terça-feira, 17 de março de 2009

Diferença está nos treinadores

A jornada 22 pode ter antecipado a classificação final. O FC Porto acelerou, ampliou o avanço e continua a perfilar-se como principal candidato à vitória, por estar isolado na liderança e por ser o concorrente mais bem estruturado, mais consistente, mais esclarecido e competitivamente mais poderoso como os resultados têm mostrado.
Um trajecto complicado mas gratificante para Jesualdo Ferreira. Fui dos que consideraram precipitada a prorrogação do vínculo ao FC Porto. Bosingwa e Paulo Assunção tinham saído e Quaresma, incomodado, andava com a cabeça sabe-se lá onde enquanto esticava a corta ao máximo...

Com a estrutura enfraquecida e com tanta gente nova, a implicar um começar de novo, Jesualdo, do alto do seu enorme estatuto que dois títulos lhe conferem, em vez do descanso e dos dólares num qualquer clube árabe, optou por aventura tremenda, em contraponto ao comodismo a que a situação convidava, sabendo ele de antemão que hipotecava a própria carreira.

A isto chama-se coragem. Jesualdo foi à luta com as únicas armas de que dispõe: integridade, seriedade, competência e sabedoria. Critico-o muitas vezes, e nem sempre a razão estará do meu lado, mas, divergências à parte, sobressai o homem, e em relação a esse o respeito e a consideração que me merece mantêm-se inabaláveis.

Paulo Bento saltou para o segundo lugar. Não é justo negar-se-lhe a virtude de ter formado uma equipa que não oferece vistosa prática de jogo, mas onde se vislumbra muito trabalho de casa. Goste-se ou não, impôs um modelo do qual não abdica. Com um plantel muito pouco mexido, foram enormes as expectativas. Era o mais forte adversário de Jesualdo, mas sem-número de conflitos mal geridos e a sua permanente exposição, a par de notória inabilidade para estabilizar o balneário, desviaram-no da sua verdadeira missão, a de preparar os seus praticantes para serem campeões. O objectivo ainda é possível, apesar de, ao longo da época, tão maltratado ter sido por equívocos, teimosias e imprudências. Aliás, a principal diferença entre FC Porto e Sporting, os dois da frente, reside precisamente nos treinadores.

O Benfica festejou réveillon no primeiro lugar mas aquele inesperado desaire na Trofa, na jornada que acolheu o Ano Novo, nada indiciou de promissor. É verdade que logo a seguir recuperou a liderança, na sequência da vitória sobre o Sp. Braga e beneficiando do empate do mesmo Trofense em casa do dragão, mas desde então o entusiasmo de ver repetido o que se passou em 2005, com Trapattoni, tem perdido intensidade.

Agora, é o título que se escapa e a hipotética entrada na Liga dos Campeões que se dilui, na medida em que o acesso directo apenas estará reservado ao futuro campeão. No espaço de oito jornadas Enrique Flores não arruinou o projecto de relançamento do futebol benfiquista mas viu reduzido o seu espaço de manobra e fortemente prejudicada a sua credibilidade, dado a manifesta inaptidão para manter acesa a chama da esperança de uma massa adepta generosa e imensamente paciente.

O problema, obviamente, não se resume ao atraso de cinco pontos, já de si suficientemente perigoso nesta fase do campeonato com a meta tão próxima. Ele estende-se à imaturidade do futebol praticado pelo grupo benfiquista e à pobreza exibicional dela resultante, uma questão antiga e que não foi atacada como se impunha, imediatamente a seguir ao colapso grego, não pelos números mas pelo monstruoso desatino que autorizou intolerável desfecho.

Depois de tantos meses Flores não formou uma equipa, nem sequer revela uma ideia definida de como lá chegar. Em termos de conquistas, ficar resumido à Taça da Liga é de facto muito pouco.

Não me é permitido entrar no pensamento de quem decide na Luz, mas ou há uma conversa muito séria com o treinador espanhol, e das justificações por ele avançadas para tanta modéstia conclui-se ser-lhe devida outra oportunidade ou, então, o melhor é fazer contas e cada um ir à sua vida...

Fernando Guerra n' A Bola.

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