha feito o mesmo, numa final do Jamor, em 2004 e pagou isso com a derrota— e já então, o guarda-redes suplente que avançou chamava-se... Nuno. Eu conheço a explicação, mas ela não faz sentido algum: o Beto mostrou que estava em condições de substituir o Helton e é, como todos sabemos, muito melhor guarda-redes que o Nuno. Os sócios, os que pagam quotas e lugares cativos, querem é vitórias e essas conseguem-se com os melhores jogadores a jogar e não com aqueles que têm direito estabelecido a uma atenção especial do treinador. E, depois, se Jesualdo percebeu que tinha de tirar o Rúben Micael ao intervalo (desaparecido em combate há um mês), estando, ainda por cima, a perder por 2-0, qual foi a ideia de meter o Valeri, em lugar do Orlando Sá, para terminar com a solidão pungente do Falcao? Ó professor, o sr. ainda não entendeu que o Valeri não serve nem para marcar cantos?

Concedo que o Benfica não mereceu, de forma alguma, uma vitória por 3-0: nada fez por isso, ela caiu-lhe ao colo. Num jogo mau de mais, jogou tão mal ou quase quanto o FC Porto. Mas era ao FC Porto que cabia a despesa do jogo, apesar de jogar em ambiente hostil e apesar da notícia terrível da lesão do Varela. Sobretudo, depois que Jorge Jesus fez o favor de ter dispensado de início o Saviola e o Cardozo — com isso pretendendo não apenas poupar uma equipa muito mais desgastada, mas também, quero crer, para compensar as ausências de Hulk e Varela no FC Porto e assim jogar com armas iguais.

Ao contrário do que disse Jesualdo no final, o FC Porto não teve «uma atitude à FC Porto». Quem a teve, em parte, foi o Benfica — e foi isso que fez a diferença. O FC Porto não teve nem atitude nem futebol. Nem crença nem ciência. É uma equipa em queda a pique.

2Em Marselha, sim, o Benfica teve uma verdadeira «atitude à FC Porto» e Jorge Jesus teve qualquer coisa de Mourinho, na confiança que soube dar aos jogadores, na coragem durante o jogo e no conhecimento perfeito do adversário que revelou ter. Eu tinha apostado com amigos na vitória do Benfica (e na eliminação do Sporting...) e não fiquei surpreendido. Claro que o Benfica é melhor equipa que o Marselha, mas isso, às vezes, não quer dizer nada— o FC Porto também é melhor equipa que o Sporting e levou 3-0 em Alvalade... Apostei na vitória do Benfica exactamente pela atitude de conquista e vitória que tem mostrado ao longo de toda a época e que, há muito, muito tempo, ninguém lhe conhecia. Isso, mais a capacidade incrível de atacar em velocidade e em segundas vagas consecutivas, é o que mais me impressiona no trabalho de Jorge Jesus. Junto-lhe a ausência de arrogância de que tem dado mostras ao longo da época e a regeneração de jogadores por quem eu não dava muito, e confesso que ele me surpreendeu e imenso. Pena aqueles gestos desnecessários e que tão mal lhe ficaram durante o Benfica-Nacional... Mas ninguém mais do que ele merece o título que aí vem.

3E, assim, para grande irritação de alguns portistas, reafirmo, uma vez mais, os elogios que tenho feito, desde o início da época, ao futebol jogado pelo Benfica. Isso não me incomoda nada: acima de tudo, gosto de futebol e tento (sabendo que muitas vezes o não consigo) ser justo com o que vejo.

O que me incomoda, sim, é que os elogios aproveitem a tantos benfiquistas que os não merecem. Daqueles que, inversamente, nunca foram capazes de reconhecer mérito às vitórias portistas dos últimos anos e que agora estão empenhados em mostrar que têm tão mau vencer como antes tinham mau perder. Para não ir mais longe, fico-me por dois cronistas benfiquistas deste jornal: Sílvio Cervan e Araújo Pereira. As suas crónicas são um permanente incitamento ao ódio anti-portista, uma viscosa repetição do jogo de ressabiamentos e suspeitas permanentes com que alimentaram anos a fio a sua incapacidade de ganhar — uma doença contagiosa e malsã. Ainda esta semana, em lugar de celebrarem justamente a vitória de Marselha, ambos preferiram lançar as habituais suspeitas prévias sobre o árbitro do jogo do Algarve — que, por acaso, foi o primeiro classificado dos últimos dois anos (o Araújo Pereira chegou ao ponto de afirmar que ia haver um Super Dragão à solta no relvado). E o mesmo tipo de discurso adequado a acirrar os ânimos andou a fazer, uma vez mais, o presidente do Benfica — perante o silêncio absoluto, já habitual e que se recomenda, do lado do FC Porto. E depois «escandalizam-se» se as claques (que eles protegem e incentivam) proporcionam aqueles espectáculos degradantes que afastam do futebol os que lá vão para se divertirem, verem um bom jogo e vibrarem com o seu clube.

4 É, como disse, uma doença contagiosa e que, pelos vistos, também infecta os autoproclamados «cavalheiros». Viu-se agora com as declarações irresponsáveis do dirigente sportinguista Salema Garção, que culminaram na forma como as claques verdes receberam os adeptos do Atlético Madrid, em Alvalade: à pedrada. Mesmo que Alvalade não venha a ser interditado pela UEFA, a mim parece-me que tarda a demissão de Salema Garção — e por iniciativa própria. Eu conheço quem tenha deixado de ir ao jogo depois de ouvir na rádio o relato dos incidentes estimulados pelo dirigente sportinguista. E, salvo melhor opinião, não é para isso que servem os dirigentes.

5Desta vez, Fernando Mendes concretizou: disse ao «Diário de Notícias», preto no branco, quais os clubes por onde passou e onde o doping era o pão nosso de cada dia — Belenenses e Boavista. O Boavista ganhou assim um campeonato ao FC Porto: não há uma «Pastilha Dourada» que o investigue?

PS: O Benfica, com o rei na barriga, vem agora reclamar da cobertura dos seus jogos pela Sport TV. Bem, quem reclama sou eu: os comentários do Marselha-Benfica, por momentos, fizeram-me regressar ao tempo do Estado Novo e do patrioteirismo mais saloio que imaginar se possa. A obsessão do comentador com o trabalho do árbitro (chegou a sugerir que ele queria agradar a Platini, por o Marselha ser francês) atingiu tamanho delírio, que se transformou num insuportável ruído de fundo permanente, que nem deixava prestar atenção ao jogo. Na última meia hora tive de o ver em silêncio, porque já não consegui suportar mais.

Miguel Sousa Tavares n' A Bola.

sábado, 20 de março de 2010

Capas de 20 de Março de 2010



Olha a hora!

À falta de melhor explicação, sobra esta: a calendarização da Taça da Liga revelou pouca fé na habilidade europeia dos clubes portugueses, sobretudo os que estavam na Liga Europa. Se há muito que se sabia que a final seria no Algarve - justificação que ouvi esta semana, acompanhada por um encolher de ombros na reacção às críticas geográficas -, também há muito que o calendário da UEFA estipulava que os oitavos-de-final da Liga Europa acabariam por dinamitar o intervalo necessário para viabilizar a final hoje, como chegou a ser pensado. No meio de tanto desmazelo e de uma verdadeira falta de bom senso, valeu à Liga o nome dos finalistas para muito provavelmente garantir boa casa e fazer de conta que será um sucesso, mesmo que seja um sucesso desnivelado nas cores. Se a localização é discutível, mas aceitável, o dia e a hora têm explicação mais difícil. Só faltava dizer agora que é para encurtar o tempo de presença dos adeptos no Algarve - terão de regressar depressa se forem trabalhar... - e assim evitar confrontos depois do jogo.

Hugo Sousa n' O Jogo.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Capas de 19 de Março de 2010

A final conta

Entre várias expressões tipicamente brasileiras de que sou fã, há uma que sempre achei particularmente inspirada: "conversa para boi dormir". Parece-me a mais apropriada para comentar a aparente tentação de desvalorizar, ou secundarizar, esta final da Taça da Liga. Por muito que se esforcem - ou venham a esforçar-se em declarações futuras, de um ou outro lado -, esse é o jogo psicológico mais inverosímil que se possa imaginar. Aliás, podem até substituir a taça por uma saco de feijões que vai dar ao mesmo: um FC Porto-Benfica nunca será irrelevante, secundário ou o mais que a imaginação puder ditar; perder ou ganhar um jogo desses não é indiferente. Os treinadores podem sempre tentar desvalorizar, numa jogada estratégica de tirar pressão antes e depois, salvaguardando eventuais resultados desfavoráveis. Mas se pensarem bem, se pensarem à Porto ou à Benfica, também isso será opção muito discutível. Pensar em grande passa, e muito, por coisas pequenas.

Hugo Sousa n' O Jogo.

O regresso de David

DEPOIS do desastre londrino, não se podia esperar nada de bom da deslocação a Coimbra. E a verdade é que só se salvou o resultado e o empenho de alguns jogadores. De resto, a exibição confirmou que, até ao fim da época, o que de bom suceder será uma agradável surpresa.
Como tem sido costume quando as coisas correm mal, voltou a haver um sacrificado. Desta vez foi Fucile, que estivera desastrado em Londres, mas que não terá sido, nem de longe nem de perto, o único responsável. Será que Jesualdo, que apontara os erros individuais como a principal razão do desastre colectivo dessa noite, precisava de apontar o dedo a esse réu excluindo-o da convocatória, ou terá querido proteger o seu pupilo? Haverá nisso alguma vantagem, do ponto de vista da gestão do balneário?

O problema é que, pela mesma lógica, também Jesualdo vai sendo apontado como o único responsável pela época falhada. Aliás, e tendo mais um ano de contrato com o clube, a escolha do seu sucessor é o principal tema das conversas entre adeptos. Ora, sendo certo que o treinador não esteve isento de culpas por muito do que sucedeu, nomeadamente no jogo de Londres, onde terá sido ele a cometer o maior dos tais erros individuais, a verdade é que o seu insucesso não deve servir para esconder erros de gestão que são evidentes neste fim de ciclo.

Seria bom que este tempo de ressaca servisse para reavaliar o modelo de negócio e escolher uma nova estratégia de afirmação do clube. Da mesma forma que não interessa queimar o plantel e o treinador, também não chega dizer que esta gestão já ganhou tudo o que havia a ganhar e que por isso se conclua que é ingrato questionar ou até debater as suas políticas, da mesma forma que não se pode aceitar que, de repente, sejam alguns dos que caucionaram as políticas e participaram na gestão a aproveitar a crise para apontarem, tardiamente, os seus erros. Esses ajustes de contas de nada servem, da mesma forma que a glória passada não pode impedir uma discussão sobre o futuro.

O mérito da gestão do clube, que lhe valeu o reconhecimento fora de portas que a inveja nacional nunca tolerou, esteve sempre na sua capacidade de ser um David que conseguia vencer os Golias. Com Pinto da Costa, o FC Porto começou por dominar o panorama doméstico com orçamentos muito inferiores aos da concorrência. Depois, com a participação regular e bons desempenhos na Liga dos Campeões, e sabendo valorizar os seus activos, sedimentou a sua hegemonia à custa de um orçamento superior, que escondeu alguns vícios. Agora, sem as receitas da Europa e sem grandes negócios à vista, esse ciclo chegou ao fim. O desafio que se coloca a Pinto da Costa é o de encontrar um modelo adequado aos novos constrangimentos e a sua autoridade incontestada exige que seja ele a assumir pessoalmente a responsabilidade de recriar uma equipa à imagem de David, enxuta e sustentável, mas mortífera e vencedora.

Alta rotação, baixa identidade
UM dos problemas do modelo de negócio que o FC Porto adoptou, nos últimos anos, é que obrigou a uma grande rotação do plantel. Basta ver que, num jogo tão importante como o de Londres, metade dos titulares, excluindo o guarda-redes, eram jogadores que estão na sua primeira época no FC Porto. Ora, a questão de identidade, que é sempre relevante, sempre foi um dos segredos do sucesso do clube, como os seus antigos treinadores e jogadores não se cansam de atestar e que Baía, numa recente entrevista, veio recordar. Ninguém duvida que há jogadores com mérito na falange argentina, mas falta, nesta equipa, um líder em campo e, mais do que isso, um núcleo duro que jogue à Porto.

A Taça da importância
A Taça da Liga não é um troféu importante, nem servirá para salvar a época desportiva. O que importa é que o FC Porto vai jogar com o Benfica, e os adeptos de ambos os clubes olham para este encontro com atenção redobrada. A rivalidade, porque é apenas disso que se trata entre aqueles que gostam de futebol, exigirá que as duas equipas se apresentem no Algarve com a intenção e a vontade de ganhar. São essas as contas, e não há outros argumentos. Depois, se o FC Porto ganhar como se exige, resta esperar que o plantel aproveite essa ocasião soberana para se reconciliar com os adeptos, a quem tem dado muitas tristezas e poucas alegrias. Tudo o resto é, convenhamos, de somenos importância.

Táctica de avestruz
DE acordo com um comunicado, «a Administração da FC Porto SAD demarca-se desde já do acto eleitoral da LPFP que se avizinha; o FC Porto não irá participar no mesmo, muito menos apoiar quem quer que seja nesse processo eleitoral». Tudo isto porque este jornal publicou uma notícia sobre o tema que o clube reputa de falsa. Ora, não há razão que justifique que o FC Porto opte pela marginalização e deixe, por abstenção e ausência, que a portofobia se perpetue na Liga. E, se porventura o clube quer esconder a sua táctica, então que se remeta ao silêncio. Não, não é um critério jornalístico que vai a votos, nem é A BOLA quem organiza as competições, comanda a arbitragem ou controla a disciplina…

Panos e nódoas…
ANTÓNIO BORONHA, que anda há muitos, muitos anos no futebol, aproveitou o regresso do Marselha a Lisboa, vinte anos depois, para revelar um delicioso episódio que presenciou, por ocasião do célebre jogo que a mão de Vata sentenciou. A história envolve «a equipa de arbitragem chefiada por Langenhove, César Correia e Alder Dante, que os acompanhavam, e dois funcionários do Benfica, sendo um deles... loura e bonitinha» e decorreu após o jogo, num famoso cabaret. Não sei se Ricardo Araújo Pereira já escolheu o tema da sua próxima crónica, mas à falta de novas sobre o FC Porto, prometo-lhe que esta «estória», como Boronha lhe chama, é palpitante e será, estou certo, inspiradora.

Rui Moreira n' A Bola.

Regresso à bola

TENHO andado com a cabeça ocupada a fazer e a refazer o plantel do FC Porto para a próxima época, tendo em conta que há lesões caídas do céu e que há jogadores cujo talento desaparece no relvado sem que ninguém dê conta. Não vale a pena construir grandes metáforas nesse aspecto – não sei como estão as coisas em matéria de liderança, mas sei que o plantel tem de alterar-se, salvo erro.
Há treinadores que melhoram jogadores, evidentemente (e Jesualdo Ferreira é um deles, desde que não se chamem Tomás Costa, Guarín ou Mariano, por exemplo, e Deus sabe como todos nos enganamos); mas os clubes também deviam entrar neste campeonato, servindo-se "do mercado" com parcimónia. O FC Porto fê-lo com notoriedade, valorizando a bolsa e a bolsa da SAD, mas a abundância alimenta distracções mais do que juízo. Sabem do que estou a falar.

Se, por hipótese (vejam a modéstia), o FC Porto não se classificar para a Champions, pode dizer-se que está aí uma oportunidade de ouro (ou várias), uma pérola que não convém desperdiçar. Explico porque são várias: em primeiro lugar, porque só deve merecer jogar no FC Porto quem for «um jogador do FC Porto», ou seja, se for capaz de assumir a tradição e os valores do clube, que não é apenas uma plataforma para saltar «para a Europa»; em segundo lugar, porque certa míngua de recursos financeiros serve para introduzir algum juízo na gestão do plantel, sem mencionar que a necessidade aguça o engenho – juízo e engenho, coisas que de que o FC Porto está precisado; em terceiro lugar porque, o clube não pode continuar a rodar fora de casa, eternamente, jogadores que fazem falta lá dentro e que não perdem em comparação com o clube de tango actual. Isto, para ficarmos por aqui.

Pode dizer-se que se trata de um regresso à bola, propriamente dita, aproveitando para deixar as contas limpas e em ordem. Está na altura de encerrar um ciclo e de iniciar um novo, esperando que o hiato seja curto (um Verão bastaria). É dos manuais da especialidade: não se joga bom futebol sem bons jogadores.

Francisco José Viegas n' O Jogo.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Clássico secundário

Jesus disse ontem que a final da Taça da Liga é um jogo secundário. Pode parecer chocante desvalorizar dessa forma o único troféu que os encarnados venceram nas últimas três épocas, mas o futebol é conjuntura e, pelos vistos, na actual, o Benfica pode dar-se ao luxo de desconsiderar a Taça da Liga. Em boa verdade, o FC Porto fez mais ou menos o mesmo nas últimas duas épocas por ter coisas mais importantes com que se entreter. De resto, a verdade é que o valor facial da Taça da Liga é pouco mais do que zero. Ora, o zero é um número ambíguo: sozinho não vale nada, mas se o pusermos do lado certo de outro, pode multiplicar-lhe o valor exponencialmente. A Taça da Liga também é assim: sozinha, não vale quase nada, mas colocada ao lado de um título de campeão ou até de uma Taça de Portugal, pode multiplicar-lhe o valor de forma exponencial. Por isso mesmo, o jogo de domingo não é secundário para o FC Porto. Aliás, desconfio que também não o seja para o Benfica. Primeiro porque não há clássicos secundários e depois por

Jorge Maia n' O Jogo.

Capas de 18 de Março de 2010

quarta-feira, 17 de março de 2010

Capas de 17 de Março de 2010

O que faz falta

O Zeca Afonso dizia numa música que "o que faz falta", entre muitas outras coisas, "é animar a malta" e "acordar a malta" e "agitar a malta" e "libertar a malta". Imagino que não lhe passasse pela cabeça que um dia alguém se lembrasse de pegar no poema e usá-lo para falar de futebol, até porque tinha coisas mais importantes com o que se preocupar, mas, como também disse a personagem do carteiro de Pablo Neruda no filme do mesmo nome, a poesia não é de quem a escreve, é de quem precisa dela. E a verdade é que o poema do Zeca serve como uma luva ao plantel do FC Porto. O que faz falta àquela malta é quem a anime, acorde, agite e liberte, não necessariamente por esta ordem. O facto é que o plantel do FC Porto anda desanimado, adormecido, letárgico e amarrado e falta-lhe quem seja capaz de lhe recordar quem é, de onde vem e para onde tem de ir. Pedro Emanuel nunca teve dúvidas sobre nenhuma dessas coisas e pode muito bem ser exactamente "o que faz falta".

Jorge Maia n'O Jogo.

Pedro Emanuel: chave da mística

Recuperar Pedro Emanuel para o balneário da equipa principal, integrando-o na futura estrutura técnica, independentemente de quem a venha a liderar, é um dos cenários que está a ser ponderado pelo FC Porto. A hipótese, que terá de ser encarada como tal porque ainda está muita coisa por definir relativamente à próxima época, pelo menos ao que dela transpira para o exterior, visaria reforçar uma tradição muito comum no clube: a de capitalizar a experiência e a mística de antigos jogadores, como já acontece com João Pinto ou Rui Barros. Pedro Emanuel, que foi capitão de parte substancial dos jogadores que compõem o actual plantel, tem a vantagem de conhecer bem o grupo, junto do qual consolidou uma imagem de liderança, e, além disso, o primeiro ano como treinador, mesmo que nos juniores B, não lhe está a correr nada mal.

Esta solução, apesar de assentar em princípios lógicos, dependerá sempre, como já se disse, do cruzamento com outras decisões que serão tomadas até ao final da época. A começar pela definição à volta do treinador. O assunto é, como facilmente se compreenderá, sensível: as especulações à volta do futuro de Jesualdo Ferreira, que ainda tem mais um ano de contrato, não são novas, mas, havendo duas finais que podem valer outros tantos troféus, e não estando encerrada a luta matemática do campeonato e/ou do acesso à Liga dos Campeões, o mais provável é que, até Maio, as notícias sobre essas matérias sejam vistas como rumores, cuja filtragem se torna cada vez mais difícil à medida que a época avança.

Outro dado importante a ter em conta, e que até pode reforçar a tal hipótese Pedro Emanuel, passa pela eventual saída de alguns jogadores associados a uma imagem de liderança no balneário, como Bruno Alves ou Raul Meireles e, por outro lado, pela anunciada aposta em jogadores com trajectória de formação: Nuno André Coelho faz parte do plantel; Ukra renovou recentemente; Castro tem sido apontado também ao plantel da próxima época. Ou seja: num ou noutro caso, garantir a identidade também passa muito por acrescentar à máquina quem tenha experiência na matéria, como é o caso de Pedro Emanuel. Ou João Pinto, ou Rui Barros. Mais: já desde as bases do Projecto Visão 611, que implicou a reformulação das camadas jovens, que a ideia é, progressivamente, reforçar a dinâmica de proximidade ao clube, a todos os níveis.

Jorge Maia, Hugo Sousa e Tomaz Andrade n' O Jogo.

terça-feira, 16 de março de 2010

Capas de 16 de Março de 2010

Entrevista a Lucho n' O Jogo

Que análise faz ao comportamento do FC Porto? Concorda com a ideia de que a equipa quebrou sem Lucho e Lisandro?

Vou ouvindo o que as pessoas dizem. É verdade que dizem isso. Saíram alguns jogadores importantes. Não nos podemos esquecer que passámos lá quatro anos de sucesso com vários títulos conquistados. Mas, sinceramente, não me parece que seja por causa da nossa ausência que o FC Porto está nessa situação. O que se passa é que o FC Porto está num processo de transformação. Todos os anos saem um ou dois jogadores importantes e depois é preciso reequilibrar a equipa. Chegaram também muitos jogadores e precisam de tempo para se adaptarem ao clube, como aconteceu comigo aqui no Marselha. Esses jogadores estão ainda a assimilar as exigências de um clube como o FC Porto. Não tenho dúvidas de que dentro de algum tempo irão adaptar-se e triunfar. É o que sempre acontece.

Está a referir-se, por exemplo, a Rúben Micael e Belluschi?

Não estou a individualizar.

Mas um e outro já foram apontados como seus substitutos...

Não há dois jogadores iguais. Quando cheguei ao FC Porto comparavam-me muito com o Deco e nós somos jogadores completamente diferentes. Isso são uma vez mais, coisas da Imprensa, que gosta dessas comparações. Eu não gosto! Tanto o Belluschi, como o Rúben Micael, como o Tomás Costa, como o Valeri, são grandes jogadores e se o FC Porto os contratou é porque sabe que em algum momento serão muito importantes. É lógico que eles entraram num novo ciclo. Eu também quando cheguei ao FC Porto precisei de algum tempo de adaptação.

O momento que atravessa a equipa também tem influência no rendimento desses jogadores?

Quando as coisas correm bem é muito mais fácil. Felizmente, para mim, quando cheguei ao FC Porto conseguimos ganhar e ser campeões. Tudo se tornou mais fácil... Mas não tenho dúvidas de que irão responder às exigências.

Em algum momento pensou terminar a sua carreira no FC Porto?

Passou pela minha cabeça e, ainda hoje em dia, ainda penso que pode ser possível. Não é muito bom falar agora porque estou a defender outra camisola e pode ser entendido como uma falta de respeito para com o Marselha e até com os jogadores que estão no FC Porto, mas no futuro se verá.

Percebe-se que ainda vive com muita intensidade o FC Porto?

Sim, foi muito marcante. Foram quatro anos muito marcantes para mim. E não falo apenas no clube, falo também na cidade do Porto. Toda a gente me tratou maravilhosamente.

Jesualdo Ferreira também tem sido contestado. Considera injustas algumas críticas que se fazem ao treinador do FC Porto?

O que eu sei é que o Jesualdo Ferreira é um grande treinador. Deu muito ao FC Porto e o FC Porto também lhe deu muito. Tanto Jesualdo como os dirigentes do FC Porto irão tomar as melhores decisões em benefício do clube.

Lições de vida

1 Há duas coisas que eu acho que o FC Porto não pode mesmo fazer mais: voltar a atravessar o túnel da Luz sem uma escolta de policias, testemunhas e operadores de filmagem, e voltar a jogar em Inglaterra para a Liga dos Campeões.
A questão inglesa já vem muito de trás. Que me lembre, desde os tempos de José Maria Pedroto, quando tudo a que se aspirava, quando se tinha de jogar nas Ilhas, era «aguentar» os primeiros vinte minutos. A humildade era tanta, o espírito de derrotados à partida era tamanho, que já se considerava uma proeza aguentar os vinte minutos iniciais sem sofrer golos e sem ser logo postos fora da eliminatória. Trinta anos depois, por incrível que pareça, nada de essencial mudou. As equipas mudam, os treinadores conhecem bem melhor os adversários, o clube acumula títulos e experiência internacional e, todavia, não há nada a fazer: assim que pisa um relvado inglês, o FC Porto borra-se de medo. A mesma equipa, os mesmos jogadores que, noutros palcos e até perante adversários mais temíveis, conseguem tantas vezes agigantar-se e contrariar o destino aparente, chega a Inglaterra e parece um bando de rapazes que aprendeu a jogar à bola em jogos de amigos, domingo à tarde, e que, de repente, tem de enfrentar um grupo de profissionais da coisa. Trinta anos de tareias, de humilhações, sem uma única vitória para inglês ver, já é mais do que um cadastro de frustração desportiva, é um caso clínico grave.

Não creio, de forma alguma, que a explicação tenha estado na surpreendente inclusão de Nuno André Coelho a trinco — o coelho que Jesualdo Ferreira sacou da cartola. É verdade que não é normal que o treinador aproveite um jogo daquela importância para fazer a estreia absoluta a titular de um jogador, e logo numa posição onde ele nunca tinha estado. E também é verdade que esta ideia de inovar nos jogos mais difíceis lá fora, experimentando um esquema que a equipa não conhece, é, desde há muito, solução sagrada (e sempre falhada) dos treinadores portugueses. Mas não foi por aí que o FC Porto soçobrou daquela maneira indecorosa. Para já, Nuno André nem sequer esteve mal, dentro do desastre global. Pior, bem pior foi ver o Fucile oferecer quatro golos, o Rolando à deriva, completamente perdido, o Rúben transido de medo sem acertar um passe, o Hulk a insistir em marrar de cabeça baixa, como um touro cego. Não era preciso ser psicólogo para observar desde o início o desastre que se preparava e as suas razões: os passes sistematicamente curtos revelavam o cagaço de jogar de que a equipa estava possuída, a incapacidade de transportar o jogo para a frente e sair a atacar mostrava quanto os rapazes tinham pudor e terror de poder despertar a besta. E só quando, enfim, o Arsenal chegou aos 2-0, aproveitando tranquilamente duas ofertas daquele pobre corpo expedicionário português, é que os bons rapazes do Porto descontraíram e começaram a mostrar que também percebiam umas coisinhas daquilo — porém, sem nunca se atreverem a cometer a ofensa de poderem vir a profanar o véu da noiva. Como se o facto de também eles darem uns toques e trocarem bem a bola chegasse para salvar a honra e voltar a casa «de cabeça erguida». Desgraçadamente, porém, nem a sorte estava com as nossas cores, nem os ingleses costumam levar isto a feijões: em Inglaterra, joga-se para ganhar, joga-se até ao fim e respeita-se muito os pagadores de bilhetes e os patrocinadores, que são quem permite pagar aqueles fabulosos ordenados aos artistas. E os gunners não tiveram piedade e, pelo sim pelo não, preferiram desconfiar do jogo inócuo dos portistas e do respeitinho que estes, todavia, bem mostravam: três, quatro, cinco. E não se fala mais nisso.

É claro que precisamos, contudo, de ser realistas: o Arsenal é um dos melhores clubes do mundo, tem um orçamento e receitas dez vezes superiores às do FC Porto e, jogador por jogador, é infinitamente melhor equipa (e ainda lhe faltavam o Van Persie e o Fabregas). Em cinco jogos, ganhará sempre quatro ao FC Porto. O que não precisa é de ser de forma tão humilhante.

Não alinho no coro dos executores públicos de Jesualdo Ferreira. Desde o princípio, sempre o apoiei — criticamente, embora. Mas não penso que a equipa seja melhor do que ele ou que ele esteja aquém do que ela merece. É uma equipa com muitas limitações de qualidade, algumas gritantes, e que sempre aqui assinalei: a última vez, na semana passada. Acho que Jesualdo conseguiu sempre, ao longo dos últimos quatro anos, o máximo que a equipa podia dar: chegar aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. E ainda ganhou três campeonatos. Agora, sobre o futuro, falaremos mais adiante.

2 Melancolicamente de regresso ao nosso futebolzinho, passei o fim-de-semana a ver melan- cólicos jogos de futebol. Não sei se seria possível melhorar drasticamente a qualidade daquilo que vemos por comparação com os jogos dos grandes campeonatos. É verdade que a diferença de orçamento não permite ter aqui à mão os grandes executantes que vemos em Espanha, em Itália, em Inglaterra, em França ou na Alemanha. Mas também é verdade que a qualidade média dos jogadores portugueses é superior, em regra, à dos demais: por algum estranho fenómeno da genética, os falantes de português, de cá e de lá do Atlântico, têm tendência a nascer com um talento especial para este jogo. E o que me parece é que esse talento podia ser melhor aproveitado — ou, ao menos, o espectáculo melhorado — com algumas coisas simples.

A primeira dessas coisas que me salta logo à cabeça (e da qual já tenho falado várias vezes) é a qualidade dos relvados e, em especial, a sua dimensão. O grande futebol e o futebol ofensivo precisam de espaço; o futebol pequenino, defensivo, anti-jogo, precisa que lhe encurtem os espaços. Se juram (o que não acredito) que todos os campos da Liga Sagres têm obrigatoriamente as dimensões mínimas, então passem a exigir as dimensões máximas: vão ver como o jogo melhora logo.

A segunda coisa passa por reeducar os árbitros para defenderem a qualidade do jogo. Erros, sempre houve e haverá, aqui e em todo o lado, como bem sabemos — a diferença é que aqui os erros são sempre suspeitos. Mas consentir no anti-jogo, não defender os melhores jogadores das entradas dos caceteiros, isso é sempre uma decisão voluntária do árbitro. Em nenhum dos campeonatos a sério eu vejo tantas interrupções por supostas lesões de jogadores como aqui. E é sempre da parte da equipa que está a defender o resultado — o que quer dizer que não é inocente, mas sim uma atitude e uma «táctica» deliberada. Se os jogadores se habituaram a esses truques, se os treinadores só conhecem essa escola, cabe aos árbitros, em última análise, defender o jogo dos batoteiros. E o mesmo se diga das entradas a matar que eles toleram: vejam, por favor, a entrada assassina do Cris sobre o Cristian Rodríguez no Académica-FC Porto desta semana e digam-me como é que um árbitro se pode limitar a mostrar um amarelo àquilo!

3 Segundo «A Bola», o Benfica ganhou no Funchal «à campeão». Que foi a única equipa que fez por ganhar, é verdade. Mas, sinceramente, não sei se o teria conseguido sem o que me pareceram dois erros de arbitragem em dois minutos e que resolveram, numa altura decisiva, o que estava embrulhado: um penalty inexistente e desperdiçado e um golo off-side.

Vi a segunda parte do Braga contra o Rio Ave e, por mais que eu reconheça o mérito deste David batendo-se contra os Golias, e por mais que o trabalho de Domingos Paciência me encha de alegria pelo respeito e reconhecimento que lhe tenho, confesso que ainda não foi desta que eu consegui perceber o segundo lugar do Braga. E ainda não foi desta que lhe consegui ver um arremedo de bom futebol. Parece-me evidente que não ganhará o campeonato e também me parece que também já não deixará fugir o segundo lugar. E, infelizmente, também me parece que só um milagre o levará depois a conseguir entrar na Liga dos Campeões. E assim se perderá uma vaga e uma oportunidade para marcar pontos no ranking da UEFA.

Miguel Sousa Tavares n' A Bola.