segunda-feira, 30 de março de 2009

Capas de 30 de Março de 2009


Ora, a taça..

TRISTEZAS não pagam dívidas, portanto, vamos às dúvidas. Há um mistério profundo em Portugal, mais misterioso que o Freeport, o casamento de Dias Loureiro ou a nova Playboy, toda em português, das letras às imagens. O mistério que não enche as primeiras páginas tem a ver com o troféu de campeão que o FC Porto conquistou na última época e que ainda não recebeu. Não há explicação publicamente conhecida. Há hipóteses.
Interroguemo-nos, então, porque é que Hermínio Loureiro não põe os pés no Dragão. Alguém o viu no jogo de anteontem? Não. É ele quem tem na sede da Liga (digo eu) a taça que o FC Porto conquistou com mérito. Porque é que não a entrega?

Ora, numa sondagem à boca de uma mesa de café, cheguei a quatro possibilidades: a) Hermínio Loureiro tem a taça em casa a servir de candeeiro de mesinha-de-cabeceira e gostou da decoração; b) o troféu não será entregue enquanto a Manuela Moura Guedes não conseguir destronar o primeiro-ministro; c) a taça estava prometida a Ferreira Torres se ele se livrasse das acusações; d) o troféu estava garantido ao empresário Jorge Mendes se ele conseguisse meter mais do que oito jogadores no onze titular da selecção no jogo com a Suécia.

Ora, em qualquer dos casos, o FC Porto está feito ao bife. Vai levar com uma réplica um dia destes. Porquê? O dr. Hermínio nunca deixará a mesinha -de-cabeceira sem a taça, Manuela Moura Guedes há-de destronar Sócrates nem que seja noutra encarnação, Ferreira Torres já se limpou das acusações (é verdade!!!!!!) e Jorge Mendes meteu a família toda da sua empresa no onze de Queiroz. Mais do que oito.

O caso não é para brincar. Ou sim. O que sopram é que o dr. Hermínio tem medo de levar uma assobiadela universal se meter os pés na relva do Dragão. O problema é se o FC Porto ganha outro título de campeão. Para mim, a taça só não é entregue porque a perderam. Prefiro pensar assim. Tão certo como eu votar no Frederico Gil se ele se candidatar a Presidente da República.

Carlos Pereira Santos n' A Bola.

sábado, 28 de março de 2009

Capas de 28 de Março de 2009


Rebentar tudo e construir de novo

McCarthy abre a porta de um caminho que será inevitável nos próximos dias: recuperar Manchester e as memórias associadas a uma eliminatória histórica, quanto mais não seja para aliviar o ambiente depressivo que por aí anda. Há mais: esse é provavelmente um caminho para Jesualdo complementar o inevitável trabalho táctico que será feito. Sabemos todos, e McCarthy recorda-o aqui outra vez, que Mourinho usou a táctica de fazer das palavras dos outros forças próprias. Mas, o problema talvez seja esse: sabemos todos. Mal comparado, é seria como que cair na cantiga de um vendedor da banha da cobra sabendo quem ele é. Dito de outra maneira: não sendo de descartar, forçar outra vez a estratégia dos jogos psicológicos pode soar junto dos jogadores a isso mesmo: estratégia. E quando ela parece forçada, é pouco provável que se obtenha a receita extraordinária que McCarthy reduz numa frase emblemática. "Com Mourinho, pensávamos: vamos entrar em campo e rebentar tudo". Provavelmente, nessa época, não tinham consciência de que fazia parte da estratégia. Nesse sentido, recuperar memórias positivas, mesmo que os tempos sejam outros, pode ser um estímulo alternativo. Outro estilo. E uma coisa é certa: mal não faz.

Hugo Sousa n' O Jogo.

Ataquem os centrais

Entrevista a Benny McCarthy:

Sim, é possível. A convicção é de McCarthy, a propósito das hipóteses de sucesso do FC Porto na eliminatória com o Manchester United. Tal como em 2004, o sul-africano acredita numa surpresa, embora admita que, agora, será mais difícil eliminar os "red devils". Porquê? Segundo Benni, que está em Inglaterra há quatro anos e conhece ao pormenor o adversário, os ingleses estão mais fortes, fisicamente preparados e avisados para a qualidade do campeão português. O factor surpresa não terá, por isso, qualquer peso. Ainda assim, nada que retire o optimismo que é imagem de marca do avançado. Em entrevista a O JOGO, McCarthy deu a receita para deixar, de novo, os homens de Manchester a carpir mágoas: controlar Ronaldo e Paul Scholes; aproveitar a velocidade de Hulk ou Lisandro para fazer estragos entre os centrais do campeão inglês. "São lentos", diz.

Começando pelo sorteio, McCarthy admite que podia ter sido mais favorável ao FC Porto. Em todo o caso, sublinha o aparente excesso de confiança demonstrado pelo líder da Premier League. "Essa é a típica mentalidade deles. Sempre que sai uma equipa portuguesa a uma inglesa, dizem sempre que são favoritos e que o sorteio é bom, blá, blá, blá. Disseram o mesmo em 2004; que era o sorteio mais fácil e, depois, foi o que se viu", recordou, em jeito de crítica à postura dos "red devils". Aliás, até desconfia dela. "Apesar de tudo o que foi dito, o treinador do Manchester sabe, seguramente, que o FC Porto não é uma equipa fácil de bater e que chegou aos quartos-de-final por mérito e não por sorte. Foi primeiro no seu grupo na fase regular e muito superior ao Atlético nos dois jogos dos oitavos", sublinhou. "O Manchester está consciente do que é o FC Porto e sabe que pode ser eliminado outra vez", acrescentou.

Para o sul-africano, os "red devils" têm um trunfo importante. "Há três jogadores que conhecem bem a realidade do futebol português: o Ronaldo, o Nani e o Anderson, o dragãozito de Manchester", brincou, antes de completar a ideia: "Eles podem dar uma ajuda suplementar ao treinador". Neste FC Porto, que acompanha esporadicamente e à distância, revê alguns predicados na comparação com aquele de que fazia parte. "É uma equipa que mantém o mesmo espírito do meu tempo, continua a ser muito forte. Se conseguir um bom resultado em Manchester - de preferência não perder e marcando - terá fortes possibilidades de conseguir mais uma surpresa. Tem tantas possibilidades como o Manchester", analisou.

E, então, como se ganha a este Manchester? A pergunta saiu directa. McCarthy apontou os exemplos recentes dados pelo Liverpool e do Fulham, acrescentando detalhes. "Estão muito mais fortes do que em 2004, porque têm novos jogadores e alguns jovens com muita qualidade. Fisicamente, o Manchester está impecável. Como equipa, é mais estável e unida. Por isso, vai ser complicadíssimo passar. Por outro lado, acho que esta eliminatória surge numa boa altura para o FC Porto, porque o Manchester tem mostrado algumas debilidades ultimamente. Perdeu dois jogos seguidos no campeonato, não jogou bem e o FC Porto talvez encontre um adversário mais tenso do que o habitual, podendo explorar esse factor." Disse mais. "Basta recordar o Manchester-Liverpool, no qual a velocidade de Fernando Torres fez miséria na defesa do Manchester. Causou-lhes mesmo muitos problemas e isso foi decisivo. Eles dão algum espaço atrás que terá de ser aproveitado. Os dois centrais do Manchester - Rio Ferdinand e Vidic - são muito experientes, mas não são propriamente os mais rápidos do Mundo. Jogadores como Lisandro, que conheço bem, e Hulk, que não conheço tão bem, podem causar estragos e aproveitar essa lentidão". Para equilibrar, deixou um aviso que pode parecer óbvio."É preciso ter muita concentração defensiva, controlar Ronaldo e Paul Scholes, talvez o jogador mais influente".

Carlos Gouveia n' O Jogo.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Capas de 27 de Março de 2009


Hulk deu crédito a todas as ficções

Imaginem que não sabiam o que sabem hoje e que, há um ano, por esta mesma altura, um qualquer jornal japonês bem informado escrevia o seguinte: "O FC Porto está interessado no brasileiro Givanildo, o Hulk, fenómeno da II divisão". Mesmo descontando a coincidência de haver Hulk pelo meio, a verdade é que a coisa pareceria ficção, certo? Iria lá o FC Porto interessar-se por um desconhecido, com nome de banda desenhada e destaque de uma obscura II divisão japonesa? Aliás, chegou a parecer ficção mesmo quando se confirmou. Isto serve para explicar que este ano será mais difícil filtrar o que é ou não ficção entre as dezenas de nomes atirados todos os dias para a praça pública. De repente, depois de Hulk, tudo passou a fazer sentido. Um húngaro da II Divisão espanhola? Com certeza. Um nigeriano goleador na Lapónia? Nunca se sabe, nunca se sabe. Agora a sério: acredito que haverá menos pudor nos tiros de mercado, ou na filtragem que é feita, e o mais certo é que os nomes se multipliquem. Veja-se o que deu Hulk...

Hugo Sousa n' O Jogo.

O essencial e o acessório

O FC Porto vai disputar os quartos-de-final da Liga dos Campeões com o Manchester United, uma equipa que por acaso já eliminou duas vezes em provas da UEFA. Em vez de recordarem essas façanhas, de se congratularem com a vinda de Cristiano Ronaldo e Nani a Portugal, ou de avaliarem o mau momento da equipa inglesa que tem delapidado a sua vantagem no campeonato doméstico, houve jornais que preferiram dar eco às velhas bravatas de sir Alex, esquecendo que ele as engoliu em seco depois do célebre golo de Costinha em Old Trafford.
Naturalmente, o inglês disse, como lhe compete, que o FC Porto era o adversário que pretendia. É normal porque conhece bem o futebol português e porque parte com a vantagem que resulta da diferença de orçamentos entre os dois clubes, que é de doze para um. Curiosamente, Jesualdo Ferreira disse precisamente o mesmo, ou seja, que o sorteio correspondeu à sua preferência, porque fará história se eliminar o campeão europeu. Com dois treinadores tão felizes, veremos o que acontece em Abril. Há uma coincidência feliz: este ano, a data da final coincide com a do célebre jogo de Viena, em 1987, em que por acaso também não éramos levados a sério…

Por cá, a final da Taça da Liga correspondeu inteiramente às expectativas. Depois da questão da reinterpretação dos novos regulamentos, depois de sucessivas arbitragens isentas (de avaliação, é claro), depois do jogo invisível na Madeira (inspirado num célebre filme de César Monteiro), a final conseguiu ser a cereja no bolo da vergonha, com violência, pouco fairplay e uma arbitragem «à Lucílio», em que o internacional quis homenagear condignamente o cinquentenário do caso Calabote. Afinal, quem tem razão é o presidente do Benfica, que vai gritando que o futebol é uma mentira.

Rui Moreira n' A Bola.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Capas de 26 de Março de 2009


Filmes

O assunto ganhou ontem um dado novo, mas há já algumas semanas que O JOGO procura uma justificação para o atraso junto de quem o podia explicar. Oficialmente, nada feito. Como sempre acontece quando há um silêncio sobre coisas que até podem ser simples, ouve-se uma coisa daqui, outra dali, e o assunto, que até nem o parecia ser, vai enrolando, enrolando, até se transformar uma gigantesca bola de neve. Assim, enquanto não chega a explicação formal, talvez falte catalogar esta história da taça que ainda não foi entregue ao FC Porto num género, como nos filmes: drama, comédia ou ficção científica? Exploremos as duas últimas hipóteses. Via cómica: a Liga espera pelo desfecho deste campeonato para ver se terá de juntar mais uma, ao jeito das promoções do leve já duas, e resolve o assunto. Via ficção científica: está tudo a ver se o troféu ganha pernas ou asas e segue o destino. No fundo, no fundo, vai tudo dar ao mesmo: um filme.

Hugo Sousa n' O Jogo.

Balbúrdia e circo

O sopapo foi violento. Disse a um amigo moçambicano que aceitava o convite para o jantar, conquanto este não me impedisse de estar no hotel a horas de poder ver na TV o jogo da final da taça da nossa Liga cervejeira. E ele acertou-me em cheio, sem dó nem piedade: «Tu ainda perdes tempo a ver jogos entre solteiros e casados?!»
O que dói mais é o facto de eu também pensar isto e de, mesmo assim, me ter exposto ao enxovalho e de este ser merecido e bem assestado. Sabemos e vemos as coisas, mas fazemos de conta que desconhecemos. Por isso não temos qualquer desculpa; pelo contrário, com o silêncio tornamo-nos cúmplices da situação.

É preciso afastarmo-nos da realidade para nos chocarmos com facetas notórias e aberrantes que ela contém. Não sei se existirá outro País que se masturbe tanto por causa do futebol e sustente um tão gigantesco e permanente circo em torno dele. Abrimos as páginas dos jornais — quer dos desportivos quer dos generalistas — e não se oferece assunto mais candente que o da balbúrdia encenada a propósito da indústria (já não é desporto?) que nele fervilha. O facciosismo doentio é chocante em textos de jornalistas que, pelo facto de o serem, deviam esforçar-se por respeitar o código deontológico, guardar distância do clube do coração, não eleger inimigos de estimação e destilar sobre eles o ódio da aversão. Passa-se para os canais da rádio e televisão e o panorama repete-se; competem arduamente entre si, a ver qual deles coloca no ar o programa mais sensacionalista e estapafúrdio em termos de berraria, estultice, alienação e ausência de razoabilidade a respeito da coisa futebolística. Tresanda a manicómio. É dose para burro; e, por mais absurdo que seja, é injectada todos os dias e nós aguentamos!

Os jornais e os programas radiofónicos e televisivos, dizem renomados especialistas, seguem o rumo certo, porquanto atingem altos índices de leitura e audiência. Logo ajustam-se à procura dos consumidores, o que funciona como critério de sucesso, de adaptação e obediência às bitolas e mandamentos do mercado. Contribuir para modificar o gosto e os hábitos e elevar o nível das exigências e necessidades de consumo dos amantes do futebol — isso não faz parte das suas atribuições. Não têm vocação para missionários, nem muito menos para mártires! Têm, sim, que se limitar a acompanhar o espírito do tempo, tal como acontece nas outras áreas. A mais não são obrigados!

Obviamente o ambiente de mediocridade tende a propagar-se e a levar vantagem. Até porque, disse Somerset Maugham, «apenas os medíocres estão sempre no seu máximo». Os outros seres não conseguem isso, têm limitações e cansam-se, deixando portanto o caminho aberto à progressão da intrépida estupidez. Não espanta que o nosso futebol seja um campo onde ela alastra e frutifica a muitos níveis. Como quem tira coelhos da cartola, fazem-se num ápice treinadores a partir de nada; e deitam-se abaixo num piscar de olhos. Com base em toques habilidosos na bola e nos penteados e demais adereços ao sabor da moda, criam-se e idolatram-se génios que, afinal, se afogam na praia.

De vez em quando há um sobressalto amargo, face à ridicularização que cobre alguns dos nossos clubes nas competições europeias. Mas é sol de pouca dura; a choradeira e o luto nem sequer aguentam até à missa de sétimo dia. Tudo volta rapidamente a colorir-se de vermelho e verde numa parada triunfal. A euforia e a megalomania retomam o seu curso imparável: a final da insignificante Taça da Liga é pintada dias a fio, nada mais, nada menos, como a maior festa do mundo; e redunda num espectáculo degradante, seguido de cenas de podridão.

Os ataques baixos e descabelados ao FCP redobram de tom. Há que abatê-lo, dê lá por onde der; e a culpa é manifestamente dele, por se recusar ao nivelamento rasteiro, a baixar a cerviz e a não alinhar no fado dos coitadinhos. Enfim a frustração pelo demérito e fracasso próprios e a inveja pelo mérito e êxito alheios gozam de boa saúde no nosso meio.

Jorge Olímpio Bento n' A Bola.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Liga Intercalar - Porto vence

FCPorto 2 - Leixões 1.

Capas de 25 de Março de 2009


Ver ao longe

Por razões que pouco interessam para aqui, passei a última semana muito próximo de pacientes atrapalhados por cataratas que lhes foram consumindo a visão. Foi curioso testemunhar a alegria com que, depois de operados, detalhavam o novo alcance da vista, já sem sinal de desfocagem. Lembrei-me disso ontem, a propósito da decisão da UEFA. E porquê? Simples: nestes últimos dez meses, houve quem desfocasse o essencial - uma norma mal redigida, como reconheceu a UEFA -, preferindo sobrevalorizar os interesses da guerrilha entre clubes. Mas, descontando estas "cataratas" de clubite aguda que podem ter condicionado o que foi dito e escrito sobre a matéria, sobra desta embrulhada toda, entre outros, o papel ridículo de Michel Platini. Esquecendo a diplomacia que o cargo lhe exige, destravou a língua vezes sem conta, antecipando-se às decisões judiciais; achou por bem dar lições de moral e quis fazer da cruzada contra o FC Porto um exemplo de autoridade. No fundo, escolheu uma trincheira e, provavelmente, vai fazer de conta que o tiro no pé não lhe doeu muito.


Hugo Sousa n' O Jogo.

terça-feira, 24 de março de 2009

Rui Moreira sobre a Taça da Liga

Rui Moreira à RTP:

Audio 1

Audio 2

FCPorto ficará a salvo de qualquer sanção por parte da UEFA

"O FC Porto ficará a salvo de qualquer sanção por parte da UEFA depois do Comité Executivo do organismo ter hoje reformulado os critérios de admissão às competições europeias.
Fonte da UEFA confirmou à Agência Lusa que os novos critérios de admissão definem que um clube será suspenso por um ano das provas caso tenha estado envolvido, directa ou indirectamente, na manipulação ou viciação de um jogo, desde que os factos tenham ocorrido após 27 de Abril de 2007, altura da reformulação dos estatutos do organismo.
Como os dois casos de tentativa de corrupção - pelos quais o FC Porto foi condenado pela justiça desportiva portuguesa - ocorreram em 2004, os tetracampeões nacionais ficarão a salvo de qualquer castigo da UEFA no que respeita às condenações no âmbito do Apito Final. "

Capas de 24 de Março de 2009


O FC Porto de 2003/04 foi a melhor equipa que já treinei

José Mourinho sobre o FCPorto:

"O FC Porto de 2003/04 foi a melhor equipa que já treinei." E José Mourinho foi mais longe. "Num país economicamente mais forte, aquele conjunto podia ter marcado uma época. Era melhor do que as outras equipas e podia tê-lo feito, mas depois pesaram mais forte os factores económicos, os motivacionais, e o clube aproveitou e bem, ganhando algum dinheiro", referiu o português.
Em 2003/2004, o FC Porto conquistou a Liga dos Campeões sob o comando de José Mourinho. Desde então, só na actual temporada os azuis e brancos voltam a passar dos oitavos-de-final, agora com Jesualdo Ferreira no comando. Nada mais natural, portanto, do que confrontar o Honoris Causa com o feito do treinador actual. A primeira resposta, sobre as possibilidades de apuramento dos portistas, foi evasiva. "É uma pergunta para Jesualdo Ferreira e para o FC Porto, mas na minha opinião presumo que Jesualdo Ferreira, como qualquer treinador, tenha esperança, tenha crença na sua equipa", começou por comentar o técnico do Inter de Milão, que esta época já ficou pelo caminho, aos pés do Manchester United, futuro adversário do FC Porto.

Em seguida, no entanto, Mourinho deixou entender que acredita no apuramento do seu antigo conjunto: "O FC Porto é uma equipa com tradição na Liga dos Campeões, é uma equipa que está lá ano após ano. Estes jogadores ainda não ganharam nada a nível europeu, mas são jogadores com experiência e com estrutura mental. O próprio clube é forte e viaja sem medos e sem limitações."

Relembrado foi ainda um factor histórico que, quer se queira quer não, pode ter o seu peso, quanto mais não seja a nível do subconsciente. Dizia ontem Mourinho que o FC Porto "conta ainda com um factor de tradição a seu favor", uma vez que "nas competições europeias nunca perdeu em casa com equipas inglesas".

Contas feitas, nada impede os dragões de sonharem com o apuramento. Tal como há cinco anos, quando os red devils foram eliminados na sua própria casa pela turma de Deco, Costinha, Baía, etc., desta vez, as hipóteses da surpresa também não devem ser desprezadas.

"Por que não? É possível! Em 2004, todos pensavam que não ia ser possível, mas foi. Por que não agora?", questionou o homem ligado a um dos maiores feitos do tricampeão português em título.

Grandes penalidades

Um dia destes, quando o tema não for tão desconfortável para alguns ouvidos mais sensibilizados pelos acontecimentos do último fim-de-semana no Algarve, alguém com queda para o melodramatismo vai lembrar-se de dizer que o FC Porto tem não sei quantos golos marcados na conversão de grandes penalidades. Se for como da última vez, vai acrescentar, bonacheirão e com um sorriso malandro a enquadrar a piscadela de olho, que não está a colocar em causa se foram bem ou mal marcados, mas apenas a registar um facto. Ora, nessa altura, seria bom que alguém lhe recordasse que só nos últimos dois jogos, ficaram por marcar nada menos que cinco grandes penalidades a favor do FC Porto. Bem sei que não fizeram falta, que o FC Porto ganhou na mesma, mas a nobre defesa da verdade desportiva não deve conhecer excepções de conveniência se se quiser dar ao respeito. É que as grandes penalidades são todas assim, grandes, e se são grandes até um cego as vê e não há desculpa para não serem marcadas.

Jorge Maia n' O Jogo.

Zangam-se as comadres

1 O provincianismo, ao contrário do que imaginam os lisboetas, não é uma doença que ataque apenas a gente da província: também ataca a distinta gente da capital. Dez dias a fio, a imprensa desportiva de Lisboa proporcionou ao país uma exuberante demonstração do mais ridículo provincianismo futebolístico que se possa imaginar. Eu sei que um Sporting-Benfica é um «clássico» (que eu próprio gosto sempre de ver, embora raramente com agrado); eu sei que uma final é uma final, embora a neófita Taça da Liga não passe, hierarquicamente, da terceira ou quarta competição em termos de importância na agenda desportiva — imediatamente antes do «Troféu Guadiana» e do «Troféu Eusébio»; eu sei ainda que todo o alarido feito a propósito desta final tinha que ver com o simples facto (especialmente para a «Instituição» Benfica) de nada mais de sólido terem os dois «monstros» de Lisboa a que se agarrarem, nestes idos de Março: o campeonato está a fugir-lhes, a Taça de Portugal já era, da Supertaça vão estar bem provavelmente ausentes, e a Europa terminou em enxovalho para ambos (salvas as diferenças que há, apesar de tudo, entre ser sovado nos oitavos da Champions ou ser humilhado no grupo de qualificação para os dezaseis-avos da Taça UEFA).
Mas, não obstante tudo isso, caramba, é preciso ter a noção das proporções, sob pena de perder a noção do ridículo. Meus caros amigos, acreditem: visto de fora, de quem não é nem lagarto nem lampião, a desbragada promoção deste jogo do Algarve a «jogo do ano» (como lhe chamou a SIC), foi simplesmente ridícula. Durante a semana inteira pareceu que o mundo tinha parado na expectativa de um desafio transcendente. No sábado, A BOLA dedicou-lhe nada menos do que 18 páginas (!), e só lendo o jornal de fio a pavio e muito atentamente é que alguém vindo de fora conseguiria descobrir que havia mais outro jogo no fim-de-semana... e que, por acaso, era uma meia-final da Taça de Portugal, entre o FC Porto e o Estrela da Amadora. Provincianismo também é isto: convencer-se que, fora de Lisboa ou fora de um Benfica-Sporting, tudo o resto é paisagem.

Bem, o «jogo do ano» foi um legítimo candidato a pior jogo do ano. Faltas e interrupções sucessivas, futebol aos repelões, sem dois passes certos consecutivos, escassas oportunidades de golo, zero de imaginação ou talento. O Benfica teve uma oportunidade aos dois minutos e uma bola pingadinha na trave na segunda parte, e... foi tudo o que fez: o seu futebol atingiu, na altura crucial da época, um nível simplesmente confrangedor. Razão teve o Sílvio Cervan (ele nunca se esquece...) para aproveitar mais uma vez a sua coluna das sextas-feiras aqui para tentar intimidar e pressionar previamente o árbitro (e diga-se que tem vindo a ter resultados reconfortantes nesse esforço). Em minha opinião, Lucílio Baptista é — desde há muitos anos e consistentemente — o pior árbitro português. Mas como, desde sempre, é um árbitro militantemente anti-Porto, lá foi fazendo a sua carreira, sempre para cima e sempre muito estimado pelos grandes de Lisboa e pela Comissão de Arbitragem. Raro é o jogo importante que lhe confiam em que ele não tenha influência directa no resultado — e mais uma vez assim aconteceu, só que desta vez e desdizendo a sua fama de sportinguista, ele ofereceu uma taça ao Benfica (que há quatro anos não tinha nada para pôr na vitrina). Dito isto, e apesar de só o Sporting ter merecido ganhar e ter feito por isso, não tenho a menor pena dos leões: anos a fio, Lucílio Baptista prejudicou despudoradamente o FC Porto em confrontos com o Sporting (chegou a arbitrar, sempre em prejuízo dos azuis, quatro ou cinco jogos consecutivos entre os dois emblemas para o campeonato, mais uma final no Jamor que entregou de bandeja ao Sporting), e nunca, então, eu lhes ouvi um queixume que fosse contra este árbitro. Aliás, o Sporting, tal como o Benfica, só chegou a esta final Carlsberg graças a um regulamento feito à medida para tal e graças a dois manhosos penalties que lhe permitiram virar o jogo da meia-final em Alvalade, contra a «reserva» do FC Porto — que Jesualdo Ferreira lançou às feras, porque se convenceu, muito inteligente e seriamente, que rodar jogadores era o objectivo desta «competição». (Mas, a avaliar pelos festejos dos benfiquistas no final, como se tivessem acabado de vencer a Champions, e com toda a limpeza e mérito, já não sei, não...).

E assim, no rescaldo do «jogo do ano», ouviram-se gritos de «roubo!» e «ladrão!» e «o futebol está podre!» e outros que tais: o habitual. Só que, desta vez, tudo se passou entre os parceiros da «moralização do futebol português». E eu a imaginar que, depois do Apito Dourado, o futebol português já estava moralizado!

2bPois então, jogou-se também uma meia-final da Taça de Portugal. Aliás, a primeira mão de uma meia-final— já que este ano, e como de há muito eu vinha defendendo, se joga as meias-finais a duas mãos. É um método bem mais justo, pois que evita que, como sucedeu várias vezes num passado recente, uma equipa possa chegar ao Jamor sem nunca ter jogado eliminatórias fora de casa, ou apenas o tendo feito contra clubes de dimensão claramente inferior.

Jogou-se, e o FC Porto, apesar de ter obtido um resultado confortável, não obteve um resultado suficientemente confortável para permitir a Jesualdo Ferreira fazer a gestão total da equipa na segunda mão — tanto mais que este FC Porto não tem «banco».

Foi um jogo sem grande história, embora com casos de arbitragem: o primeiro golo do FC Porto também nasceu de um penalty inexistente, mas antes havia-lhes sido mal anulado um golo e, na segunda parte, um penalty verdadeiro foi perdoado ao Estrela. Distraí-me a observar com atenção o desempenho individual dos jogadores de azul e confirmei coisas que já tinha como certas.

Que o Stepanov, o Mariano e o Farías (25 minutos em jogo sem tocar na bola!), pese a ocasionais fogachos e à simpatia da imprensa, nunca serão jogadores ao nível de um FC Porto: destoam e destoam bem.

Que ao Fernando lhe falta muito, muitíssimo, caminho a percorrer antes de chegar aos calcanhares de um Paulo Assunção e justificar a titularidade como «cabeça de área» de uma equipa com pretensões europeias.

Que o Cissokho, ao invés, foi a melhor aquisição desde o Hulk: melhora de jogo para jogo e finalmente o FC Porto parece ter um lateral-esquerdo de categoria, depois de doze experiências falhadas em cinco anos.

Que o Bruno Alves está feito um senhor jogador de categoria mundial, na linha dos grandes centrais a que o FC Porto nos habituou, desde o Geraldão e passando pelo Aloísio, Jorge Costa, Ricardo Carvalho e Pepe. Ele, Raul Meireles e Lisandro López são a grande obra de beneficiação que Jesualdo trouxe ao FC Porto. Já Ricardo Quaresma, um talento evidente que Adriaanse maltratou, e Hulk, cujo potencial Jesualdo foi o último a ver, não lhe credito. Mas estes, sim.

Viu-se também que Rodriguéz melhorou muito (desde que aqui o considerei candidato a decepção do ano), mas que continua irregular e intermitente.

Viu-se que Lisandro parece ter perdido o seu «killer instinct» (e que, quando marca, os golos são anulados e normalmente mal anulados), e que Lucho González está uma sombra do jogador que já foi. Continua, é certo, protegido da imprensa, que jura que «ele não sabe jogar mal», mas lá em cima, nas bancadas do Dragão, um público que percebe hoje de futebol como poucos, desespera ao ver a quantidade de jogo que Lucho estraga e desperdiça. É um mistério, mas que já se tinha visto também no passado.

3 Eduardo, guarda-redes do Braga e da Selecção Nacional, provou a minha tese de que um grande guarda-redes de uma equipa média ou pequena não é necessariamente um bom guarda-redes de uma equipa com ambições europeias. Especula-se que ele estará nas cogitações do FC Porto e eu espero que não: não precisamos de um guarda-redes que faça defesas impossíveis e que, de vez em quando, falhe nas possíveis: precisamos de quem defenda sempre tudo o que tem defesa. Também se especula que Jorge Jesus poderá substituir Jesualdo Ferreira como treinador do FC Porto. E eu também espero que não: não precisamos de um bom treinador — que Jesus é — e que, de vez em quando, consegue grandes resultados. Precisamos de alguém que, como Jesualdo Ferreira, consiga manter um nível de competitividade permanentemente elevado, sem nunca se queixar da sobrecarga de jogos ou excesso de competição e que saiba ter, em tudo o resto, uma atitude e uma presença ao nível de um dos oito melhores clubes da Europa.

Miguel Sousa Tavares n' A Bola.

sábado, 21 de março de 2009

Capas de 21 de Março de 2009

Jogar a Taça a duas mãos parece-me positivo

Conferência de imprensa de Jesualdo Ferreira n' O Jogo:

Como analisa o novo modelo da Taça de Portugal com uma eliminatória a duas mãos nesta fase?

Depende. Só no fim podemos tirar conclusões, mas, neste momento, é essa a regra. Não acho importante estar a discutir coisas irreversíveis. Para além de haver mais um jogo, o que necessariamente influencia o resultado de uma eliminatória que permite uma presença na final, acho que é positivo, porque parece-me que chegam à final as equipas que mais merecem, depois de um trajecto de jogos em que nem sempre, num sorteio, há igualdade nas dificuldades. Acho que as equipas médias têm mais possibilidades jogando em duas mãos, isto no caso de, por exemplo, jogarem no campo de um adversário mais forte. Esta competição não é de pontos, mas de diferença de golos, e a nós, numa mecânica comum às equipas habituadas a eliminatórias, interessa-nos fazer um resultado que nos permita um segundo jogo com grau de dificuldade menor. Esta situação torna o apuramento mais difícil, porque será essa também a ideia dos jogadores do Estrela da Amadora.

Tendo em conta a temporada do Estrela, com os bons jogos que têm feito em contraste com os ordenados em atraso, o que é que isso pesa neste jogo?

Temos visto um Estrela da Amadora excelente no campeonato e ao mesmo nível na Taça de Portugal, porque está nas meias-finais. Vamos ter dificuldades, frente a grandes profissionais. Já sentimos isso na primeira volta da Liga. Temos vindo a ver os seus jogos e a perceber que é uma equipa rotinada e solidária, coisas que não são normais noutros clubes. Sentimos que esse é o grande problema que vamos ter de ultrapassar. Vai ser neste contexto que vamos jogar as meias-finais da Taça de Portugal, competição que queremos muito ganhar. Jogadores, treinadores, administração, adeptos, todos querem muito ganhar, mas sabemos que antes temos de passar primeiro o Estrela da Amadora para chegar à final.

Vai poupar jogadores ?

Não, não vou poupar ninguém. Já disse que essas perguntas de poupança deixam o cheiro de facilidade e esse sentimento não existe em nós. A gestão que se faz dos jogadores tem a ver com o rendimento no momento em que vamos jogar, seja em que competição for. Essa é a perspectiva que devemos ter na maneira como é feita a formatação das equipas para cada jogo. Nas últimas semanas, a opinião favorável ao FC Porto foi unânime, colocaram-nos logo em posições extremamente favorável. É verdade que estamos bem posicionados nas três provas em que estamos, mas ainda não ganhámos nada...

Os compromissos da Selecção vão complicar as coisas?

Como sabem, a partir de segunda-feira temos um plantel reduzido devido à ausência dos internacionais e, necessariamente, não vamos deixar de treinar e de nos preocupar com aquilo que temos de fazer a seguir. Mas, só muito em cima do Guimarães irão ser definidas as linhas de orientação desse jogo, a equipa e os jogadores que nele vão participar, porque teremos praticamente duas semanas em que vamos funcionar com um lote curto de jogadores. Vamos aproveitar para trabalhar muito forte no plano táctico, no sentido de podermos ter jogadores disponíveis para os jogos seguintes, em boas condições para participarem em qualquer jogo. Na sexta-feira teremos uma decisão a tomar em relação ao Guimarães. Até lá, o quadro que existe pode ser completamente alterado. Contra o Estrela da Amadora, aí sim, vamos ter uma equipa adequada ao jogo que queremos fazer.

"Temos dois jogos decisivos antes do Manchester"

Jesualdo separou as águas e refutou a ideia de que os dois jogos que se seguem, com Estrela e Guimarães possam ficar condicionados por causa da Liga dos Campeões. "Vamos defrontar o campeão europeu, mas, até lá, temos dois jogos muito importantes e decisivos. Neste momento, a preocupação é o Estrela da Amadora e, depois, prepararemos o Manchester United. Esse jogo é que pode ficar condicionado, porque vem depois. Numa perspectiva cronológica, serão esses que podem condicionar os seguintes", explicou. Em termos de plantel, muito poderá mudar até aos quartos da Champions, mas a ideia é sempre a mesma: "Temos de fazer uma gestão correcta de modo a estarmos sempre fortes em todos os jogos".

A equipa que queríamos

Conferência de imprensa de Jesualdo Ferreira n' O Jogo:

Não há engano: a atitude para enfrentar o Manchester United, nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, insere-se na cultura competitiva do FC Porto. O favoritismo que se atribui aos actuais campeões europeus não atrapalha nada Jesualdo Ferreira, que não se vê entregar de mão beijada a eliminatória dos quartos-de-final. Este foi o fio condutor da reacção do treinador ao sorteio, ocorrido horas antes em Nyon, na Suíça. O técnico recusou até a fórmula cómoda do não ter nada a perder contra o campeão europeu, invertendo o ângulo de abordagem e atirando a sua equipa para a frente. E mais: sublinhou o feito extraordinário que seria para o FC Porto eliminar o Manchester United.

Se tivesse sido possível, teria escolhido o Manchester United?

Sim. Era a equipa que queríamos. Não houve choque nenhum em relação a essa questão.

Como reagiram os jogadores?

Bem.

Se forem eliminados pelo Manchester United saem com uma menção honrosa?

Pelo contrário. Se eliminarmos o Manchester United é que será uma coisa fantástica.

Mas não acha que é um jogo mais fácil? O FC Porto só tem a ganhar contra o Manchester...

Não, não é bem assim. É difícil de preparar, porque é o Manchester United, porque é o campeão europeu, porque, antes, temos dois jogos extremamente importantes para os nossos objectivos . Mas, vamos preparar bem essa eliminatória, no tempo próprio. Até lá, é secundário para nós.

Disse que queria ganhar tudo. Significa que também quer ganhar a Liga dos Campeões?

Em futebol, habituei-me a ter a noção da realidade e do equilíbrio. O futebol é um jogo, é uma realidade que tem factores que não são controláveis e outros que são previsíveis. Depois há um conjunto de elementos que rodam em torno e que têm um resultado imprevisível. A realidade que temos em relação a Manchester United e FC Porto, em termos de receitas, é a de que há diferenças de milhões de euros - e isto tem um peso muito grande. Também sabemos que o Manchester nem sequer tem melhor currículo europeu do que o FC Porto. Não tem; andam muito próximos. São, portanto, mercados diferentes, campeonatos diferentes, jogadores diferentes, mas há uma coisa em que não é diferente: existe, da nossa parte, condições para discutirmos esse jogo, porque discutir resultados e títulos é aquilo que perseguimos.

Quer dizer que o favoritismo do Manchester United não lhe diz nada?

Não seria nunca uma atitude correcta da parte do treinador do FC Porto, da parte dos jogadores do clube, muito menos tendo em conta aquilo que é a história do clube, hipotecar, logo à partida, o apuramento e colocá-lo no patamar do impossível. Era o que faltava! Neste contexto, é preciso ter em conta duas situações importantes, que passam por enquadrar o futebol actual com a realidade diferente do Manchester United e FC Porto e essas duas realidades com o jogo em si. Há muita coisa que pode acontecer, nomeadamente a vontade de transformar esse jogo em coisas mais sólidas, que constituem a história do FC Porto, a sua qualidade e tudo aquilo que conquistou, exactamente com este tipo de cultura que estou a referir. Existe um sentimento que nos diz que podemos efectivamente vir a discutir outros títulos para além daqueles que o FC Porto está habituado, porque já o fez e já os ganhou. Se é um jogo, vamos ter de falar nele no dia 6 de Abril.

É seu objectivo continuar à frente do FC Porto na próxima época?

Em relação à renovação, vou puxar um pouco a história atrás e recordar que quando cheguei ao FC Porto, o presidente foi claro e disse-me que quem escolhia o treinador era ele. Foi muito claro. Quando chegar o momento de ele falar comigo em relação a uma análise que temos de fazer, do que se fez e do que pode ser feito no futuro, poderá haver respostas. Até lá, não me parece que seja nem justo, nem inteligente, nem sensato estar a fazê-lo, porque, como disse, estou cómodo e aquilo que quero é ganhar em todos os objectivos a que nos propusemos no início. É importante que percebam que há, necessariamente, tempos para que estas situações sejam tratadas. Estar a perguntar-me essas coisas sem que este quadro que referi, não só o de autoridade como a prerrogativa que enumerei, seja accionado, não faz sentido. Não seria correcto da minha parte estar a especular sobre coisas que, para mim, não são a verdade daquilo que me foi dito quando cheguei ao FC Porto.

A felicidade de Ferguson é a frustração de Benítez

A maior prova de que todas as equipas presentes nos quartos-de-final da Liga dos Campeões pretendiam jogar com o FC Porto foi dada, separadamente, por Alex Ferguson e Rafa Benítez, treinadores do Manchester e Liverpool, respectivamente. Enquanto o escocês se declarava contente com o sorteio, o espanhol, que vai enfrentar o Chelsea de Guus Hiddink, foi mais longe do que o costume. "O Manchester United é claramente favorito, não sei quem lhe fez o sorteio. Sabemos que nesta fase enfrentamos as melhores equipas, mas os sorteios dão-nos sempre as mais fortes", disse Rafa Benítez, naquilo que se entende como uma provocação, ou tentativa de humor, e não uma acusação à UEFA.

Alex Ferguson é que não precisou de humor para falar do FC Porto. Aliás, mais directo não podia ser. "É um bom sorteio para nós. Estamos contentes e pretendemos continuar em prova. Já defrontámos o FC Porto e, obviamente, respeitámos qualquer equipa portuguesa", disse o treinador dos "red devils". Ligações do United a Portugal não faltam. "Temos uma enorme influência portuguesa, primeiro com o Carlos Queiroz e depois através do Cristiano Ronaldo e do Nani. Desta forma, entendemos bem o futebol português." A única coisa que não correu totalmente de feição ao United foi a ordem dos jogos, primeiro em Old Trafford, depois no Dragão. Apesar de tentar desvalorizar o facto, notou-se que não ficou satisfeito. "Às vezes ficamos a pensar se é melhor ou pior jogar primeiro em casa, mas no futebol moderno não há indicações que nos permitam saber qual das opções é a melhor. A única coisa que espero é não sofrer golos em casa", explicou Alex Ferguson. O FC Porto espera, obviamente, que o contra-ataque, talvez a maior arma de Jesualdo, funcione em Old Trafford.


Tomaz Andrade n' O Jogo.

Vem aí Ronaldo

O sorteio dos quartos-de-final mostrou um sentido de humor perverso: além de recolocar o Manchester no caminho dos portistas, evocando memórias de 2003/04, proporcionou o quinto confronto consecutivo na Champions entre Liverpool e Chelsea! O vencedor da escaldante eliminatória (mesmo sem Mourinho) defrontará Barcelona ou Bayern, as equipas que golearam o Sporting. Sobram Villarreal e Arsenal, que cruzam com FC Porto ou United

O mistério resolveu-se ao segundo jogo sorteado, com um destino previsível: Inglaterra volta a atravessar-se no caminho do FC Porto e, coincidência das coincidências, com a única equipa, das que realmente contam, que Jesualdo ainda não tinha enfrentado. Depois de Arsenal, duas vezes, Chelsea e Liverpool, experimenta o Manchester. O mesmo Manchester que abriu a porta dos quartos na última vez que os portistas lá chegaram. Agora é a das meias que está em causa. Sublinhe-se uma parte que pode ter passado despercebida: o mesmo Manchester. Ou quase. Tal como em 2004, há Alex Ferguson, claro, mas há também Gary Neville, Ferdinand, Scholes, Giggs, O'Shea, Brown, Rooney ou Cristiano Ronaldo. Um Ronaldo que, é verdade, mudou alguma coisa: deixou de ser o talento promissor que, no conjunto desses dois jogos de 2004, esteve pouco mais de 25 minutos em campo, passeando agora o estatuto de melhor jogador do Mundo. Com a Bola de Ouro incluída.

Desmontando este Manchester, há muito mais para contar. Da soma de Ronaldo com as outras partes resulta o actual campeão europeu e, a par do FC Porto, o recordista de presenças na Liga dos Campeões: ambos com 15 participações. A isto chama-se experiência. No caso dos ingleses, essa experiência tem sido acumulada não só pelo clube, mas também pelos jogadores. Repare-se na diferença: no plantel portista, comparando com 2004, sobram apenas Pedro Emanuel e Nuno. A rodagem dos outros na Champions é substancialmente inferior.

Na página ao lado, estão alguns dos nomes ofuscados pelo mediatismo de Ronaldo, mas, como se comprova resumidamente, com currículo suficiente para terem vida própria. Entre eles, destaque óbvio para Nani e Anderson, este com parte do cordão umbilical no Dragão.

Alex Ferguson gostou do sorteio (já tinha gostado do de 2004); Jesualdo também. Em Liverpool, Rafa Benítez, que não tem nada que ver com o caso, achou por bem, no comentário ao sorteio, suspirar pela sorte de Ferguson. O FC Porto costuma - ou costumava, pelo menos - gostar desse tipo de referências, transformando-as em parte integrante das respostas dadas em campo. Em todo o caso, há uma evidência que ressalta dos números: os dragões nunca ganharam em Inglaterra. Em 2004, nem precisaram de o fazer, até porque, noutra verdade mais simpática, também nunca perderam com equipas inglesas no Dragão...

Villarreal ou reencontrar o Arsenal nas meias

Um jogo de cada vez, é isso que os treinadores e jogadores dizem mesmo que não o pensem. No entanto, devido às regras do sorteio da UEFA, já é possível saber quem vai jogar com quem nas meias-finais da Liga dos Campeões. No caso de o FC Porto eliminar o Manchester United, que é simplesmente o campeão europeu em título, irá defrontar o Villarreal, de Espanha, ou o Arsenal, de Inglaterra. A questão está cheia de ses, mas se o FC Porto e o Arsenal seguirem para as meias-finais, então será um reencontro. Na fase de grupos as duas equipas enfrentaram-se e se o Arsenal humilhou o FC Porto em Londres, foi a equipa de Jesualdo que acabou por ficar com o primeiro lugar.

FC Porto

57 títulos

- 2 Ligas dos Campeões

- 1 Taça UEFA

- 2 Taça Intercontinental

- 1 Supertaça Europeia

- 23 Campeonatos

- 13 Taças de Portugal

- 15 Supertaças

Manchester

55 títulos

- 3 Ligas dos Campeões

- 1 Taça Intercontinental

- 1 Mundial de Clubes

- 1 Taça das Taças

- 1 Supertaça Europeia

- 17 Campeonatos

- 11 Taças de Inglaterra

- 3 Taças da Liga

- 17 Supertaças

Hugo Sousa e Carlos Gouveia n' O Jogo.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Liga dos Campeões - sorteio

Manchester United - FCPorto a 7 de Abril. A segunda mão será a 15 de Abril provavelmente.

Capas de 20 de Março de 2009


Papel de parede volta a estar na moda

Jesualdo Ferreira pode começar a recortar os jornais e a forrar as paredes do balneário: metade do trabalho para os quartos-de-final está feito. Se os jogos psicológicos ainda funcionarem - e, carregando nas teclas certas, funcionam sempre - os adversários fazem-lhe o favor do costume. Ao dizer que preferia o FC Porto ou o Villarreal, Gerrard abriu as hostilidades, ignorando diplomacias aconselhadas nos manuais do politicamente correcto. O JOGO espreitou sondagens por essa Europa fora e a perspectiva é mais ou menos a mesma: o FC Porto corre sempre por fora. E arrisco a dizer que o FC Porto agradece, como agradeceu as declarações de Paulo Assunção e de Enrique Cerezo. Ou, puxando a fita atrás, como agradeceu, em 2004, quando Alex Ferguson, numa tirada de humor que lhe saiu pela culatra, sugeriu que os portistas compravam títulos no supermercado. Levou o troco, como se sabe.

Hugo Sousa n' O Jogo.

Dragões no topo das preferências

E que tal espreitar os quartos pelos olhos dos outros? O sorteio realiza-se hoje, mas não faltaram palpites nos últimos dias. A pergunta é óbvia: quem vinha mesmo a calhar? Uma interrogação que se multiplicou em várias línguas, desdobrada em jornais e até nas páginas oficiais dos clubes. A resposta, diga-se já, foi quase sempre a mesma: o FC Porto aparece como adversário ideal. Nessa matéria, só o Villarreal lhe faz alguma sombra nas sondagens. De resto, os espanhóis também fazem sombra na cotação atribuída pelas casas de apostas inglesas: ontem, cada libra apostada nos dois multiplicava-se 33 vezes em caso de vitória na Champions.

Detalhando: dois jornais de Barcelona recolheram opiniões nos últimos dias; os sítios de Chelsea e Arsenal ainda ontem tinham votações sobre o assunto. Nelas, como se pode ver aqui ao lado, a inclinação era clara. Curiosamente, talvez escaldado pelo exemplo do Atlético de Madrid, um dos jornais catalães, o "Sport", teve o cuidado de acrescentar uma apresentação dos portistas em jeito de aviso. "Uma equipa sem estrelas, mas perigosa", lia-se no texto que servia de enquadramento aos resultados.

A estas sondagens pode juntar-se as declarações de Gerrard, reproduzidas ontem. O jogador do Liverpool assumiu claramente a preferência por FC Porto ou Villarreal. E os espanhóis não gostaram. O FC Porto costuma gostar, porque faz disso parte integrante da estratégia, como Jesualdo assumiu recentemente, na eliminatória com o Atlético.

Refira-se, ainda a propósito de preferência de adeptos, que O JOGO também fez a pergunta na semana passada. Na perspectiva portuguesa, o Villarreal encabeçava as preferências...

Hugo Sousa n' O Jogo.

Bruno Alves e Lisandro os alvos do Verão

Seguindo a tradição dos dois grandes negócios por ano, repetida nas últimas épocas, Bruno Alves e Lisandro são, ao que apurou O JOGO, os dois jogadores mais bem colocados para encher os cofres do FC Porto no próximo Verão. Há mesmo indicações de que existe um compromisso informal do clube para os libertar mediante determinados valores, um pouco à semelhança de acordos feitos no passado com Deco ou Quaresma. Aliás, Bruno Alves e Lisandro são, neste momento, os jogadores do actual plantel mais cobiçados, pelo menos tendo em conta as verbas que o FC Porto costuma exigir neste tipo de negócios - nunca inferiores a 20 milhões de euros. Os dois jogadores receberam, inclusivamente, no final da última temporada - e também no decorrer desta -, propostas para abandonar o FC Porto, que a SAD rejeitou de pronto. O Tottenham, por exemplo, ofereceu 20 milhões de euros no início da época para tentar levar Lisandro, enquanto Bruno Alves foi assediado por vários clubes, apesar de apenas o Manchester City ter apresentado uma proposta formal.

O FC Porto recusou-se sempre a deixá-los sair, até porque já tinha vendido Bosingwa e Quaresma (com quem havia um compromisso, insista-se) e, com isso, encaixado a verba necessária para encarar a nova época com tranquilidade do ponto de vista financeiro. Ficou, porém, a promessa de que a história poderá ser diferente no final da presente temporada. Na eventualidade - provável - de voltarem a surgir interessados, apesar da crise, Bruno Alves e Lisandro terão a tal garantia de que podem sair do Dragão. Existe, no entanto, e como é lógico, um valor mínimo para permitir que a premissa anterior seja possível: haver clubes dispostos a gastar, no mínimo, 25 milhões pelo central e 20 pelo avançado. Aparentemente, isso é uma possibilidade bem real. Nesse sentido, jogadores como Lucho, Rodríguez ou até mesmo Hulk devem continuar no FC Porto no próximo ano, quem sabe na perspectiva de sair no final da temporada que se segue. A não ser, claro está, que surja, entretanto, uma proposta irrecusável por qualquer um deles. Como surgiu, por exemplo, para Anderson.

O FC Porto prepara-se, deste modo, para voltar a dominar o mercado de transferências no próximo Verão. A boa campanha interna, onde existe a perspectiva de vencer o campeonato e a Taça de Portugal, multiplicada esta época pelos feitos alcançados na Liga dos Campeões, ajudou a transformar os principais activos do plantel em alvos ainda mais apetecíveis para alguns dos maiores clubes europeus.

Pedro Marques Costa n' O Jogo.

Outra semana normal

NO sábado, o Benfica perdeu em casa, onde de nada lhe valeu a aliança com os vimaranenses e a devoção de Manuel Cajuda. Como Rui Costa tem estatuto de vaca sagrada, aponta-se o dedo acusador a Quique Flores. O que verdadeiramente escandaliza o establishment não é a inépcia da equipa, é o facto de o espanhol confessar a evidência, ao reconhecer que apenas conseguiu encurtar a enorme distância que separa o Benfica do FC Porto. Imune a tudo isto, o presidente Vieira reclama por tempo, pela justiça dos homens e até pela divina, esquecendo-se do décimo mandamento…
Em Alvalade, continua a tragicomédia que envolve a Direcção, Paulo Bento e os jogadores. As tarjas que falavam de vergonha foram arrancadas, com o auxílio censório da polícia. Como o Sporting conseguiu derrotar o último do campeonato, a honra já está recauchutada e parece que Munique nunca ocorreu.

A Taça da Liga foi elevada a tábua de salvação dos clubes da Segunda Circular. Como só serve para um deles, ainda hão-de invocar a relevância da Liga Intercalar. O Leixões foi cilindrado pelo Paços de Ferreira, que nem é presidido por Pinto da Costa nem tem poder para comprar resultados. Por isso, ninguém acusou José Mota, que tem ligações à casa, de comportamento atípico.

Quanto ao pobre Beto, é preso por ter cão e por não ter. Agora que a sua contratação foi desmentida, diz-se que esse fracasso negocial se deveu à tal exibição atípica. Só falta dizer que foi vítima de uma cilada.

No domingo, no Dragão, desfalcado de Hulk e Fernando, o FC Porto fez uma das boas exibições da época. Ficaram por marcar três ou quatro penalties e Lisandro recebeu um cartão amarelo injusto, que o impede de estar em Guimarães. Ninguém falou de escândalo ou de viciação de resultado. Ainda bem que esta foi mais uma semana como as outras.

Rui Moreira n' A Bola.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Convocados

Para o jogo com a Suécia: Bruno Alves, Raul Meireles e Rolando.

Capas de 19 de Março de 2009


O peso da marca

Será possível continuar a vender jogadores por 30 milhões de euros em plena crise económica? Depende. Depende desde logo dos jogadores, mas não só. É possível vender por 30 milhões de euros jogadores como Hulk, por exemplo. E é possível vender por valores aproximados jogadores como Bruno Alves ou Lisandro. Mas, para convencer um clube a investir esse tipo de valores numa época de contenção é fundamental oferecer garantias. O tipo de garantias que os jogadores do FC Porto podem oferecer. Um jogador do FC Porto está habituado a ganhar, sente-se tão à vontade a lutar pelo título de campeão nacional como na Liga dos Campeões e não se queixa por ter mais do que um jogo por semana, nem se desconcentra por ter mais do que um objectivo na agenda. Tudo qualidades essenciais para que um jogador possa, de facto, valer 30 milhões de euros para os clubes que os podem pagar. Clubes que lutam pelos mesmos objectivos do FC Porto, que apresentam o mesmo grau de exigência, mas têm muito mais dinheiro para gastar.

Jorge Maia n' O Jogo.

Hulk não tem preço

Hulk está em alta na Europa. O jogo de Madrid mostrou o melhor do avançado e os elogios de Dunga fizeram o resto. Hulk deixou o anonimato com que chegou a Portugal para passar a fazer parte da lista de possíveis reforços de alguns dos maiores clubes europeus. Seria, de resto, o principal candidato a sair no final da época, pelo menos segundo os adeptos. Na opinião dos cibernautas, o avançadoé o jogador do plantel que melhor se enquadra na ideia deixada recentemente em entrevista ao JN por Fernando Gomes, administrador da SAD do FC Porto, de que ainda é possível transferir jogadores por um valor entre os 25 e os 30 milhões de euros. Hulk lidera a sondagem realizada por O JOGO, seguido de Bruno Alves e Lucho. Esta não é, no entanto, a perspectiva de quem mais percebe do assunto, os empresários, como Jorge Manuel Mendes e Rui Neno. Para eles, Hulk tem um enorme potencial, mas ainda é cedo para valer um risco tão elevado. "É difícil quantificar o valor de mercado do Hulk neste momento. Ele tem cerca de seis meses de competição na Europa e, por isso, ainda é um jogador em crescimento. Tem um potencial enorme, estou certo de que vai render muito dinheiro ao FC Porto, mas ainda não atingiu o patamar que permitirá ao clube encaixar uma verba significativa", defendeu Jorge Manuel Mendes, que revelou um abordagens de vários clubes para explicar melhor a ideia que defende. "Nos últimos dias, houve vários clubes que me perguntaram se havia hipótese de contratar o Hulk por uma verba entre os 15 e os 20 milhões de euros. E eu disse-lhes que não. Acredito que vai ficar no FC Porto mais uma época. Seria importante para o jogador e para o próprio clube, até porque acredito que ele vai marcar presença no próximo Mundial e, com isso, valorizar-se ainda mais". Rui Neno não tem dúvidas de que a possível venda avançado brasileiro pode render "mais do que 30 milhões de euros". "Não imaginava que ele atingisse esta notoriedade tão rapidamente. Mas se continuar a marcar golos, vai valorizar-se ainda mais". Para isso, defende, a presença do FC Porto na Champions é fundamental. Rui Neno acha que Hulk não sai este ano, mas abre uma excepção, porque o futebol "é o momento". "Se o FC Porto chegar à final da Champions e o Hulk marcar um golo como fez em Alvalade, estou certo de que não ficará". Pois.

Pedro Marques Costa e Carlos Gouveia n' O Jogo.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Hóquei em Patins - Porto vence

FCPorto 5 - Porto Santo 2.

Liga Intercalar - Porto perde

Paços de Ferreira 2 - FCPorto 0.

F. C. Porto dá ao Estado 20 milhões de imposto

Entrevista de Fernando Gomes ao JN:

Numa semana particularmente feliz para o F. C. Porto, Fernando Gomes, 57 anos, quebrou um longo silêncio e, em entrevista ao JN, abordou os diversos temas da actualidade do Dragão.

O administrador da SAD portista acredita que o clube já conseguiu dar a volta a uma situação difícil, criada pelo processo Apito Dourado, que chegou a pôr em causa a presença na Liga dos Campeões, e atribui todo o mérito dessa realidade a Pinto da Costa. Só lamenta que o presidente não possa durar para sempre...

Qual é o real significado do apuramento para os quartos-de-final da Champions para o F. C. Porto?

Os 2,5 milhões de euros garantidos não são desprezíveis, mas, acima de tudo, este apuramento tem um enorme valor desportivo. Não só por voltar a disputar os quartos-de-final, passados cinco anos, conhecendo a realidade dos países dos outros sete clubes, mas também pelo factor de valorização dos próprios jogadores. O valor de uma equipa que não vai à Champions, que fica na primeira fase ou de uma que é afastada da Taça UEFA é completamente diferente do de uma equipa que atinge os "quartos" ou as meias-finais de uma competição europeia de elite como a Champions League. A passagem tem um valor intrínseco muito elevado do ponto de vista da valorização dos activos da SAD.

A qualificação surge num ano em que a presença na prova esteve em risco...

Como é do conhecimento geral, todos os procedimentos relativos a este processo, quer desportivos quer criminais, ainda não estão terminados. Quando estiverem, teremos oportunidade para tecer algumas considerações sobre a forma como este processo foi desencadeado e conduzido. E, se calhar, algumas personagens do futebol nacional não vão ficar muito bem na fotografia.

Chegou a temer que o F. C. Porto não jogasse a Champions em 2008/09?

Foi um episódio muito negro e que só sucedeu porque houve uma pessoa que, exorbitando as suas competências, funcionou como "musa inspiradora" do senhor Cunha Leal, que, apesar de não perceber nada de regulamentos e de ter sido responsável por dois grandes escândalos do futebol português - a inscrição de Ricardo Rocha pelo Benfica e a permissão da realização do jogo Estoril-Benfica no Algarve - lançou a nuvem do artigo 1.04, gerando um alarido que levou a UEFA a abrir o processo. Foi também essa "musa" que deu todas as dicas ao "renomado" José Manuel Delgado, permitindo-lhe que efectuasse uma campanha lamentável contra o F. C. Porto no jornal A Bola. Ainda mais grave é um clube que não logrou atingir a Liga dos Campeões ter agido sem pensar nas consequências para o futebol português. E depois ainda tiveram a lata de vir dizer que, se ganhassem esse direito através dos tribunais, não iriam participar. Só dá mesmo vontade de rir!

A nível desportivo, a época não começou bem para a equipa de futebol...

Não podemos esconder que, na primeira fase da temporada, as coisas demoraram algum tempo a funcionar. A equipa perdeu três elementos importantes e teve dificuldades para reencontrar a estabilidade e o equilíbrio. Felizmente, com o trabalho, denodo e seriedade colocada em todo o processo de integração dos novos elementos, conseguiu estabilizar e hoje podemos dizer, passados nove meses da época se ter iniciado, que estamos praticamente em todas as frentes: nos "quartos" da Champions, no primeiro lugar da Liga e nas meias-finais da Taça de Portugal. Estamos satisfeitos.

O processo Apito Dourado afectou a credibilidade do clube e da SAD?

Muito mais do que o facto em si, até porque alguns processos estão a decorrer e outras decisões já foram favoráveis, alguns órgãos de comunicação social empolam as questões, denegrindo e desvirtuando o que está efectivamente a ocorrer, passando uma imagem negativa. Tudo o que foi dito neste processo tem impacto negativo sobre a sociedade. Não posso esconder que afectou a credibilidade, mas o que temos feito tem atenuado isso.

Sente Pinto da Costa cansado com todo este processo?

Se ele estivesse cansado, em função das dificuldades que o F. C. Porto tem tido nos últimos dois anos, não teríamos conseguido dar a volta como aparentemente temos conseguido. O seu entusiasmo, capacidade de liderança e atenção aos mais pequenos pormenores permitiram-nos ultrapassar as barreiras que surgiram. Não vou dizer que o presidente não se tenha desgastado com todo este processo, porque desgasta qualquer ser humano e o presidente é um ser humano, com todas as suas fortalezas mas também debilidades. Acima de tudo, a sua capacidade de superação das situações mais difícieis permitiu estarmos hoje onde estamos em termos desportivos.

Consegue imaginar a SAD do F. C. Porto sem Pinto da Costa?

Ao longo dos últimos 26 anos, Pinto da Costa tem tido uma liderança forte, fundamental para o sucesso do F. C. Porto. Esquecer essa realidade é escamotear a realidade do F. C. Porto. A vida tem de continuar porque as pessoas não são eternas. O que nós desejamos, em função daquilo que tem acontecido, é que o presidente seja eterno, mas infelizmente isso não é possível. Um dia, as coisas terão de evoluir sem o presidente. Espero que esse tempo ainda esteja muito longe de se concretizar porque a sua capacidade e visão estratégica são fundamentais para o sucesso que o F. C. Porto tem tido. Ele é um factor de coesão e de agregação.

"Só nos restava a alternativa de aumentar a massa salarial"

Como define o relatório e contas da SAD no 1.º semestre desta época, com um resultado operacional positivo de 2,8 milhões de euros ?

Não houve grandes surpresas, tendo em conta o passado do F. C. Porto, embora haja três ou quatro elementos que agravaram as contas e que saíram um pouco fora do nosso controlo, nomeadamente a questão da crise global.

A questão da falência técnica, pelo facto de o capital próprio da SAD (16,3 milhões) não atingir metade do capital social, deve colocar-se?

Há três anos, a lei previa que uma sociedade que apresentasse prejuízos em dois anos sucessivos e que tivesse menos de 50% do capital podia ser dissolvida automaticamente. Era uma legislação agressiva, que foi alterada para impedir que essa dissolução acontecesse de imediato. O facto de, pontualmente, a sociedade ter um capital inferior a 50% pode não ser o factor decisivo, pois nas sociedades anónimas desportivas não são permitidas as valorizações dos activos, existindo uma reserva oculta ao nível do plantel que não sendo expressa contabilistamente, poderá criar uma distorção em relação ao valor intrínseco da sociedade.

O passivo de 152,8 milhões preocupa?

O número em si pode não significar uma análise definitiva à sociedade. O segredo está na correlação do montante em dívida com a capacidade de gerar meios para a pagar. No grupo do F. C. Porto, não só a SAD, estamos relativamente confortáveis. Temos um endividamento elevado, da ordem dos 90 milhões de euros, a EuroAntas tem um endividamento de 30 milhões de euros no âmbito da construção do estádio, o F. C. Porto clube tem um endividamento sem expressão. Temos de analisar a evolução dos negócios, para podermos cumprir as nossas responsabilidades perante a banca, com a consciência de que temos uma situação financeira relativamente controlada.

Sente-se mais confortável do que se tivesse de gerir a SAD do Benfica ou do Sporting?

Acima de tudo, preocupo-me com o FC Porto. As análises comparadas são sempre relativas. Nas circunstâncias actuais, o F. C. Porto está bem e recomenda-se, embora atento ao futuro próximo para potenciar o que tem de bom: os activos que consegue recrutar e formar, que rapidamente se transformam em estrelas europeias. Por outro lado, muitas vezes diz-se que esta actividade é pouco rigorosa, mas temos dado uma imagem de transparência. No último ano, pagámos ao estado 15 milhões de euros, subindo esse valor para 20 milhões se contabilizado o F. C. Porto clube.

A filosofia é para manter?

Com a liderança de Pinto da Costa, a sociedade assumiu a filosofia de estar neste negócio com alguma dose de risco, para criar equipas competitivas, eventualmente com custos maiores do que outras, para estar a um nível elevado nos mercados nacional e europeu. Isto é impossível de conseguir com custos reduzidos, sabendo que estar sempre na alta roda do futebol europeu vai permitir gerar as mais-valias para colmatar os défices de exploração.

Nesse contexto, considera normal gastar 40 milhões em salários?

Só nos restava a alternativa de aumentar a massa salarial, para termos um Lucho, um Lisandro ou um Hulk, com a consciência de que, através da montra que é a Champions, poderíamos valorizar os jogadores com mais-valia e reequilibrar as contas. Mas temos consciência de que as condições de mercado se alteraram de forma significativa. Alguns passos já foram dados, com a aposta no projecto Visão 611, para criar condições internas para desenvolver uma política de formação que nos últimos anos tem andado arredada do F. C. Porto e de fazer uma maior procura de valores portugueses e jovens, para reforçar a capacidade competitiva da equipa com um eventual menor custo.

Jesualdo à espera do "timing" apropriado

Na entrevista ao JN, Fernando Gomes não desvendou o mistério em que se está a tornar a situação do treinador Jesualdo Ferreira, que termina contrato com o F. C. Porto no final desta época e ainda não revelou se renova ou se vai abandonar o comando técnico dos dragões. "Sou um membro de um órgão colegial. Essas questões têm um timing de análise e de avaliação. No tempo oportuno, a administração irá tomar a decisão que, no seu entender, melhor defende os interesses do F. C. Porto, não deixando de fazer a avaliação correcta de todo o trabalho desenvolvido pelo professor Jesualdo Ferreira nos últimos três anos", afirmou o administrador da SAD portista, igualmente reservado quanto a questões como a renovação de Lisandro e a quantidade de jogadores no plantel azul e branco: "Reservo a minha opinião para a divulgar no sítio certo, quando me é solicitada, e não a exteriorizo".

Capas de 18 de Março de 2009

Sapos e príncipes

Não sei se a Quercus ou outra associação do género mantêm algum registo destas coisas, mas começo a ficar verdadeiramente preocupado com a biodiversidade e equilíbrio biológico do País. Porquê? Bem, porque nos últimos dias foram engolidos tantos, mas tantos sapos vivos que, por esta altura, já devem ser uma espécie em vias de extinção. Ainda por cima, a deglutição de sapos vivos tem sido um espectáculo público e explícito, com espaço nas páginas dos jornais, nas rádios e nas televisões onde um comentador atrás do outro os vão engolindo inteiros sem conseguirem disfarçar o desconforto. Primeiro foi a passagem do FC Porto aos quartos-de-final da Liga dos Campeões, numa demonstração de clara superioridade sobre o Atlético de Madrid. Depois, foi o cavar da diferença para os perseguidores no campeonato, mesmo sem Hulk, apesar da ausência de Fernando e não obstante os três penáltis que Cosme Machado não marcou, certamente a bem da verdade desportiva. Agora é vê-los, aos tais comentadores, contrariados e de nariz torcido a engolir os sapos que andaram a engordar durante o resto do ano.

Jorge Maia n' O Jogo.

terça-feira, 17 de março de 2009

Capas de 17 de Março de 2009


Más companhias

É curioso como alguns comentadores trataram de fazer a ligação directa entre a goleada sofrida pelo Sporting em Munique e as boas relações que mantém com o FC Porto mas se esqueceram de fazer o mesmo este fim-de-semana. Não foram os problemas internos, a inadequação das declarações de técnicos e vedetas, nem sequer foi a qualidade superior do Bayern a grande responsável pelos 7-1 de Munique. Não senhor, foi o facto de Soares Franco não se dar mal com Pinto da Costa que condenou o Sporting à humilhação. Genial. Claro que dessa vez, toda a gente se esqueceu de dizer que, durante os anos marcados por esse bom relacionamento, o Sporting ganhou duas Taças de Portugal, outras tantas Supertaças, participou em três edições da Liga dos Campeões e, este ano, até se apurou para os oitavos-de-final de uma competição que continua a ser uma miragem para outros. De resto, bastaria olhar para o Braga para perceber até que ponto as boas relações com o FC Porto são, de facto, "desastrosas" para qualquer clube.

Jorge Maia n' O Jogo.

Mariano só precisa de dominar a ansiedade

Já toda a gente reparou no rendimento instável de Mariano. Aliás, é difícil não reparar nele com tantos exemplos dados pelo jogador na época passada e na actual. Mas anteontem, frente à Naval, o argentino fez tudo ou quase tudo bem, com um golo e uma assistência para Lucho marcar o segundo, e isso levou O JOGO a procurar respostas para esta bipolaridade exibicional junto de Carlos Azenha, ex-adjunto de Jesualdo no FC Porto.

Para começar, Azenha enquadrou Mariano nas premissas globais de um jogador de futebol. "Todos, sem excepção, dependem dos níveis de confiança, de jogar ou não jogar, da aposta dos treinadores e dos níveis emocionais". Mas, com Mariano, o problema ganha outra dimensão. "É um craque, mas na época passada, viveu um período difícil, porque não sabia se ficava no FC Porto [estava emprestado pelo Palermo], e isso condicionou-o. Ficou no FC Porto, que era o que queria, e também ficou mais estável. Ficou um jogador ainda melhor". No entanto, ainda pode ficar mais estável e, quando o conseguir, o FC Porto terá um grande jogador nas mãos, garante Azenha. Então, o que lhe falta? "No dia em que o Mariano conseguir libertar-se da ansiedade que o acompanha, de querer fazer tudo bem e depressa, vai ser ainda melhor jogador. Ele já evoluiu, mas ainda pode evoluir mais, tudo dependendo dos níveis emocionais", explicou Carlos Azenha. Recorde-se que na época passada, num período instável provocado pela incerteza contratual, foi o próprio jogador que pediu ajuda psicológica para lidar com essa pressão.

Há também um aspecto que Carlos Azenha considera fundamental para a evolução de Mariano e que, obviamente, está relacionado com o estado psicológico que atravessa: "a tomada de decisão". Ou seja, o momento em que passa a bola, o momento em que remata ou o momento em que decide fintar durante um jogo. Ao que parece, Mariano tem dificuldades em decidir e apresenta poucas certezas sobre o relvado. "Quando o Mariano conseguir corrigir a tomada de decisão, ou libertar-se dela, vai passar para um patamar acima do actual", garantiu.

Factos e números
Mariano foi seis vezes titular esta temporada, tantas como na última época.
Tem dois golos no campeonato, ou seja, já alcançou o registo do primeiro ano no FC Porto.
É o suplente mais vezes utilizado: saiu 10 vezes do banco.

Tomaz Andrade n' O Jogo.

Diferença está nos treinadores

A jornada 22 pode ter antecipado a classificação final. O FC Porto acelerou, ampliou o avanço e continua a perfilar-se como principal candidato à vitória, por estar isolado na liderança e por ser o concorrente mais bem estruturado, mais consistente, mais esclarecido e competitivamente mais poderoso como os resultados têm mostrado.
Um trajecto complicado mas gratificante para Jesualdo Ferreira. Fui dos que consideraram precipitada a prorrogação do vínculo ao FC Porto. Bosingwa e Paulo Assunção tinham saído e Quaresma, incomodado, andava com a cabeça sabe-se lá onde enquanto esticava a corta ao máximo...

Com a estrutura enfraquecida e com tanta gente nova, a implicar um começar de novo, Jesualdo, do alto do seu enorme estatuto que dois títulos lhe conferem, em vez do descanso e dos dólares num qualquer clube árabe, optou por aventura tremenda, em contraponto ao comodismo a que a situação convidava, sabendo ele de antemão que hipotecava a própria carreira.

A isto chama-se coragem. Jesualdo foi à luta com as únicas armas de que dispõe: integridade, seriedade, competência e sabedoria. Critico-o muitas vezes, e nem sempre a razão estará do meu lado, mas, divergências à parte, sobressai o homem, e em relação a esse o respeito e a consideração que me merece mantêm-se inabaláveis.

Paulo Bento saltou para o segundo lugar. Não é justo negar-se-lhe a virtude de ter formado uma equipa que não oferece vistosa prática de jogo, mas onde se vislumbra muito trabalho de casa. Goste-se ou não, impôs um modelo do qual não abdica. Com um plantel muito pouco mexido, foram enormes as expectativas. Era o mais forte adversário de Jesualdo, mas sem-número de conflitos mal geridos e a sua permanente exposição, a par de notória inabilidade para estabilizar o balneário, desviaram-no da sua verdadeira missão, a de preparar os seus praticantes para serem campeões. O objectivo ainda é possível, apesar de, ao longo da época, tão maltratado ter sido por equívocos, teimosias e imprudências. Aliás, a principal diferença entre FC Porto e Sporting, os dois da frente, reside precisamente nos treinadores.

O Benfica festejou réveillon no primeiro lugar mas aquele inesperado desaire na Trofa, na jornada que acolheu o Ano Novo, nada indiciou de promissor. É verdade que logo a seguir recuperou a liderança, na sequência da vitória sobre o Sp. Braga e beneficiando do empate do mesmo Trofense em casa do dragão, mas desde então o entusiasmo de ver repetido o que se passou em 2005, com Trapattoni, tem perdido intensidade.

Agora, é o título que se escapa e a hipotética entrada na Liga dos Campeões que se dilui, na medida em que o acesso directo apenas estará reservado ao futuro campeão. No espaço de oito jornadas Enrique Flores não arruinou o projecto de relançamento do futebol benfiquista mas viu reduzido o seu espaço de manobra e fortemente prejudicada a sua credibilidade, dado a manifesta inaptidão para manter acesa a chama da esperança de uma massa adepta generosa e imensamente paciente.

O problema, obviamente, não se resume ao atraso de cinco pontos, já de si suficientemente perigoso nesta fase do campeonato com a meta tão próxima. Ele estende-se à imaturidade do futebol praticado pelo grupo benfiquista e à pobreza exibicional dela resultante, uma questão antiga e que não foi atacada como se impunha, imediatamente a seguir ao colapso grego, não pelos números mas pelo monstruoso desatino que autorizou intolerável desfecho.

Depois de tantos meses Flores não formou uma equipa, nem sequer revela uma ideia definida de como lá chegar. Em termos de conquistas, ficar resumido à Taça da Liga é de facto muito pouco.

Não me é permitido entrar no pensamento de quem decide na Luz, mas ou há uma conversa muito séria com o treinador espanhol, e das justificações por ele avançadas para tanta modéstia conclui-se ser-lhe devida outra oportunidade ou, então, o melhor é fazer contas e cada um ir à sua vida...

Fernando Guerra n' A Bola.

Azeite à tona

1 O Ricardo Araújo Pereira, desenterrando um texto meu de Agosto, ao que parece, acha que chegou a altura de se dar credibilidade a Ana Salgado — a irmã da dita cuja e que, interrogada à pressa e madrugada adentro pelo Ministério Público (MP), assinou uma declaração onde desdisse tudo o que andou a dizer nos últimos dois anos e que, jura agora, só disse por estar paga por Pinto da Costa. Pois não me atreveria a dar conselhos sobre humor ao Ricardo (embora, e aproveitando, não resista a dizer-lhe que me parece que o humor dos Gatos anda um bocado por baixo, a começar por aqueles insuportavelmente desengraçados anúncios ao MEO...). Não sei o que perceberá o Ricardo de Direito e julgamentos, mas, se me permite citar a minha experiência de doze anos de advocacia, com muito crime pelo meio, garanto-lhe que nunca vi nem ouvi contar um caso em que o MP, a meio de um julgamento, se tenha apoderado de uma testemunha de defesa e passado a usá-la contra a própria defesa. E que, para tal, um ilustre magistrado se tenha dado ao incómodo de se deslocar de urgência de Lisboa ao norte, para registar por escrito declarações da dita testemunha, madrugada fora, e enviá-las à pressa e por fax para o tribunal.
Eu reconheço que qualquer das duas irmãs do «clã Salgado» (para usar a expressão constante do inesquecível «livro»), são, digamos, donas de uma verdade muito flutuante: ora estão com este, ora com o outro; ora juram por isto, ora pelo seu contrário. Mas isso é problema do MP, que quis desencadear toda esta bernarda do Apito com base em testemunhas desta envergadura. Mas a questão não é essa: a questão é — como eu disse e o Ricardo fez o favor de me recordar — saber porque razão uma testemunha que o MP considerou simples difamadora durante dois anos, passa, afinal, a testemunha decisiva e de última hora, assim que se consegue que inverta a sua verdade, até então ignorada. E porque razão alguém, que vem confessar que andou a mentir durante dois anos porque estava paga para tal, de repente já merece ser acreditada, sem qualquer hesitação. Pergunto eu: e não terá (também ou antes) sido aliciada agora, no decurso desse, imagina-se, dramático interrogatório nocturno em que, tal como S. Paulo na estrada de Damasco, de repente viu a verdade ali diante dos olhos?

Quinta-feira passada, dia seguinte à qualificação do FC Porto para os quartos da Champions (não sei se sabe o que isso é, Ricardo?), eis a notícia ao alto da primeira página do Correio da Manhã: «Pinto da Costa suspeito de subornar testemunha». Mais abaixo, outro título de desporto: «Ronaldo elimina Mourinho». E ainda mais abaixo e em letra mais pequena, enfim: «FC Porto passa aos quartos». Ai o cotovelo, como dói! E, todavia, dois dias antes, no mesmo tribunal de Gaia que julga Pinto da Costa, uma outra testemunha, que se identificou como ex-namorado de Carolina Salgado, veio e contou que um dia, quando estava a almoçar com ela em Lisboa, apareceu o presidente do Benfica, que se sentou e perguntou à senhora: «Então, o que me trazes e quanto queres por isso?» É verdade que Luís Filipe Viera já desmentiu isto e eu tenho esta velha mania de só acreditar em acusações depois de provadas no local adequado. Mas pergunto: se Pinto da Costa é suspeito de subornar uma testemunha porque ela disse tal a um magistrado do MP que a interrogou a sós e noite fora, porque não é suspeito do mesmo Filipe Vieira, quando uma outra testemunha o diz perante um tribunal, sob juramento e sujeita a contra-interrogatório?

(Está a ver, Ricardo: é por fazer perguntas destas, assim tão idiotas, que os benfiquistas se irritam tanto que eu escreva aqui...)

2 Esta semana, o azeite veio mesmo à tona e no fundo mergulharam todas as verdades flutuantes. O Sporting (que teve um grupo feliz de qualificação na Champions), mostrou, de forma transparente, até que ponto a sua dimensão futebolística está a milhas de uns oitavos-de-final da Champions: 25 golos sofridos esta época em cinco encontros com grandes da Europa, não deixam margem para duvidar que o que aconteceu contra o Bayern não foram dois acidentes de percurso, mas sim o reflexo de um espelho que não mente. Só vi o jogo até ao primeiro golo e logo mudei para o Liverpool-Real Madrid, porque cheirou-me a humilhação e não quis vê-la. De nada serviu a lição, porém: quatro dias depois, business as usual, lá estava a SAD do Sporting a fazer mais um comunicado contra uma arbitragem...

Quanto à repousada equipa do Benfica, pejada de anunciadas estrelas (o Di María é um suposto Maradona, o Pablo Aimar, que a mim me parece um banal Roger, é alcunhado de el Mago, e por aí fora...), depois de tantas vitórias à tangente, «tem-te não caias», foi à Figueira, apanhou-se a ganhar aos dois minutos sem saber como e logo recuou toda para defesa, de onde não saiu mais de uma hora a fio, só sendo salva por um livre, dos vários inventados pelo árbitro preferido do presidente do Benfica. E este sábado, lá se dispôs a repetir a fórmula contra um Guimarães que a experiência ensinava ser um adversário amigo e inofensivo — como de facto foi, excepto na única vez em que se decidiu a tentar um golo, por distracção. Enfim, desta vez correu mal e, como disse Quique Flores, «é um milagre que (este) Benfica ainda seja candidato ao título». Li algures que os titulares que tanto se esforçaram contra o Guimarães, coitados, tiveram folga no domingo e folga na segunda. E querem ganhar o quê — o julgamento de Gaia?

Enquanto isso, o FC Porto ganhou tranquilo e autoritário contra o Leixões. Tão tranquilo e tão autoritário que as vozes do costume logo trataram de levantar suspeitas: dois jogadores do Leixões teriam sido aliciados ou estariam já contratados pelo FC Porto. Nada suspeita, claro, fora a derrota, no jogo anterior na Luz, graças a um auto-golo, ou a derrota posterior por 0-4 em Paços de Ferreira. É assim, com esta impune leviandade, que os anti-portistas acham que conseguem explicar aos tolos que aquilo que entra pelos olhos adentro de todos não é verdade. Mas na quarta-feira seguinte, num jogo de risco intenso e de exigência máxima, o FC Porto eliminou o Atlético Madrid (vindo de humilhar o Barcelona e o Real) e só não ganhou porque, nos dois jogos da eliminatória, a sorte não quis nada com o FC Porto. E ei-lo assim na restrita colheita das oito melhores equipas da Europa — onde, por exemplo, não há nenhuma equipa russa, holandesa, francesa ou italiana.

E quando todos os imaginavam exaustos e sem poder ofensivo, devido à ausência de Hulk, o FC Porto arrancou uma primeira parte de campeão, quatro dias depois, contra a Naval, só não acabando o jogo em goleada porque um senhor chamado Cosme achou que o momento aconselhava fazer vista grossa a três penalties contra a Naval, o primeiro dos quais, simplesmente chocante. (Ainda pensei que fosse eu que estava a ver a coisa deformada e, por isso, fui consultar o painel dos três ex-árbitros de O Jogo, e, coisa rara, os três coincidiam nos três lances: todos tinham sido penalty, o guarda-redes ficara por expulsar no primeiro e o Lisandro levara um cartão amarelo, que o afasta do próximo jogo, por supostamente ter simulado um penalty, que existiu mesmo. Auguro um grande futuro na arbitragem a este senhor Cosme, que eu não conhecia. É claro que nada disto entrará para o registo dos erros de arbitragem, tão dissecados quando prejudicam outros. É como na jornada anterior, quando todos concluíram que não tinha tido «casos»: apenas um pequeno «caso», que valeu dois pontos a mais ao Benfica...

3 Caso, caso, é o Helton. Há dois anos, já, que aqui escrevi o que pensava dele: um bom guarda-redes para uma equipa como o Leiria, um guarda-redes insustentável para uma equipa com as ambições do FC Porto. Parece que agora, finalmente, todos começam a ver o óbvio. E o óbvio nem são os erros clamorosos e os golos oferecidos nos jogos de maior responsabilidade. É, por exemplo, isto: constatar que nos dois últimos jogos do campeonato, as duas únicas oportunidades de golo do Leixões e a única da Naval foram criadas pelo Helton, permitindo cabeceamentos frontais à baliza dentro da pequena área, sem nenhuma reacção. É triste, mas é assim, e o Bruno Alves parece que não fica lá para sempre.

Miguel Sousa Tavares n' A Bola.