terça-feira, 30 de junho de 2009

Comunicado da F.C. Porto – Futebol, SAD

A Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD, nos termos do artigo 248º nº1 do Código dos Valores Mobiliários, vem informar o mercado que chegou a um acordo de princípio com o Olympique de Marseille para a cedência, a título definitivo, dos direitos de inscrição desportiva do jogador profissional de futebol Lucho Gonzalez pelo valor de 18 milhões de euros.

O montante global a receber por esta transferência poderá atingir os 24 milhões de euros, dependendo da performance desportiva do clube que o atleta irá representar.

Mais se informa que a formalização final deste acordo está dependente da celebração do contrato de trabalho do atleta com o Olympique de Marseille, assim como da conclusão dos exames clínicos a que se irá submeter, com o consentimento da Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD.

O Conselho de Administração

Porto, 30 de Junho de 2009

Até à vista e obrigada por tudo

Lucho, El Comandante, vai para o Marselha. Tenho pena. Agradeço tudo, obrigada Lucho, boa sorte.

Capas de 30 de Junho de 2009


Virtudes

Antes de mais, convém avisar que gosto de lugares comuns. Sinto que facilitam a comunicação. Afinal, por definição, todos reconhecemos um lugar comum quando o vemos e isso poupa imensas explicações desnecessárias. Quando alguém diz que no meio está a virtude, por exemplo, todos sabemos que se refere à necessidade de moderação e normalidade em contraponto com atitudes mais extremas. Curiosamente, a expressão também se pode aplicar ao futebol. Muitas vezes, é no meio que está a virtude. Era lá, no meio-campo, que moravam os míticos números 10, por exemplo. No FC Porto tetracampeão as virtudes até estavam divididas entre defesa, meio-campo e ataque e nem sequer existia um desses 10 ilusionistas, mas mesmo assim, havia muita virtude no meio. De resto, o futebol desenhado por Jesualdo Ferreira exige um meio-campo assim, virtuoso, diligente e generoso, tão influente no ataque como na defesa. E é por isso que, a confirmar-se a saída de Lucho, é inevitável a entrada de quem garanta que no meio continua a virtude.

Jorge Maia n' O Jogo.

O tudo ou nada

1 Luís Filipe Viera vai então ser reconduzido presidente do Benfica esta sexta-feira, tendo previamente garantida a vitória com uma manobra eleitoral ao estilo Hugo Chávez. Afastados os opositores que o poderiam assustar com o golpe palaciano da antecipação das eleições, devidamente denunciados como oportunistas ou testas-de -ferro dos Filipes de Espanha os que se atreveram a contestar publicamente a propaganda pessoal montada ao seu serviço, Vieira vai assim tranquilamente para um terceiro mandato, em que, todavia, o benefício da dúvida junto dos sócios há muito se esgotou.
Seis treinadores em sete anos, alguns 40 jogadores contratados, 25 milhões investidos no plantel no ano passado e, contas feitas, apenas um título de campeão (e sem convencer ninguém), um quarto lugar e um terceiro nas duas últimas épocas, dois anos consecutivos fora da Champions. O presidente do Benfica sabe bem que, se voltar a falhar este ano, o clima se lhe tornará tão insuportável, que talvez se tornem inevitáveis novas eleições antecipadas, mas então contra a sua vontade. Por isso, ele declarou já que não lhe venham falar do aumento do défice, que o deixem gastar dinheiro à vontade — ou então, não lhe exijam títulos. Já vai em 16 milhões de contratações esta época e ameaça não ficar por aí, ao mesmo tempo que promete não vender ninguém (esta, uma promessa fácil de cumprir, porque, na verdade, não vejo ninguém ali, nem o Luisão, que desperte o interesse de um clube disposto a pagar dinheiro que se veja pelas vedetas sobejantes dos 50 milhões investidos no ano passado: eu, pessoalmente, não quereria, para o plantel do FC Porto, um só dos que constituiem o do Benfica. Um só).

Quer isto dizer que apenas uma de duas hipóteses se colocam a médio prazo para o presidente do Benfica: ou se sagra campeão este ano, garantindo também o acesso à Champions, e, nesse caso, o aumento do défice será facilmente esquecido e perdoado por uma massa associativa sedenta de títulos a sério; ou falha uma vez mais o campeonato e estará sentado à frente de uma SAD vencida e arruinada.

Quer isto dizer, também, que prevejo uma época de conflitos sem fim, com um clima de cortar à faca — de que já foi eloquente exemplo o jogo com o Sporting para decidir o título dos juniores. Para agravar as coisas, Vieira, Rui Costa e o Benfica apostam tudo em Jorge Jesus, que é um treinador de conflito fácil e verbo incontinente. Neste capítulo, ele entrou à Mourinho, copiando o discurso do Grande Zé, quando ele chegou ao FC Porto e declarou «para o ano somos campeões». Lembro-me bem que, na altura, caíram os guardiões da «verdade desportiva» em cima de Mourinho, achando até suspeito que ele anunciasse a vitória por antecipação. Mas o mesmo dito pelo treinador do Benfica é aceitável e até mais do que recomendável. Acontece, porém, um pequeno detalhe: não é Mourinho quem quer, e Jorge Jesus não é. Pode ser que vença logo no ano de estreia, mas não vão ser favas contadas, como foi para Mourinho triunfar no FC Porto e em três anos colocá-lo no topo da Europa.

Adivinho, pois, um Benfica crescentemente impaciente, para dentro e para fora, a protestar contra tudo e todos quando as coisas não lhe correrem de feição e convencido, como de costume, que lhe basta alinhar vedetas como Aimar ou Saviola ou outras tidas como tais, para que o mundo lhe caia aos pés e todos se disponham a prestar-lhe vassalagem. Desde que Fernando Martins deixou de ser presidente do Benfica e o Benfica deixou de ganhar, que a cultura de vitória (que antes decorria naturalmente de uma supremacia visível) passou a assentar numa espécie de «direito natural» à vitória, como se os outros não existissem, não competissem e não tivessem também o direito de vencer. E, nesse aspecto, mais milhão menos milhão investido, mais mandato presidencial e mais propaganda pessoal feita, não vejo que nada se tenha susbstancialmente alterado agora.

A ver vamos. Mas aposto que o campeonato que aí vem — a menos que, surpreendentemente, o FC Porto desabe, o Sporting se mostre excepcionalmente limitado e o Benfica comece a vencer e a convencer logo de entrada — vai ter momentos irrespiráveis pela pressão benfiquista em vencer a qualquer preço.

2 Fernando Mendes — o único futebolista português que jogou nos cinco clubes campeões nacionais — esteve à beira de lançar uma granada em pleno coração do futebol português. «Jogo Sujo» — o livro que ele agora lançou, em parceria com o jornalista Luís Aguillar — era para ser uma denúncia documentada, com nomes e datas, do universo escondido do doping no futebol profissional. Mas, afinal e segundo ele confessou ao «Expresso» recuou, a conselho do seu advogado. Manteve as denúncias, mas escondeu os nomes dos clubes, dos médicos, dos treinadores, dos responsáveis daquilo que ele define como «histórias que merecem ser contadas».

Mesmo assim, quando fala das experiência de doping num clube que «tinha um líder carismático e uma grande equipa» — e depois de excluir das suspeitas Benfica, Sporting e FC Porto — toda a gente, como ele aliás diz, sabe de que clube está a falar. Então, vou eu dizer o nome que ele não se atreveu a dizer, o nome para que apontam todas as suspeitas levantadas no seu livro: está a falar do Boavista. Do Boavista que foi campeão nacional, na virada deste século.

Não é surpresa para ninguém, aliás. Quem estivesse atento ao futebol, via claramente coisas muito estranhas naquele Boavista, e à boca grande comentava-se isso no meio e alguma imprensa deu conta, timidamente, de inquéritos policiais que desaguavam em massagistas e farmácias cujos nomes faziam parte do mesmo enredo. Mas nunca se passou daqui — das suspeitas não confirmadas, das revelações em off-the record, das conversas nas tribunas presidenciais dos estádios. Ou seja, tudo acabou como de costume: em suspeitas.

E houve duas razões para que acabasse assim. Por um lado, porque havia um consenso politicamente correcto (e que eu próprio subscrevia) de que o «histórico» Boavista — que, no tempo de Pedroto, estivera à beira de ganhar um campeonato ao Benfica — já merecia a honra de ser campeão nacional. Por outro lado, porque, nesse ano em que finalmente o foi, o Boavista só teve um rival na corrida e até ao fim: o FC Porto. Muito cedo, nessa época, Benfica e Sporting ficaram arredados da luta pelo título e esta ficou restringida aos dois maiores clubes da cidade do Porto. Tivessem as coisas sido diferentes, tivesse um dos grandes de Lisboa disputado o campeonato até ao fim contra o Boavista, e certamente que o penoso silêncio que cobriu as suspeitas de que todos falavam ter-se-ia tornado numa gritaria ensurdecedora. Mas, não, tal como as coisas aconteceram a nível de resultados, houve um consenso em considerar aquele campeonato uma luta de compadres do Porto e um desejo assumido de que o Boavista evitasse mais um título para os azuis-e-brancos. O Boavista acabaria por se sagrar campeão com um ponto de avanço sobre o FC Porto — graças, em medida decisiva, ao jogo do Bessa, onde Vítor Pereira teve a mais infeliz actuação da sua carreira e ofereceu a vitória de bandeja aos do Bessa. O único consolo do FC Porto foi acabar o campeonato a dar 4-0 ao novo campeão, no Estádio das Antas. Quanto à substância da história, um manto de silêncio politicamente correcto desceu sobre o assunto. Até hoje.

Talvez, em coerência com a sua actuação de há um ano atrás em relação ao FC Porto, o CD da Liga devesse chamar Fernando Mendes a depor e esclarecer o que nunca foi esclarecido. Por uma questão de justiça histórica. Para que, das duas uma: ou as suspeitas fiquem enterradas de vez, ou sejam confirmadas em factos e deles se extraiam as consequências devidas. Eu sei que seria esperar demais, mas sugerir não ofende.

Miguel Sousa Tavares n' A Bola.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Capas de 29 de Junho de 2009


Insubstituível

Um ex-director meu com um sentido de humor duvidoso costumava dizer-me que de insubstituíveis está o cemitério cheio. Ora, o FC Porto é a prova viva e irrefutável de que, de facto, não há insubstituíveis. Desde 2003/04, quando venceu a Liga dos Campeões batendo o Mónaco em Gelsenkirchen, o FC Porto vendeu Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Deco, McCarthy, Pepe, Anderson, Quaresma e Bosingwa. Pelo meio, deixou de contar com Baía, Jorge Costa e Alenitchev, entre muitos outros. Apesar disso, foi sempre capaz de encontrar as soluções que lhe permitem ostentar o título de tetracampeão nacional. A perda de Lucho, um dos jogadores mais influentes da equipa ao longo dos últimos quatro anos, não será fácil de ultrapassar, mas ele não participou nos últimos oito jogos da última temporada e o FC Porto não deixou de ser campeão e de vencer a final da Taça por causa disso. Lamentável é que o último jogo de El Comandante com a camisola do FC Porto tenha ficado marcado pela sua lesão frente ao Manchester United. Ainda assim, mesmo pensando que era um "até já", nessa noite o Dragão despediu-se dele em pé, com uma ovação estrondosa. Afinal era um "adeus".

Jorge Maia n' O Jogo.

sábado, 27 de junho de 2009

Superleague Formula 2009

O FC Porto vai partir do sexto lugar para a primeira corrida da Superleague Formula 2009, que se realiza este domingo, a partir das 11h00, em Magny-Cours (França). O carro tripulado por Tristan Gommendy foi dos mais rápidos durante a fase inicial da qualificação de hoje, mas acabou prejudicado por algumas dificuldades com os pneus.

FCPorto na final da Taça de Portugal de Andebol

Madeira SAD 31 - FCPorto 32.

Capas de 27 de Junho de 2009


sexta-feira, 26 de junho de 2009

Capas de 26 de Junho de 2009


Empréstimos com retorno

Num futebol limitado pela dimensão reduzida de um mercado que os três principais clubes dividem entre si, os empréstimos de jogadores são simultaneamente um recurso fundamental para os mais pequenos, uma forma de elevar o nível de um campeonato que seria consideravelmente mais fraco sem eles e uma janela de oportunidade para jogadores que não têm espaço de afirmação nos respectivos clubes. Numa altura em que a falta de competitividade do campeonato nacional é uma preocupação permanente no discurso de alguns responsáveis, uma Liga sem jogadores como Renteria, Nuno André Coelho, Leandro Lima, Zoro e Fábio Coentrão, entre muitos outros, seria certamente uma Liga mais pobre. Sobra a questão da utilização desses jogadores contra as equipas que os emprestam. Uma questão que os ingleses resolveram de forma simples: os jogadores emprestados pura e simplesmente não podem jogar contra as equipas que os cedem, evitando-se dessa forma a suspeição que se pode abater sobre eles. Por outro lado, em Inglaterra cada clube só pode emprestar um jogador a um clube adversário. Acontece é que o nível geral do futebol inglês, ao contrário do português, depende muito pouco dos jogadores emprestados.

Jorge Maia n' O Jogo.

Um Garruço à Milanesa

NINGUÉM, seguramente, acredita na versão «dentária» invocada pelo AC Milan para não realizar o negócio que estava apalavrado com o FC Porto e, também, com o seu futebolista Aly Cissokho. Claro que uma situação tão pouco usual teria de gerar boatos e houve logo quem garantisse que o jogador tinha uma pubalgia ou que tinha um problema de idade igual ao do Leandrinho e não faltaram os comentários jocosos de adeptos de outros clubes que, à falta de vitórias, se entretêm a celebrar qualquer contratempo do FC Porto.
Ora, o que agora transparece, com o interesse renovado dos italianos, confirmado pela imprensa transalpina e nomeadamente pela insuspeita Gazetta dello Sport, é que se tratou de um bluff que correu mal. Aliás, quando os italianos apresentaram uma contraproposta de 11 milhões de euros pelo passe, horas depois de terem anunciado o chumbo nos exames médicos, percebera-se que o parecer não era inibidor da contratação.

Naturalmente, se o bluff tivesse tido outro clube como alvo, é muito provável que a jogada tivesse resultado e que tudo se resolvesse, no fim, com uma redução do preço.

Mas Pinto da Costa anda nisto há 30 anos e não é pessoa para se deixar tentar, intimidar ou enganar. Por isso, e por muito que custe aos súbitos admiradores portugueses do grande clube italiano, o negócio só se concretizará nos termos que foram acordados.

Os rossoneri terão pois de optar entre confirmar a transacção, deixando ao Milan a tarefa de resolver a oclusão dentária do atleta, ou perder o jogador.

Mas, nesta última hipótese, e ainda que o lateral-esquerdo fique prejudicado, o FC Porto sairá a ganhar. Porque, para além de ficar com um excelente jogador, ficará, também, com o seu prestígio reforçado pela exibição de firmeza e pela afirmação da sua capacidade negocial.

Rui Moreira n' A Bola.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Capas de 24 de Junho de 2009


Entrevista a Raul Meireles

Aprecia a diferença e cultiva uma imagem rebelde, apesar da timidez que diz ser-lhe característica. Raul Meireles recebeu O JOGO no Algarve, onde está a passar férias com a família, e não escondeu o desejo de experimentar outros campeonatos. Mas não faz disso obsessão, porque, garantiu, está feliz no clube e até admite estar pronto a assumir maior protagonismo, dado o adeus de Pedro Emanuel. Que lamentou, como lamenta as críticas que fazem ao FC Porto após um mau resultado. Raul explica o que é ser médio de transições, congratula-se com a continuidade de Jesualdo Ferreira e acredita que é possível melhorar o desempenha da época passada.

O Raul vale os 30 milhões da cláusula de rescisão?

Não faço a mínima ideia. Se o Bruno tem cláusula de 30, o Lisandro outros 30, e o Lucho também deve andar por aí, eu não vou ter de dez. É uma questão de equilíbrio. Se o Ronaldo valeu 94 milhões, qualquer jogador do FC Porto pode valer, no mínimo, 20.

É um valor que pode afastar os interessados?

Acho que não. Essa é a cláusula, mas, se houver um clube que dê menos, o FC Porto, conforme as suas necessidades, poderá negociar.

Falou-se no Marselha e no Sevilha como estando interessados em si. Gostava de sair?

Qualquer jogador tem o pensamento de experimentar coisas novas, outros campeonatos, e eu não fujo à regra. Estou muito feliz no FC Porto, na minha cidade e no meu clube, mas, se surgisse uma oportunidade de sair, não a desperdiçava. Jogar no campeonato espanhol, italiano ou no inglês é diferente do que em Portugal. Qualquer jogador tem esse sonho.

Existe essa possibilidade até 31 de Agosto?

Não sei. Estou satisfeito no FC Porto. Se for bom para mim e para o clube, temos de conversar.

Da parte do FC Porto, a ideia é que o Raul continue, por isso foi-lhe renovado o contrato. Pronto para se assumir como uma das figuras do balneário?

Estou pronto para me assumir como um dos mais antigos e experientes. Figura, não. Sou mais um para ajudar.

O Real Madrid pagou 94 milhões de euros pelo Ronaldo. O mercado está doido?

É complicado… Se pagou, é porque achou justo. É o melhor do Mundo e merece ser recompensado financeiramente por isso. Quem sou eu para julgar?

Quanto valeu o golo no Dragão nesse negócio?

Sei que valeu bastante tristeza do nosso lado e alguns milhões de prémio para o Manchester.

Se fosse cidadão espanhol, sentia-se incomodado com esta transferência, sabendo que quase 20 por cento da população está desempregada?

Se calhar. Não tinha pensado bem nisso. Mas é normal que os espanhóis se sintam incomodados, porque estamos a atravessar tempos difíceis. É complicado, até porque ninguém esperava que aparecem este tipo de negócios como o do Kaká e o do Ronaldo.

Se o Raul, Lucho e o Fernando não saírem, será uma vantagem para o FC Porto?

Sem dúvida. Em qualquer equipa, o meio-campo é fundamental, e dou como exemplo o meio-campo do Barcelona. Enchia-me os olhos vê-los jogar. Conseguirmos manter os jogadores será importante, mas é como tudo: se alguém tiver de sair, e este ano o Lucho esteve lesionado, vamos conseguir manter o nível.

O FC Porto já contratou jogadores para todos os sectores, menos para o meio-campo. É uma prova de confiança?

Sim. Além dos que jogaram com mais regularidade, temos o Guarín e o Tomás Costa, jogadores de qualidade que estão prontos a jogar.

Surpreende-o Bolatti ser figura do campeonato argentino?

Não, porque tem muita qualidade, mas não se adaptou à forma como o mister queria que ele jogasse. O Bolatti não é um Fernando.

Ainda se fala português no balneário?

Sim, mas com pronúncia.

Viu chegar argentinos e uruguaios. O que é que eles acrescentam à equipa, além do que se vê em campo?

O Lucho e o Lisandro, jogadores de topo, foram os primeiros e, sendo um povo mais quente, têm outras características. Por exemplo, o beijinho que damos como cumprimento foi trazido por eles. Foram chegando outros sul-americanos e foram acrescentando as músicas dos respectivos países, um pouco da sua cultura, o mate... O balneário ganhou com isso, porque eles fazem um excelente ambiente.

A sua figura extrovertida transforma-se com os microfones à frente. Porquê?

Sou muito tímido e, para ser o que sou, preciso de ganhar confiança. À frente dos microfones, sou mais introvertido. Sou uma pessoa bastante alegre e feliz.

Que se preocupa com o estilo?

Gosto, mas não ao ponto de me preocupar, porque sei que o meu estilo provoca bastantes críticas. Preocupo-me é em olhar para o espelho e estar satisfeito comigo.

Aprecia a diferença?

Bastante. Sou adepto de cada um criar o seu próprio estilo.

Quando fez a primeira tatuagem?

Aos 18 anos, com a minha mulher. Fizemos um desenho tribal igual. A partir daí foi sempre a andar, mas todas têm algum significado. Sempre gostei de coisas diferentes e, quando fiz a primeira, gostei de olhar para o espelho e ver o desenho na minha pele. Fui fazendo mais e conhecendo esse mundo que me fascina. Há quem seja uma verdadeira tela humana. Não fui influenciado por ninguém, este gosto apareceu de forma natural. Quando comecei a fazer tatuagens, era impensável ver alguém com o braço todo tatuado, agora já não.

Para quando a próxima?

Primeiro tenho de acabar uma num dos braços, mas já tenho várias ideias daquilo que quero fazer. Falta saber por onde vou começar. Não quero ficar com o corpo todo tatuado, mas grande parte.

O Real Madrid gosta pouco que os seus jogadores tenham tatuagens. O FC Porto coloca algum problema?

Não. Quando faço uma, mostro ao doutor. Fazer em certas partes do corpo talvez possa limitar movimentos em termos de treinos e por isso procuro fazê-las no início das semanas para estar em condições, quando houver jogos.

A Ivone, a sua mulher, é uma grande influência para si?

Completamente. Aquilo que sou, devo muito a ela. Conhecemo-nos muito cedo, e a minha fase profissional foi toda feita com ela ao meu lado. Está sempre disponível para o que for preciso.

Nas férias há tempo para futebol?

De todo. Já não sou de ver futebol durante o ano. Faço o meu trabalho, mas não chego a casa e ligo a televisão para ver futebol. Tenho a minha família, que precisa de atenção e eu preciso da dela. Tenho sempre uma semana sozinho com a minha mulher, e o resto junto aos meus pais e aos meus sogros.

Nuno disse que Jesualdo é o melhor técnico a formar jogadores. Consegue justificar?

Ele tem razão no que disse. Quando chegou ao FC Porto, após a saída de Adriaanse, a época estava a começar, e a forma como ele abordou a mudança foi fantástica. Vínhamos de uma táctica que era o 3-4-3 ou 3-3-4, e ele disse logo que aquela não era a sua táctica, mas que não a podia mudar de um dia para o outro. Por isso treinávamos a táctica dele à semana e fazíamos os primeiros jogos com a táctica antiga, passando por um processo de adaptação. Depois havia jogadores que já estavam tão habituados a jogar daquela forma, como o Pepe e o Paulo Assunção, que teve de lhes explicar tudo ao pormenor. Esse trabalho é dos mais fortes dele. O exemplo mais visível que tenho é o do Fernando. No início, ele jogava, mas sentia-se preso. O professor insistiu com ele, fez-lhe ver o que queria, e o Fernando teve uma evolução fantástica. O mesmo se aplica ao Mariano, embora a um nível diferente.

A continuidade do treinador foi uma questão de justiça?

Claro. Desde que chegou conquistou muitas coisas e já batemos muitos recordes. A saída dele não podia acontecer, era impossível. Toda a gente o queria, e ele, acima de tudo, merecia continuar.

Uma das metas que o técnico traçou para a próxima época é tentar conquistar o campeonato sem derrotas. Os jogadores estão preparados para esse desafio?

Estão, e é possível isso acontecer. Este ano não andámos longe. Será muito difícil, e seguramente o professor tem noção disso, mas traduz a confiança que tem nos jogadores.

Por outro lado, se acontecer uma derrota, sabem que o mundo vos vai cair em cima?

Isso só aumenta a responsabilidade. Se não conseguirmos, paciência. O importante é sermos campeões no fim.

Vamos ter um campeonato só com treinadores portugueses. Isso aumenta a dificuldade para o FC Porto?

É um facto que os treinadores portugueses têm mais conhecimento da Liga, mas não sei se será uma vantagem para os rivais. Deve ser igual para todos.

Uma das críticas feitas a Quique Flores era a de que não conhecia o futebol português…

Exacto, mas o Co Adriaanse também não conhecia e foi campeão. Não é por aí. Não quero falar muito do Benfica, mas se calhar teve uma equipa que não lhe deu muitas hipóteses de ter sucesso, que foi o FC Porto.

O Milan estava disposto a pagar 15 milhões de euros pelo Cissokho. Foi uma valorização excessiva em apenas meio ano?

O Cissokho é um caso à parte. Esteve muito bem no Setúbal e chegou ao FC Porto porque necessitávamos de um lateral. Foi dos jogadores que tiveram uma adaptação fora do normal, sobretudo a nível do sistema táctico. Completou o lado esquerdo, e os jogos que fez na Champions foram de muito bom nível. Despontou rápido, mas não me surpreende um clube como o Milan dar 15 milhões.

Que lhe pareceu a questão dos dentes. Soou a desculpa de arrependido?

Toda a gente o viu jogar, e a forma física dele era agradável. Pode ter sido uma desculpa, não sei bem porquê. Talvez um problema nas negociações. De certeza que o departamento médico do FC Porto, que é muito rigoroso, não permitiria uma situação dessas. Houve qualquer coisa extradentes, digamos assim.

Férias merecidas depois de tantos festejos?

Foi um ano muito bom. Conseguimos a dobradinha, o tetra, e acho que podíamos ter ido um pouco mais longe na Liga dos Campeões. Estivemos muito bem.

E a nível pessoal, qual é o balanço?

Positivo pelo nível e regularidade que conseguir manter.

O melhor da carreira?

Pode dizer-se que sim. Até pelos títulos que consegui e por ter conseguido o meu espaço na Selecção.

O tetra vai merecer uma tatuagem?

Não. Disseram que tinha feito uma sobre o tri, só porque tenho três estrelas no pescoço, mas não foi por causa disso. Pode vir a acontecer, mas não está nos meus planos. Se calhar, uma do penta ficaria melhor.

Dos quatro títulos, qual deu mais gozo vencer e qual o mais difícil?

Este deu mais gozo, apesar de o primeiro ser sempre mais especial, porque as coisas no início não correram muito bem e toda a gente nos quer deitar abaixo, mas já estamos habituados a isso no FC Porto. Na Champions, também começámos mal e acabámos em primeiro do grupo.

Consegue explicar as razões do "deitar a equipa abaixo"?

Talvez por estarmos a ganhar muitas vezes. Somos os campeões dos últimos anos, e qualquer coisinha serve para criticar. Muitas vezes, a Imprensa não tem motivos para o fazer, porque estamos em primeiro e jogamos bem, mas, se tivermos um deslize, até mesmo um empate serve, criticam. Se virmos, os outros grandes da Europa também não ganham todos os jogos.

A equipa sentiu que podia ter feito história na Champions?

Sem dúvida. Quando saiu o Manchester, praticamente ninguém acreditava no que podíamos fazer, mas chegamos a Old Trafford e fizemos aquele grande jogo. Isso é de uma grande equipa. No segundo jogo, aconteceu-nos o que lhes aconteceu lá, que foi sofrer um golo cedo. Ainda assim, podíamos ter dado a volta. Foi uma desilusão, porque sentíamos que éramos capazes de seguir em frente.

Custa-lhe ver o Boavista na situação em que está?

Custa muito, porque, quando era pequeno, era fanático pelo Boavista e habituei-me a ver aquele clube a jogar para ganhar. Cumpri o meu primeiro sonho, que era chegar aos seniores, e adorei. Quando saí e vi que o clube começou a ir para baixo, percebi que as pessoas que estavam à frente do clube não gostavam dele, caso contrário isso não aconteceria. Não posso dizer aquilo que eram, mas não eram boavisteiros do coração nem gostavam do clube. Não é normal ver isto num clube que foi campeão há pouco tempo.

A solução passaria por imitar o Salgueiros e recomeçar do zero?

Pelo menos, as pessoas que têm dinheiro a haver, que não são poucas, ficavam com a certeza de que não o iriam ver, mas também não eram enganadas. Seria a melhor solução. Ou então que caísse um anjo e conseguisse colocar ordem naquilo.

Jesualdo Ferreira apontou-o como o melhor médio de transição do futebol português. O que é isso?

É tentar receber a bola na direcção da baliza do adversário e, em vez de progredir com ela no pé, jogar o mais simples possível e procurar que a bola chegue rápido aos avançados. É isso que o professor me transmite desde que chegou ao FC Porto. Sinto-me lisonjeado pelas palavras do meu treinador, e ao mesmo tempo aumentam-me a responsabilidade: tenho de conseguir fazer ainda melhor no futuro.

Esta época foi dos jogadores com mais assistências. Tem a ver com a saída de Quaresma ou mudou a forma de jogar?

Com o Quaresma, jogava de forma diferente, porque tínhamos dois extremos e um ponta-de-lança. Esta época jogámos com o Hulk e o Lisandro a maior parte das vezes e com o Rodríguez como o único extremo. Se calhar, participei mais nos processos ofensivos do que no passado.

Chegou ao FC Porto no Verão de 2004. Olhando para o que a equipa ganhou nos anos anteriores, sente que se atrasou um bocado?

Não. Cheguei quando tinha de ser. Fiquei muito orgulhoso, porque estava a ser contratado pelo campeão europeu e é preciso ter qualidade. Se chegasse mais cedo, seria excelente porque teria trabalhado com um grande treinador [Mourinho] e tinha ganho mais uns títulos.

Qual a importância de Co Adriaanse no seu percurso?

Enorme para vários jogadores e para o clube. Vínhamos de um ano mau, e o FC Porto esteve bem ao contratá-lo, porque era muito rigoroso e impunha regras, que era do que precisávamos. Incutiu estilo de jogo e de treino diferentes e muitos jogadores, inclusive eu, evoluíram com ele. Apesar de ter algumas coisas menos correctas.

Foi fácil o entendimento com Fernando, depois de alguns anos com Paulo Assunção?

Foi, porque eu e o Lucho jogamos há muito tempo juntos e já sabemos o que fazer. É verdade que, com o Paulo, jogávamos quase de olhos fechados. O Fernando era o jogador no plantel com características mais parecidas com ele, embora sejam bastante diferentes. Estava habituado a que as minhas costas estivessem protegidas, e o Fernando, mesmo tendo mais qualidade técnica que o Paulo, cumpriu e completámo-nos em campo. Com o tempo, ele foi aprendendo o posicionamento e esteve muito bem, numa posição muito difícil.

Como é que um jogador com o seu físico aguenta os 90 minutos?

Trabalho normalmente e não tenho qualquer cuidado especial. Todos os jogadores têm de aguentar. Apesar de ter este corpinho franzino, tenho de aguentar.

Por si, Pedro Emanuel continuava a jogar?

Continuava até aos 40 anos. Sei que o que vou dizer pode custar um bocadinho aos dirigentes do FC Porto, mas se calhar não foi a decisão mais acertada. O Pedro era como um pai para nós. Mesmo não jogando, tinha um respeito e admiração enorme dos companheiros. Uma coisa é ser capitão a jogar e outra não sendo opção do treinador. O papel do Pedro era bastante importante. Quando era preciso alguma coisa da Direcção, era o Pedro que tratava, e a sua saída vai ser muito sentida. Encontrar um jogador para fazer o que ele fazia é impossível. Claro que vamos continuar para a frente e com vitórias, mas vamos sentir muito a falta dele.

Se o Bruno Alves sair, quem poderá assumir esse papel?

O Lucho e o Nuno, que será o que melhores características tem para se assumir como líder do balneário. O Lucho é um bom líder, mas não tão falador.

O Pedro Emanuel terá sucesso como treinador?

Pela experiência de vida que teve, vai ter muito sucesso. Fez uma boa opção ao escolher começar pela formação, era isso que ele queria. Foi um choque para mim, porque não estava à espera que fosse tão cedo.

Carlos Gouveia n' O Jogo.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Capas de 23 de Junho de 2009


«Assalto» ao Glorioso

1 Os ditadores modernos nunca se assumem como tal, até porque têm sempre a seu favor poder reclamar a legitimidade democrática de uma eleição. A sua sabedoria consiste exactamente em saber perpetuar-se no poder, preparando as eleições de forma que não possa nunca haver outro vencedor. O nosso poder autárquico está cheio de casos destes, a que chamam os «dinossauros» do poder local; o poder regional tem o exemplo supremo, à escala mundial, do grande líder Jardim, vencedor de 27 eleições e há 30 anos no poder; o mundo futebolístico abunda em exemplos semelhantes, de que o mais conhecido e antigo é o de Pinto da Costa no FC Porto, e o último em data o de Luís Filipe Vieira no Benfica. A diferença (e estamos a falar de e futebol e competição) é que, enquanto que Pinto da Costa é um vencedor, Vieira é um perdedor — que fala grosso mas voa baixinho.

2 Já se conhece de cor e salteado a ladainha de Luís Filipe Vieira: ele está no Benfica com grande sacrifício pessoal e familiar e só faz o obséquio de se recandidatar e recandidatar para não entregar o clube a «aventureiros» e «oportunistas» — que agora querem vir colher os frutos que ele semeou em anos em que «recuperou a credibilidade» para a «instituição» e tornou a «marca Benfica» a coisa mais apetecível do mercado português (não esquecendo as vitórias desportivas: o inesquecível campeonato Trapattoni e uma coisa chamada Taça da Liga, conquistada a meias com Lucílio Baptista).

Viera passa os anos de mandato a fazer a sua auto-propaganda pessoal, percorrendo o povo benfiquista de lés a lés, e produzindo densos discursos de exaltação da sua pessoa. E passa o último ano dos mandatos a alertar contra os traidores que lhe querem roubar o lugar — esse crime de lesa-majestade! — atrevendo-se a disputar eleições contra ele. Este ano, com eleições previstas para Outubro, Vieira detectou no ar um cheiro a «instabilidade» insuportável e a conspiração adiantada. E foi então que lhe ocorreu o brilhante contra-golpe de antecipar eleições, tão rápidas e tão surpreendentes que, pensava ele, iria apanhar toda a oposição de calças na mão, preparando tranquilamente as eleições de Outubro.

3 E tudo estava assim pacificamente orquestrado, quando, quarta-feira passada, por entre o folclore do candidato que aluga um avião para impressionar o pagode e outros que querem ser e não podem ou podem mas não querem, começa a circular o nome de um candidato absolutamente inesperado e verdadeiramente vindo de outro planeta: José Eduardo Moniz.

Durante toda a quarta e quinta-feira, os homens de Vieira tremeram na Luz: agora eram eles que não estavam preparados para aquele súbito desafio. Quinta-feira, quando cheguei à TVI, cerca das 18.30, o ambiente era de desalento entre a redacção. Havia um sentimento de orfandade antecipada no ar, mesmo entre os benfiquistas. Moniz foi o homem que ergueu a TVI do nada, o homem que é capaz como poucos de formar e liderar equipas, alguém que, como o próprio diria depois, quando se mete numa coisa é para ganhar. E, a esse hora da tarde, na TVI, como no Estádio da Luz, a convicção geral era de que ele ia mesmo avançar.

Às 20.10, ainda José Eduardo Moniz por ali andava, assistindo, como de costume, ao arranque do Jornal Nacional, e não dando a ninguém a mais pequena hipótese de adivinhar qual era a decisão que já tinha tomado e que comunicaria daí a pouco, em directo para o País. E às 21.05, ele começou a falar, de um hotel de Lisboa. Arrancou à José Eduardo: directo ao assunto, sem contemplações nem meias palavras, longérrimo dos jogos florais do «futebolês» a que estamos habituados, verdadeiramente vindo de outro planeta para desassossegar o planeta dos vencidos. Duvido que tenha havido um só benfiquista (todos traumatizados, e alguns já conformados, com anos sucessivos de mediocridade embrulhada em grandes triunfos e competência pessoal de Luís Filipe Vieira) que não tenha estremecido de entusiasmo apenas com o tom do discurso de Moniz. Durante cinco longos minutos, o Glorioso parecia poder estar de volta, já ao alcance da esquina e apenas pela capacidade mobilizadora daquele discurso. Se chegasse ao fim e dissesse, como parecia decorrer do discurso, «vou a eleições!», eu estou convencido de que já as tinha ganho. Houve ali qualquer coisa de «General Sem Medo» desafiando a ordem salazarenta das coisas. E o povo adora isso.

Mas, num golpe de verdadeiro anti-climax, Moniz concluiu o contrário: «Não vou». Não consegui escutar os suspiros de alívio que se devem ter ouvido em todas as imediações do Estádio da Luz, mas, dentro do estúdio, chegaram até nós os gritos de júbilo vindos da régie — e essa é a melhor homenagem que se pode prestar ao director-geral da TVI.

Chamado a comentar o assunto, disse isto — que continua a minha opinião, cinco dias volvidos: primeiro, que ficava contente, como colaborador da TVI, com a sua decisão de não se candidatar; segundo, que ficava igualmente contente, enquanto portista, pois que não tinha dúvidas de que, não só ele ganharia a eleição, como também de que seria um excelente presidente, como o Benfica há muitos, muitos anos, não tem. E acrescentei que, mesmo assim e a partir dessa não-candidatura, as coisas não voltariam a ser iguais para Vieira. Doravante, ele tem uma espada pendente sobre a cabeça, foi finalmente desafiado a sério e sem meias-palavras alguém disse alto e bom som a todos os benfiquistas que o seu presidente não estava ao nível da exigência e que só não era destronado imediatamente graças ao «golpe estatutário» a que lançara mãos, exactamente para o evitar. Não é preciso ser grande adivinho para perceber que tudo o que até agora foi tolerado a Vieira por falta de alternativa, vai deixar de o ser. Os benfiquistas já não vão conformar-se com mais palavreado oco e discursos de autopromoção: querem é ver resultados. E já. Eu, no lugar deles, quereria exactamente o mesmo.

4 Consciente de que assim tinha sido e de que o discurso de Moniz abalara a nação benfiquista, Vieira contra-atacou ontem, aqui, nas páginas de A Bola e por interposto José Manuel Delgado, citando «fontes benfiquistas». A tese bombástica, servida sem um estremecimento, é a de que Moniz seria um Miguel de Vasconcelos, servindo os Filipes de Espanha e pronto a abocanhar essa preciosidade disputada globalmente e que é «a marca Benfica» — através de uma fantástica conspiração, montada em tempo recorde, e que reuniria a Prisa, a Mediapro, a Cofina, o PSOE e a Caixa Geral de Depósitos. E Luís Filipe Vieira, claro, é o glorioso Duque de Bragança, futuro D. João IV, batendo-se como um leão solitário pela independência nacional e benfiquista. Como dizem os franceses, «il fallait y penser…!»

É preciso não conhecer José Eduardo Moniz para acreditar, um segundo que seja, que ele se dispusesse a ir para o Benfica para o vender aos espanhóis — e mais ainda à Prisa. E tudo isto, porque — explicaram «as mesmas fontes» a José Manuel Delgado — os espanhóis cobiçam os direitos televisivos dos jogos do Benfica, que pertencem a Joaquim Oliveira até 2013, «pela irrisória quantia de 8 milhões de euros/época» e querem «tomar conta da marca Benfica, a mais cobiçada em Portugal». Então, o negócio seria assim: os espanhóis entravam agora, pagando, no capital da SAD do Benfica, cuja maioria Moniz iria pôr em praça; depois, esperavam quatro anos pela caducidade dos direitos televisivos vendidos a Joaquim Oliveira; e a seguir, iriam vendê-los, por uma fortuna, à TVI — que entretanto, a Prisa teria vendido à Cofina. Mesmo dando de barato que a Prisa quisesse delamber-se do seu core-se-no-la que é a televisão, para se ir enfiar num clube de futebol, não consegui foi entender o papel da Cofina: para já, arruinavam-se a comprar a TVI por 100 milhões que a Caixa e não só lhe emprestariam, e depois voltavam a arruinar-se para ir comprar por uma fortuna os direitos televisivos que a Olivedesportos detém por uma ninharia. E com a «marca Benfica» conseguiriam o quê — o mesmo retumbante sucesso do «kit Benfica»?

Pensando bem, não sei, afinal, se Luís Filipe Vieira terá percebido o que lhe aconteceu, com aqueles dez arrasadores minutos de Moniz. Se terá percebido que o povo benfiquista já não vai lá com conversa fiada.

Miguel Sousa Tavares n' A Bola.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Bruno Alves e Pepe na praia ontem

Na Póvoa de Varzim, cortesia da Marlene Machado.






Capas de 22 de Junho de 2009


Entrevista a Lucho González n' O Jogo

Pode dizer-se que esta época foi perfeita?
Sim. Os objectivos a que nos propusemos no início da temporada foram alcançados. Festejamos a conquista do campeonato e da Taça e fizemos ainda uma campanha muito positiva na Liga dos Campeões.


Faltou alguma coisa?
Depois do encontro em Manchester, com um empate, sentimos que podíamos passar. Faltou-nos isso, mas não devemos lamentar nada, porque demos o máximo.


O jogo em Manchester foi o melhor do FC Porto?
Tivemos outros encontros que foram determinantes, como o de Alvalade, o de Kiev e o de Istambul. É lógico que, pela transcendência e mediatismo que teve, o jogo com o Manchester foi especial. Provámos que éramos uma equipa que sabia o que queria.


A nível individual, falhou alguns penáltis. Consegue explicar o que se passou?
Passam-se muitas coisas pela cabeça de um jogador no momento de partir para a bola, e não queria bater como habitualmente. Isso fez-me errar, mas o técnico continuou a acreditar em mim, o que me devolveu a confiança.


O clássico com o Benfica no Dragão marcou a época. Se fosse hoje, voltava a levantar-se naquele lance com o Reyes na área do Benfica?
Depois de ver que suspenderam o Lisandro por um penálti que o árbitro assinalou e que depois disseram que não foi, se fosse hoje deixava-me cair no relvado. É evidente que esse lance foi penálti, mas na altura não me deixei cair porque vi o Fucile a correr em boa posição e pensei que lhe podia passar a bola em condições de ele finalizar. Não o fiz por uma questão de fair play, foi uma reacção instintiva por ver o Fucile bem posicionado. No futuro pensarei duas vezes, sobretudo pelo que se passou com a suspensão ridícula do Lisandro.

Tranquilidade. A palavra costuma ser usada por outro protagonista, mas aplica-se na perfeição a Lucho González. É com tranquilidade que antecipa a próxima época, que renova objectivos e que garante não ter pressa de sair do FC Porto. "Este clube tem sempre grandes objectivos, e a carreira de um jogador constrói-se com títulos", explica, tranquilo.


Qual dos quatro campeonatos foi mais difícil de vencer?
Este foi um campeonato difícil, mas o primeiro com Jesualdo Ferreira terá sido o mais complicado, porque só conseguimos ser campeões na última jornada. Este foi difícil, mas em momento algum houve dúvidas na equipa.


Mas a verdade é que o FC Porto andou algumas jornadas fora do primeiro lugar. Qual foi a explicação?
Foi uma situação com pouca lógica, que serviu para termos a consciência de que não estávamos a fazer as coisas bem. Serviu de alerta para que não perdêssemos mais pontos. Entretanto, voltámos à nossa posição e nunca mais saímos de lá.


Olhando para as contratações que o Benfica fez, com jogadores como Aimar, Reyes e Suazo, esperava que desse mais luta?
Penso que sim, basicamente por ter contratado grandes nomes. Mas isso traduz o que é o futebol actualmente: contratar esse tipo de jogadores não garante nada. De qualquer forma, nunca ficámos preocupados com as aquisições que o Benfica fez. Pensámos sempre em nós.


É uma vantagem para o FC Porto o facto de quase todos os anos os rivais estarem preocupados com o nome do treinador, dos reforços ou do presidente?
Pode ser. Mas todos os anos, quando começa a temporada, não estamos preocupados com os reforços do Benfica ou com a composição da equipa técnica do Sporting. Procuramos, sim, melhorar o que esteve mal na nossa equipa, e essa é que é a verdadeira vantagem do FC Porto.


Nesse sentido, o FC Porto é o favorito para o penta?
Creio que sim. Somos os campeões e, seguramente, esse é um dos objectivos para a próxima temporada.


O que é ser tetracampeão?
É um orgulho. Na verdade, actualmente ainda não temos real consciência do que isso significa. Mas, quando a carreira terminar e olharmos para a história do FC Porto e virmos lá os nossos nomes, aí sim, vamos perceber o alcance do nosso feito. É sempre importante fazer parte da história de um clube, e este tem muita.


Nas comemorações anteriores, os jogadores ficaram-se pelo estádio. Desta vez saíram à rua. Como foi ver tanta gente espalhada pela cidade?
Foi mais bonito. Vivemos mais de perto a euforia dos adeptos. Particularmente, marcou-me bastante e gostei imenso de ver toda a gente a festejar as nossas conquistas. Não quer dizer que nas outras três vezes não tenha sido também emocionante, mas também é bom ir variando um pouco.


Olhando para a época que acabou, e depois de ter dito há cerca de um ano que queria sair, está arrependido de ter ficado?
Claro que não, porque o FC Porto é um clube que tem sempre grandes objectivos, e a carreira de um jogador deve ser construída com títulos. Este clube aspira todos os anos a grandes conquistas, por isso não estou nada arrependido.

Real Madrid pensa em Lucho

A hipótese de Lucho mudar-se para o Real Madrid, ou de, pelo menos, haver negociações nesse sentido, começa a ganhar consistência. A Imprensa espanhola deu ontem conta de alguns desenvolvimentos do caso. Depois da contratação de Cristiano Ronaldo, e mantendo-se a intenção de comprar outro galáctico para marcar golos (Villa, Forlán ou Ibrahimovic), a prioridade de Jorge Valdano, director-desportivo dos merengues, passa por adquirir um médio que consiga dar equilíbrio a uma equipa que se prevê recheada de estrelas. O espanhol Xabi Alonso, do Liverpool, é a prioridade do emblema espanhol, mas nos últimos dias o nome de Lucho González ganhou peso.

O Real Madrid junta-se assim ao Marselha no rol de interessados no internacional argentino, se bem que os espanhóis tenham bastante mais peso do que os franceses, tanto economicamente como, especialmente, do ponto de vista desportivo. O jornal "Sport" escreveu mesmo que a reunião prevista entre o FC Porto e o Marselha, que estava disposto a oferecer 14 milhões de euros, foi adiada devido à intromissão do Real Madrid. Já agora, a reunião estava realmente prevista, embora Pinto da Costa apenas aceitasse receber a delegação gaulesa por cortesia, por achar que não tinham argumentos financeiros para a operação. Na mesma notícia do "Sport" foi explicado que a suspensão da reunião partiu do FC Porto, uma vez que um eventual negócio com o Real Madrid renderia um encaixe superior à SAD. Na verdade, o Marselha ficou sem o presidente, Pape Diouf (demitido pelo accionista maioritário) e isso lançou alguma confusão sobre as movimentações de mercado do clube francês.

Lucho é um nome conhecido de Manuel Pellegrini, o novo treinador do Real Madrid. O chileno orientou o médio portista no River Plate e sempre o admirou, ao ponto de ter tentado por várias vezes levá-lo para o Villarreal. Segundo a Imprensa espanhola, o interesse do Real Madrid partiu precisamente de Manuel Pellegrini. Não obstante, o alvo número um do emblema de Florentino Pérez continua a ser Xabi Alonso, embora as negociações com o Liverpool de Rafa Benítez estejam, no mínimo, complicadas.

Recorde-se que a ligação de Lucho ao Real Madrid começou há alguns dias. O empresário Lucas Comineli, que trabalha na agência que representa o médio do FC Porto, confirmou o interesse do Marselha, mas acrescentou o nome do colosso espanhol, em declarações ao "Jornal de Notícias". "O Marselha e o Real Madrid estão interessados em Lucho", foi o que disse Comineli.

Resta tentar explicar a situação de Lucho e do FC Porto, apesar de tudo isto se configurar, para já, como uma hipótese. O jogador, como se pode ler na entrevista publicada nas páginas anteriores, está bem no clube, não pensa em sair e até encara a hipótese de terminar a carreira por cá. No entanto, compreende-se que o Real Madrid seja um clube que lhe altere este pensamento. Quanto à SAD, apesar de o considerar um elemento fulcral, é óbvio que não descartará mais um negócio milionário. Se houver proposta, claro.

Carlos Gouveia e Tomaz Andrade n' O Jogo..

domingo, 21 de junho de 2009

Capas de 21 de Junho de 2009


Atenção aos detalhes

Rui Pedro Silva não é exactamente um nome famoso no panorama do futebol português e está longe de ser o primeiro que vem à memória, quando se pensa nos responsáveis pelo tetracampeonato do FC Porto. Contudo, longe da vista, escondido atrás da sombra projectada por Jesualdo Ferreira, este engenheiro informático desempenhou um papel fundamental na segurança e firmeza da caminhada do FC Porto ao longo das últimas temporadas, não só pela importância do seu trabalho na análise sistemática dos adversários - que explica o conhecimento detalhado de equipas como o Atlético de Madrid ou o Manchester, fundamental para a montagem da estratégia que permitiu anulá-las -, mas também na observação individual dos jogadores do FC Porto - e na identificação dos aspectos a melhorar em cada um, o que explica a evolução registada por vários jogadores ao longo das últimas épocas. Por outras palavras, mais uma demonstração de que são os detalhes que fazem as grandes diferenças.

Jorge Maia n' O Jogo.

O oráculo de Jesualdo

Rui Silva. O nome dirá pouco à maior parte dos adeptos, mas representa um dos aspectos mais importantes do trabalho de Jesualdo Ferreira. Rui Silva observa os adversários, descobre-lhes lacunas e virtudes, mas também analisa a própria equipa do FC Porto e os jogadores, que ajuda a corrigir defeitos e potenciar qualidades. Ele é, no fundo, o homem dos pormenores no FC Porto, aquele que tem por missão descobrir aquele detalhe que, num determinado jogo, pode fazer toda a diferença. E faz muitas vezes. Numa conversa com O JOGO, Rui Silva explicou o trabalho que é desenvolvido nesta área muitas vezes obscura do jogo, mas também a relação de proximidade que tem com Jesualdo Ferreira.

"O meu trabalho com o professor tem uma vantagem muito grande: já nos conhecemos desde o Braga. Aqui, no FC Porto, sei perfeitamente quais são os processos da equipa e aquilo que ele pretende. Existe uma grande ligação entre nós depois de termos passado tanto tempo juntos, não só nos treinos, mas também nos estágios, que aproveitamos para conversar sobre futebol." Neste trabalho, existem dois aspectos distintos: a observação externa, do adversário, e a observação interna, a nível individual ou colectivo, da própria equipa do FC Porto. Rui Silva defende, no entanto, que eles estão interligados: "A observação dos adversários e posterior mensagem que chega aos jogadores é sempre feita em função da nossa equipa. Ou seja, a observação que fazemos de um determinado adversário só serviria para ser utilizada no FC Porto. Sendo assim, posso concluir que 70 por cento do nosso trabalho incide na nossa equipa." Mas, afinal, como é feito esse trabalho em termos práticos? Na observação dos adversários, existem três fases. "O primeiro jogo é visto pelo nosso departamento de observação, o segundo é visto por mim, e o terceiro é observado pelo adjunto que vai estar presente no jogo com essa equipa. Estes três jogos são observados in loco. Depois disso, ainda visiono mais três ou quatro jogos dessa equipa em vídeo - demoro umas quatro ou cinco horas a trabalhar cada um desses jogos - antes de apresentar o trabalho final." Depois de recolhida a informação, importa saber como é que ela vai chegar aos jogadores. Rui Silva explica que utiliza o vídeo. "É difícil, através de um relatório escrito, dizer-se exactamente aquilo que se viu. Através do vídeo, é muito mais fácil, sobretudo para os jogadores." E contou uma história: "Quando estava no Leixões, o clube onde comecei a trabalhar, escrevi no relatório que um determinado jogadores batia os penáltis para o lado direito. Nós, quando escrevemos, referimo-nos sempre ao lado do guarda-redes, mas ele, na altura, ficou com dúvidas e atirou-se para o outro lado. Com o vídeo, isso não acontece. Mais: dá para fixar mentalmente com maior eficácia se o remate vai ser rasteiro, a meia altura, forte ou devagar." Depois sobra ainda a análise individual da própria equipa. Na recolha da informação, Rui Silva utiliza um software que segue os jogadores em todos os aspectos do jogo: distâncias e velocidades percorridas, passe, análise qualitativa e quantitativa, entre outros aspectos. Para além disso, todos os jogos disputados no Estádio do Dragão são filmados a 3/4 do campo, desde a linha defensiva até ao ataque, para além de existir uma câmara por trás das balizas para ter a mesma perspectiva dos guarda-redes. Estes dados são depois recolhidos e chegam mais tarde a Jesualdo Ferreira. Assim se percebe, também, a evolução de alguns jogadores.

Pedro Marques Costa n' O Jogo.

sábado, 20 de junho de 2009

Capas de 20 de Junho de 2009


Vou mostrar que a ideia de Jesus não é verdadeira

No mesmo dia em que o FC Porto oficializou Beto, o Benfica anunciava Jorge Jesus. Coincidência perfeita para desenterrar uma desavença recente e relançar a discussão: Beto está ou não à altura de um clube grande? Ele dá a resposta já a seguir...

Conseguiu dormir bem depois de concluída a transferência para o FC Porto? Não sentiu insónias?

Dormi muito bem e muito tranquilo. O único motivo para ter descansado um pouco menos foi o meu filho, que me acordou algumas vezes. De resto, dormi muito bem, muito feliz e muito tranquilo em relação ao meu futuro.

Uma pequena provocação que, por sinal, até foi feita por Jorge Jesus, agora treinador do Benfica: ele disse que o Beto não tinha perfil físico de grande guarda-redes. Considera este contrato uma resposta a essa afirmação?

O meu trabalho fala por mim, mais do que qualquer afirmação que eu possa fazer sobre esse tema. É no campo que posso mostrar que essa ideia do Jorge Jesus não corresponde à verdade e que os guarda-redes, como os treinadores, não se medem aos palmos. Medem-se por trabalho e por conquistas. Merecer a confiança de um clube como o FC Porto e de um treinador tricampeão nacional, como é o Jesualdo Ferreira, é uma grande conquista.

Vai ser interessante encontrá-lo do outro lado da barricada num clássico com o Benfica?

Seria um excelente sinal ser titular num clássico, mas não vou dar demasiada importância a essa possibilidade em particular. Não é nada especial para mim encontrar o Jorge Jesus no Benfica ou noutro clube qualquer. Não tem relevância para a forma motivada, empenhada e profissional como abordo qualquer jogo e qualquer adversário.

Este foi o desfecho perfeito para aquela que foi a sua época de reafirmação?

Sim, foi o final perfeito para uma grande temporada. Depois de algumas vitórias colectivas, esta foi uma vitória pessoal, consumada no facto de ter assinado pelo tetracampeão nacional.

Jogar na Champions League costuma ser uma meta para quase todos os jogadores. Também é assim consigo?

Representar o FC Porto na Champions não é só um objectivo, é um sonho. É uma competição fantástica, onde jogamos com os melhores do Mundo, e é mais um factor de motivação para dar tudo no clube.

Vai trabalhar com Wil Coort. Já tem algumas referências sobre ele?

Não o conheço pessoalmente, mas conheço o trabalho que ele faz com os guarda-redes do FC Porto e sei que, pela sua especificidade, pode ser muito importante no sentido de me ajudar a evoluir ainda mais.

Conviveu também com Fonseca no Leixões, ele que foi uma glória do FC Porto. O facto de haver uma tradição de grandes guarda-redes no clube, como Fonseca ou Baía, entre outros, é mais um factor de motivação?

É, acima de tudo, um motivo para sentir uma enorme responsabilidade. O FC Porto sempre teve grandes guarda-redes, o que coloca a fasquia de exigência dos adeptos num nível muito elevado. Mas estou pronto para assumir essas responsabilidades e dar uma resposta positiva.

O Leixões foi um clube fundamental para a sua reafirmação...

Completamente. A oportunidade de voltar aos grandes palcos foi-me dada pelo Leixões. É um clube em relação ao qual vou ficar eternamente grato, porque me deu condições, porque acreditou em mim e porque me deu motivos para eu próprio voltar a acreditar. Fecho um ciclo no Leixões, mas fica um carinho muito especial pelo clube e pela sua massa adepta.

Jorge Maia n' O Jogo.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Capas de 19 de Junho de 2009


Dor de dentes

Não tenho conhecimentos suficientes para avaliar quando um problema dentário deixa de ser banal e passa a ser determinante para encravar um negócio. Mas, a julgar pelas propostas que o Milan terá feito ao FC Porto, o que realmente não consigo perceber é em que medida um suposto desconto de quatro milhões sobre os 15 inicialmente acordados tornaria a transferência menos arriscada. Ainda se consegue mastigar a ideia italiana do empréstimo, mesmo que cheire a "artistice" de quem quer experimentar antes de se comprometer, mas o desconto soa mais a arrependimento de quem não tem margem para falhar, sobretudo a este preço. É preciso não esquecer que o Milan também tem os seus esqueletos no armário em compras recentes para o lado esquerdo na defesa. Grimi, por exemplo. Da parte do FC Porto, o que se segue é uma dupla gestão do caso: a financeira, claro, e a psicológica, porque, além de 15 milhões, há outra coisa que se pode perder. O próprio Cissokho.

Hugo Sousa n' O Jogo.

Adeus, grande capitão!

PEDRO EMANUEL fez bem em colocar um ponto final na sua carreira como jogador de futebol, recusando a proposta que lhe fora feita para renovar por mais uma época. Creio que os bons jogadores sabem, melhor que ninguém, quando é chegado o momento de se retirarem, porque já não conseguem atingir os níveis físicos que são impostos pela alta competição.
Esta foi, aliás, uma época difícil para Pedro. No eixo da defesa, e a par de Bruno Alves, o lugar disponível foi conquistado por Rolando, que não desperdiçou a primeira oportunidade que lhe foi concedida e se impôs como titular indiscutível. Por isso, as poucas oportunidades que Pedro Emanuel teve para jogar atiraram-no para as funções de lateral, um lugar que exige a velocidade que ele já não tem e que, de resto, nunca foi o seu forte.

Em vez disso, sempre se destacou pela sua coragem e pela inteligência na interpretação dos lances, ganhando posição por perceber onde a bola iria cair e antecipando, assim, o movimento do adversário. Mas, Pedro era também um líder dentro do campo que, vindo do Bessa, logo se impôs no FC Porto. Foi exactamente por essas suas qualidades, pela visão de jogo e pela sua capacidade de liderança que Jesualdo confiou nele, dando-lhe algumas e derradeiras oportunidades de jogar, ainda que em lugar adaptado, como aconteceu em Madrid. E foi, também por isso que, no balneário e no banco de suplentes, se impôs como o substituto de Baía, ajudando e incentivando os seus colegas.

Agora, Pedro Emanuel vai treinar os mais novos do clube. Mais do que um justo corolário, é um bom compromisso, porque certamente saberá transmitir aos mais jovens talentos os valores de liderança e os traços de carácter que fizeram dele um jogador de eleição, e que tão raros são nestes nossos dias.

Rui Moreira n' A Bola.