quarta-feira, 30 de julho de 2008

Isso desdenhem

E a raposa disse ao ver as uvas maduras e deliciosas fora do seu alcance: Não prestam, estão verdes.

Sachi desvaloriza sete dos dragões

Antigo seleccionador italiano diz que Quaresma é agora apenas um bom jogador

Palavras tão duras e críticas sobre Quaresma não as leva o vento, porque saíram da boca de... Arrigo Sachi, antigo seleccionador italiano, também do Milan, do Atlético de Madrid, entre outros, e com títulos nacionais e internacionais conquistados. Ora este renomado treinador, em entrevista concedida ao não menos reputado jornal Gazzetta dello Sport, não só se limitou a dizer que os reforços garantidos por José Mourinho para o Inter eram pouco ou nada entusiasmantes, por «não acrescentarem fantasia», como ainda não poupou Ricardo Quaresma.
Sachi, aliás, desvalorizou ao máximo o grande... fantasista. «Quaresma não é um campeão. É um driblador. Quando está num dia bom, enerva muita gente. Mas, normalmente, não faz a diferença». Para a estocada final, a complementar opinião tão desfavorável ao ciganito, ainda acrescentou: «Quando era novo, parecia um campeão, mas hoje em dia limita-se a ser um bom jogador».

terça-feira, 29 de julho de 2008

A libertação dos escravos

Miguel Sousa Tavares n' A Bola:

1 - A chantagem - que não tem outro nome - que João Moutinho está a exercer sobre o Sporting é intolerável e bem andará a direcção da SAD sportinguista se não lhe ceder, sob pena de os clubes se tornarem praticamente ingovernáveis. Como dizia há dias Bobby Robson, «no meu tempo, um contrato era um contrato» e, nestes tempos de mercenarismo em que vivemos, em que o aperto de mão, a palavra de honra, a gratidão e o amor à camisola parecem ser tudo noções arrumadas no baú de alguma rara gente ainda bem educada e com princípios, se já um contrato escrito e assinado por ambas as partes também não serve de nada, então que decretem a lei da selva e venha o Sr. Blatter governar os clubes profissionais.
Moutinho nem sequer pode invocar a seu favor, ao contrário de Ricardo Quaresma e outros, o aliciante desafio profissional que o espera. O Everton é apenas o segundo clube de Liverpool, um clube mediano em Inglaterra, muito longe de aspirar a ter hipóteses no campeonato ou uma carreira na Champions. Desportivamente, Moutinho tem mais a ganhar no Sporting do que no Everton onde cairá num«buraco negro» de esquecimento do qual não sairá tão cedo porque, como irá descobrir, em Inglaterra, um contrato ainda é um contrato - e o Manchester United está a mostrá-lo com Cristiano Ronaldo. Só há uma razão para que Moutinho queira trocar o Sporting pelo Everton e essa é apenas o dinheiro. Fica muito mal a um capitão de equipa, cujo contrato foi melhorado recentemente e na vigência dele, que é acarinhado pelos sócios e pela direcção do clube, querer ir-se embora apenas por dinheiro. Já sei que, como disse Derlei, todos têm família, um futuro em que pensar, etc. Têm os jogadores de futebol e temos nós todos. A única diferença é que ninguém ganha as fortunas que eles ganham tão somente porque têm jeito para dar chutos na bola e porque, por sorte ou azar deles, não tiveram pais que os obrigaram a esquecer a bola para seguir os estudos.
O mais feio de tudo é a estratégia que o Everton e o empresário de João Moutinho, Pini Zahavi, vêm seguindo em relação ao Sporting. É a mesma estratégia do Real Madrid com Cristiano Ronaldo e, aparentemente, a do Inter em relação a Ricardo Quaresma. Podíamos chamá-la, inspirando-nos em Blatter, a estratégia da libertação dos escravos e consiste no seguinte: um clube , normalmente mais rico ou mais forte, quer comprar um jogador de outro clube, mas não quer pagar o preço justo por ele ou não pretende respeitar a vontade desse clube de não vender o jogador; logo, começam por seduzir o jogador oferecendo-lhe um ordenado milionário e dando-lhe volta à cabeça (o que não é difícil…); então e só então, abordam o clube do jogador e fazem-lhe uma proposta de compra muito abaixo da cláusula de rescisão ou do valor justo; perante a negativa do putativo vendedor, entra então em cena o próprio jogador, que começa a fazer declarações públicas de que se quer ir embora; confrontado com a situação de chantagem assim criada, o clube que tem contrato com o jogador fica encostado à parede: ou cede à chantagem e aceita vender mal, ou recusa e fica a braços com um problema interno de um jogador contrariado, que vai começar a fazer «fitas», a fingir-se lesionado e a criar um ambiente que é ofensivo para a dignidade do clube. É uma jogada perfeita, contra a qual praticamente não há defesa.
A nossa imprensa desportiva, que tão afincadamente tenta convencer a direcção portista a vender o Quaresma ao Inter a preço de saldo ou que tanto se bate pela «libertação» de Cristiano Ronaldo do Manchester, tem alguma responsabilidade na criação deste clima de «vale tudo» que parece estar a tomar conta da cabeça dos nossos jogadores, devidamente empurrados pelos respectivos empresários. Com um pouco mais de tino, a imprensa desportiva pensaria um pouco que assim, não só despovoamos o nosso futebol dos melhores intérpretes de nacionalidade lusa, como ainda se está a contribuir para a ruína financeira dos clubes. Pois se tanta gente diz e jura que a solução económica dos nossos clubes só pode ser a de formar jovens talentosos para depois os vender muito bem ao estrangeiro, se o negócio passa a ser arruinado por esta estratégia de rasga-contratos a todo o tempo, para quê investir na formação dos nossos jovens?

2 - Como aqui o notei no artigo anterior, enquanto Ricardo Quaresma vai aguardando o desfecho do braço-de-ferro do Inter com o FC Porto, Jesualdo Ferreira vai tentando habituar-se a viver sem ele e a formar uma equipa que, sem Quaresma, possa continuar a assegurar o índice de capacidade ofensiva, criativa e concretizadora a que o FC Porto nos habituou em anos recentes. Não é fácil, como mais uma vez se viu contra o Celtic. Com Mariano González, não há 4x3x3 que se aguente, porque o argentino é um trapalhão completo, que entra em campo com ar de quem já está cansado e corre com a cabeça em baixo e o corpo para trás em direcção a lado nenhum, totalmente falho de ideias, de rasgo e de visão de jogo. Foi a primeira e a pior contratação do FC Porto esta época.
Das restantes contratações portistas- cujo número se aproxima já do total da época passada: onze jogadores, uma equipa completa- a ideia que fica destes primeiros jogos de pré-época é que, pelo menos, não acontecerá o mesmo que na época passada, quando dos onze jogadores contratados, nenhum teve lugar na equipa principal. Felizmente, este ano, há condições para integrar dois ou três e isso é absolutamente necessário porque, para já, Bosingwa e Paulo Assunção têm de encontrar substitutos. A eventual vaga de Quaresma poderá ter de ser resolvida com uma mudança de sistema de jogo, mas as ausências de Bosingwa e Paulo Assunção têm mesmo de ser preenchidas. Sapunaru tem sido dos que melhor se têm integrado e parece-me que o lugar de defesa-direito lhe fica bem entregue. No centro da defesa, Rolando é também reforço e é natural que, na primeira ocasião em que falte Pedro Emanuel, Jesualdo lhe entregue o lugar (e não antes apenas por respeito pela antiguidade, que ali é um posto). No lugar de «trinco», as coisas estão mais complicadas: Bolati não serve, como está mais do que visto, e Guarin, ao contrário do que a crítica tem dito, a mim não me convence: muita precipitação, muito afogueamento, timings sempre errados para entrar à bola ou entregá-la, jogo muito faltoso. Resta Fernando, que ainda não teve ocasiões para se mostrar suficientemente, ou Raul Meireles, que fez a posição durante cerca de 25 minutos contra o Celtic e bem melhor do que Guarin. Cristian Rodriguéz é sem dúvida reforço e dos bons: com Quaresma, formará duas alas do trio atacante verdadeiramente notáveis; sem Quaresma e em 4x4x2, Jesualdo provavelmente dar-lhe-á o lugar de ala mais recuado, sobre o meio-campo. Enfim, só para esse sistema alternativo é que se justifica a incrível contratação do desconhecido Hulk, por números que metem medo: ou se trata de um novo Jardel, surpreendentemente descoberto nas profundezas do campeonato japonês, ou se trata do maior barrete de sempre.
A conclusão é esta: com Quaresma, o FC Porto terá este ano uma super-equipa, bem melhor do que as de anos anteriores. Sem Quaresma, o FC Porto é, para já, uma boa equipa, com futebol organizado (nada a ver com o Benfica, por exemplo), mas falha de capacidade de chegar ao golo. Se Hulk for o génio que os milhões nele investidos levam a esperar, esse problema pode ficar resolvido; se o não for e se não houver Quaresma, pode-se regressar aos tempos de Co Adriaanse: muito ataque e muito poucos golos.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Torneio Cidade de Braga

O Torneio Internacional Cidade de Braga, que será transmitido em directo pela Sport TV, terá o seguinte calendário:

Dia 1
18h30 SC Braga-Cagliari
21h15 FC Porto-Leixões

Dia 3
18h15 FC Porto-Cagliari
20h45 SC Braga-Leixões

Preço dos ingressos por dia
5 € - Sócios dos clubes participantes
10 € - Público em geral

Postos de venda
Centro de atendimento aos sócios do SC Braga
Secretaria Estádio 1.º de Maio
Bilheteiras do Estádio AXA
Estádio do Dragão
Estádio do Mar

sábado, 26 de julho de 2008

Comunicado da SAD do FCP

Após ter tomado conhecimento de um parecer divulgado esta sexta-feira, o Conselho de Administração da F.C. Porto – Futebol, SAD vem por este meio comunicar o seguinte:
1 - Desde a primeira hora que registamos, com agrado, que fosse o Professor Freitas do Amaral a fazer uma avaliação dos factos sucedidos na reunião do Conselho de Justiça da FPF de 4 de Julho deste ano;

2 - Fizemo-lo na esperança de que tal pudesse constituir a forma idónea e independente de oferecer alguma luz a uma série de factos e de interpretações sobre os mesmos, que só vieram agravar o clima geral do futebol português e a sua respeitabilidade, dentro e fora das fronteiras nacionais;

3 - Fizemo-lo, ainda, na convicção de que o Professor Freitas do Amaral fosse a figura indicada para se colocar bem acima dos interesses em disputa, assumindo-se como aferidor equidistante dos acontecimentos, necessária e convenientemente apartado dos factos controvertidos;

4 - Infelizmente, constatamos, após uma análise sumária do ‘Parecer Jurídico’ ontem entregue à FPF e que hoje foi divulgado publicamente, que as nossas expectativas eram demasiado ingénuas e optimistas, já que a opinião do Professor Freitas do Amaral nos parece excessivamente parcial, nalguns pontos até tendenciosa, sempre, do princípio ao fim, em favor da facção que optou por continuar a reunião do CJ após o seu encerramento pelo presidente desse órgão;

5 - Na verdade, a nossa estupefacção é crescente e alicerça-se, também, na questão de que das muitas opiniões emitidas por eminentes juristas, nem sempre coincidentes, acerca dos factos ocorridos na referida reunião, algumas pendiam mais a favor de uma posição e outras tendiam para o inverso – mas raramente se entendeu um juízo pensado e supostamente abalizado que, em mais de cem páginas, optasse por outorgar toda a razão a apenas um dos lados em disputa, deixando a outra posição completamente a descoberto de qualquer conforto legal ou doutrinário;

6 - Deste modo, para nosso espanto, consideramos o tom do ‘Parecer’ excessivo e o seu sentido parcial, tanto assim que o mesmo quase parece constituir uma ‘Consulta’ de uma das partes da questão e não uma opinião de quem procura descobrir a verdade e encontrar uma solução equilibrada e justa;

7 - Muitos são os equívocos, os realces indevidos e os «esquecimentos» incompreensíveis, na selecção dos factos que o Professor Freitas do Amaral optou por verter no seu ‘Parecer’ – para já, apenas nos referiremos a alguns:

a) O citado ‘Parecer’ considera «nula» a decisão de encerramento da reunião do CJ pelo seu presidente, pelo facto de, no seu entender, não encontrar motivos, circunstâncias excepcionais, que fundamentem esse encerramento antecipado;

b) Designadamente não considera que tivesse existido «tumulto», percorrendo, depois, o reputado professor, um longo percurso pela origem latina da expressão, para, de seguida, concluir, em língua portuguesa, que nada existia que justificasse a qualificação da reunião como «tumultuosa»;

c) Não precisamos de fazer excursões em qualquer língua morta ou viva, para além da nossa língua mãe, para percebermos que, no decurso de uma reunião de um órgão colegial composto por juristas, a utilização de expressões como «vai para o raio que te parta», dirigidas ao seu presidente ou a qualquer um dos seus membros não corresponde à normalidade dos factos, nem se adequa ao clima de tranquilidade indispensável para o funcionamento regular de um órgão com aquelas responsabilidades;
d) De tal modo assim é, que os cinco vogais que teimaram, obstinadamente, em prosseguir ulteriormente a reunião, levando a carta a Garcia, de acordo com o próprio ‘Parecer’, descreveram aqueles minutos como «de tensão», «nervosismo» e, ainda, «momentos difíceis»;

e) Tendo, aliás, um deles, o Dr. Mendes da Silva, já na suposta segunda parte da reunião, declinado a possibilidade de a ela presidir, dado o seu estado de indisposição…

f) Mas nem assim, pelos vistos, o Professor Freitas do Amaral julgou ver abalado o clima de normal urbanidade que possibilitasse o decorrer dos trabalhos de um órgão desta natureza;

g) Quase nos atrevemos a pensar que o Professor acaba por criar uma nova interpretação para o conceito de reunião de órgãos colegiais bastante distinta, por certo, daquele que consta no Código de Procedimento Administrativo de que foi o principal redactor em tempos, pelos vistos, já demasiado longínquos…

h) A predilecção pelas razões de uma das partes vai a tal ponto que o Professor Freitas do Amaral nem mesmo considera estranhos alguns comportamentos que se situam, a todos os níveis, fora do Direito, da sua lógica mais elementar e dos seus princípios mais basilares;

i) Por exemplo, o douto ‘Parecer’, tão ávido de reprovações e de censuras para apenas um dos lados, nada diz, nem sequer se pronuncia sobre o facto do Dr. João Abreu ter participado na votação acerca do seu próprio impedimento, votando a revogação de uma decisão do presidente que lhe dizia directamente respeito!

j) Não é preciso, sequer, ser jurista para saber que ninguém pode decidir em causa própria, participando activamente com o seu voto numa decisão em que é o principal interessado – mas nem mesmo este tão evidente, quanto elementar, arrepio do Direito impressionou o Professor Freitas do Amaral, que o preferiu silenciar…

8 - Lamentamos profundamente que este ‘Parecer’ tenha extravasado largamente o que foi requerido, tecendo comentários inadequados e não solicitados, de entre eles destacando-se os que foram feitos sobre o «caso julgado» e o carácter definitivo das «decisões»;

9 - Lamentamos ainda que não tenha contribuído minimamente para aclarar os factos, nem para serenar o ambiente turvado no futebol nacional;

10 - Felizmente, estamos perante uma mera «consulta», disfarçada de Parecer, que esperamos que seja como tal encarada pelo Cliente – a FPF – a qual, certamente, não esquecerá que a decisão sobre este assunto compete sempre, num Estado de Direito Democrático, aos Tribunais, onde, aliás, já está a ser discutida;

11- Na verdade, ao longo de muitas décadas, o País habituou-se a visualizar duas personalidades distintas na figura de Freitas do Amaral: o Professor moderado e, sobretudo nos últimos anos, o político que em quase tudo o que diz e faz parece apostado em desmentir a imagem do universitário. Infelizmente, estamos em crer que foi a figura do político que emergiu neste ‘Parecer’.

Porto, 25 de Julho de 2008

O Conselho de Administração da F.C. Porto – Futebol, SAD

sexta-feira, 25 de julho de 2008

FCPorto - Celtic

É amanhã, às 21h, com transmissão em directo na RTP1, que o noso clube se apresenta aos sócios e adeptos.

Apresentação da equipa para a época 2008-2009

O F.C. Porto – versão 2008/09 – apresenta-se este sábado a associados e adeptos no Estádio do Dragão, numa festa que promete grandes desafios e muita animação. A equipa de juniores do Valência e o Celtic, adversário de boa recordação para os azuis e brancos, para sempre ligado à conquista histórica da Taça UEFA, são os convidados de honra daquele que será certamente um acontecimento inesquecível.

Num dia de entusiasmo desmesurado para todos os que guardam no coração o clube que tantas alegrias lhes oferece, as portas do espaço de preferência dos Tricampeões abrem ao público a partir das 17h30, tendo início uma hora e um quarto depois (18h45) o primeiro espectáculo do evento, assinalado pelo confronto entre as equipas de sub-19 de F.C. Porto e Valência (duas partes de 30 minutos cada) e pela Dança do Dragão.

A festa prossegue com a apresentação individual do plantel sénior para a temporada 2008/09, marcada para as 20h15, e com novo encontro prometedor, sobretudo pelas características que lhe são inerentes. Os Dragões defrontam o Celtic às 21h00, num jogo que trará inevitavelmente à memória a final de 2003 da Taça UEFA, que o F.C. Porto venceu, erguendo assim pela primeira vez na sua história um troféu que nenhum outro clube português conquistou.

Após a partida contra o conjunto escocês, terá lugar a cerimónia de encerramento, com direito a música e fogo de artifício.


Site do FCP

Quartel-general em Abrantes

O ambiente desanuviou-se com a entrevista de Luís Filipe Vieira à RTP. Devo ter percebido mal, mas pareceu-me ouvir, do simpático presidente do Benfica, que tinha muito orgulho na escuta em que foi apanhado.
Passado esse equívoco, pelo qual me penalizo, garanto-vos que o ouvi explicitar a verdadeira intenção do Benfica, na questão em que se envolveu, a propósito da UEFA. Afinal, tudo se resumia a tentar repor a verdade desportiva. Foi essa a única razão pela qual enviou advogados à Suíça. Por isso, o clube nada perdeu na cruzada, em que a única vítima foi a verdade desportiva, ferida de morte com a participação do FC Porto que, como se sabe, não ganhou o campeonato.

Ficamos a saber que, para Vieira, o seu clube não deveria participar na Liga dos Campeões, caso o FC Porto tivesse sido excluído. Como nunca houve oportunismo, não haverá, também, aproveitamento futuro. Conclui-se, pois, que o Benfica nada perdeu e que o único prejudicado pelo fracasso do recurso foi o Vitória de Setúbal, que se devia estar a preparar, agora, para disputar a pré-eliminatória dessa competição.

Ficamos, também, com a certeza de que o presidente do Benfica não marca golos, e não se considera responsável pelos maus resultados desportivos do clube. Algo de que já se suspeitava, desde a venda tardia de Simão e o despedimento de Fernando Santos, há cerca de um ano. E, para que não fiquem dúvidas sobre a liderança, ouvimos a sua confissão de que, para esta época, tentou contratar Eriksson e Carlos Queirós. É um forte estímulo a Quique Flores, que assim aparece como de terceira apanha e iliba o presidente, se as coisas correrem para o torto.

Ficamos, por fim, com a agradável sensação de que, por este andar, não precisamos de estar preocupados. Tudo continuará como dantes, em Abrantes e no futebol português.


Rui Moreira no jornal A Bola

terça-feira, 22 de julho de 2008

Há males que vêm por bem

Jorge Maia

Há males que vêm por bem. Não deve haver ditado mais convictamente católico, apostólico e romano do que este, que a minha avó repetia agarrada ao terço como quem se agarra a uma bóia em alto mar. Apenas mais uma forma de se convencer que a todo o sofrimento correspondia uma redenção mais ou menos proporcional lá mais adiante. Mas, apesar de todo o meu cepticismo quanto a redenções, lá que há males que vêm por bem, há. Por exemplo, tenho muitas dúvidas que Aimar fosse jogador do Benfica se o FC Porto não tivesse sido confirmado na Liga dos Campeões na semana passada. A "derrota" dos encarnados no TAS exigia uma vitória a qualquer custo nas negociações com o Saragoça sob pena - pena capital, neste caso - de começarem já a rolar cabeças para o lado da Luz. Um desaire ainda se suporta, até porque uma grande parte da imprensa ajuda a varrer essas coisas para baixo do tapete, longe da vista e do coração, maltratado coração. Mas dois na mesma semana, um a seguir ao outro, de rajada, dois desaires seguidos seriam insuportáveis até porque indisfarçáveis. Exigia-se uma vitória na contratação de Aimar, um bem que compensasse o mal que o TAS tinha feito em Lausana e ela chegou mesmo a tempo de ocupar as primeiras páginas de cima abaixo, sem espaço para as outras minudências. Foi uma vitória paga a peso de ouro e com custos difíceis de avaliar até em termos de estabilidade dentro do plantel encarnado - que ficou a olhar de baixo para cima para o ordenado do argentino - mas se há alturas em que é preciso ganhar a qualquer custo para não ter de se pagar um preço mais alto, esta era claramente uma delas."

Ah, afinal não era a sério!

Miguel Sousa Tavares n’ A Bola:

1 - Afinal, o Benfica não queria ir à Champions, disputando a pré-eliminatória na vaga do Vitória de Guimarães, que, por sua vez, entraria directo na vaga do FC Porto. Afinal, o que parecia não era: a apressada denúncia logo feita pelo Benfica à FPF para que esta corresse a comunicar à UEFA que uma coisa chamada Comissão Disciplinar da Liga tinha julgado o FC Porto culpado de tentativa de corrupção e este não havia recorrido; os milhares e milhares de euros gastos em advogados, jurisconsultos, especialistas internacionais, para defender a posição do Benfica na questão — uma posição em que não era parte envolvida, mas simplesmente interessada; os esforços titânicos feitos para ganhar no campo jurídico o que o clube nunca mostrou ser capaz de ganhar no terreno de jogo — tudo isso era a fingir. O Benfica não queria ir à Champions: queria apenas chatear o FC Porto. Garantiu-o Luís Filipe Viera esta semana, em entrevista a Judite de Sousa. Se o Benfica tem obtido ganho de causa junto da UEFA, o seu presidente trataria logo de abdicar do efeito prático dessa vitória, propondo aos órgãos sociais do clube que este renunciasse… a favor do V.Setúbal. Acredite quem quiser.
Eu, claro, não acredito. Se essa fosse a vontade de Vieira, deveria tê-lo dito antes do desfecho e não depois de ter falhado a usurpação tentada. Depois de perder, é facil vir dizer que nunca se quis ganhar. Mas antes é que isso teria algum valor. Conforme ouvi a muitos benfiquistas, incomodados com o assunto, o que a direcção do seu clube deveria ter feito para evitar a tristíssima figura que fez, era ter ficado simplesmente quieta e muda, à espera que a UEFA, a Liga de Clubes, a Federação e o FC Porto resolvessem o assunto, que só a eles respeitava. Assim, é preciso acreditar nas boas intenções póstumas.

E não é fácil acreditar no desportivismo desta direcção benfiquista. São os mesmos que se prestaram a ir a um jantar de propaganda eleitoral do PSD para agradecer favores políticos, relativos a dívidas fiscais e à construção do estádio; os mesmos que tentaram safar Nuno Assis com recurso a meros expedientes burocráticos, como se não existisse a questão principal, que eram as análises positivas de doping; os mesmos que «compraram» o jogo no Algarve ao Estoril-Praia, assim dando passo decisivo para serem campeões em 2005 e arrumar com o Estoril para a 2ª divisão; os mesmos que este ano se especializaram em comprar jogadores aos clubes com quem iam jogar a seguir; os mesmos que cada vez que não conseguem os resultados esperados inventam sempre desculpas de mau pagador e conspirações sombrias; os mesmos que se aliaram a Valentim Loureiro para controlar a Liga de clubes contra Sporting e FC Porto e que depois, quando o viram metido em alhadas, lavaram as mãos do assunto, como se não tivessem nada a ver com ele, com a Liga e com o tal de «sistema».

Desportivismo? Desportivismo é chegar ao fim do campeonato e dizer «eles mereceram ganhar». Já alguém ouviu algum dos actuais dirigentes do Benfica dizer isso alguma vez?


2 - A direcção do Benfica, que fez desta novela na UEFA o caso do «defeso» e que nela investiu tudo, sem querer saber dos pergaminhos ou do prestígio do clube, sem sequer auscultar a vontade dos sócios, prestou um péssimo serviço ao clube e à sua história. Eles lá sabem…

E, atrás deles, entontecidos pela miragem de entrar directos na Liga milionária sem os riscos da pré -eliminatória, incapazes de resistir à tentação de empochar cinco milhões de euros caídos do céu, sem um estremecimento de pudor por querer entrar na Europa dos grandes à custa do clube que lhes enfiara 5-0 em casa no jogo em que eles poderiam ter conquistado em campo esse direito, seguiram os responsáveis do Vitória de Guimarães. Trocaram uma amizade sólida e uma simpatia antiga da parte do FC Porto e dos seus adeptos pela sedução dos milhões. E, a avaliar pelos resultados e crónicas dos jogos de pré-época percebe-se bem porquê: porque esta porta das traseiras era a única em que os responsáveis vimaraneneses confiavam para entrar onde não esperavam.

Leio por aí que o Vitória, apesar de tudo, ainda espera que o FC Porto lhe volte a emprestar o Alan, aliviados que devem estar com a declaração de Pinto da Costa de que não tem nada contra o Vitória. Pois, talvez ele não tenha, mas os adeptos, esses, garanto-vos que têm e não esquecerão tão cedo: é só esperar para ver a recepção que o Dragão lhes dispensará da próxima vez que lá forem. O Vitoria, agora, que se prepare para experimentar o que lhe reserva o futuro da sua nova amizade com o Benfica — sim, o mesmo Benfica que passou toda a segunda volta do último campeonato a insinuar que o Vitória só lhe seguia à frente por favores de arbitragem. Essa nova amizade vai agora ser celebrada no «Troféu Platini», como lhe chamou o benfiquista Silvio Cervan, e seguramente que a direcção do Vitória não deixará de ter ocasião de experimentar, a propósito do interesse benfiquista no defesa Sereno, os métodos que o Benfica costuma usar quando pretende comprar jogadores de clubes «menores» que Sua Majestade (o Belenenses ou a Académica podem-lhes fazer um briefing sobre o assunto… ).


3 - Se os esforços diários e incansáveis de alguns jornalistas desportivos forem coroados de êxito, Jesualdo Ferreira vai mesmo perder Ricardo Quaresma. A sua saída seria, como alguém de um clube rival já confessou, a melhor aquisição da época para o Sporting e Benfica: não há Pablo Aimar nem Rochemback que valham a saída de Quaresma do FC Porto. Por isso mesmo e inversamente, a grande alegria, a grande e anunciada aquisição que Pinto da Costa prometeu ainda apresentar aos sócios, seria… a continuação de Ricardo Quaresma.

Entretanto, Jesualdo vai-se preparando para o pior. E, a avaliar pelos quatro jogos de preparação, em que Quaresma apenas fez uma passeata, o pior é garantido. Sem Quaresma, o FC Porto perde metade da sua capacidade ofensiva e muito mais da sua capacidade criativa lá na frente. Eu sei que há ainda portistas que têm dúvidas, mas as estatísticas são o que são: nas últimas três épocas, Ricardo Quaresma respondeu, directa ou indirectamente, como autor ou como assistente, por metade dos golos da equipa. Seguramente que não é o inofensivo Mariano González quem o vai substituir; nem o Tarik, nem o Alan. O Rodriguéz, sim, esse é jogador para flanquear o jogo, embora não seja um extremo puro. Mas se, do outro lado, em lugar do Quaresma, estiver o Mariano ou o Tarik, adeus 4X3X3 de tão boa memória! Por isso mesmo, Jesualdo anda a experimentar coisas complicadíssimas (para mim, pelo menos, que não percebo nada de tácticas), tais como o 4x2x3x1 ou o 4x1x4x1. Mais uma razão para eu não perceber a lista de dispensas de Jesualdo: o Vieirinha, que tão bem se tem exibido no PAOK, não daria jeito? O Ibson, que os brasileiros veneram, não merecia uma nova opurtunidade? O Leandro Lima não era uma promessa à beira da confirmação, ainda por cima com dois anos a mais? O Pittbull não é dez vezes melhor que um Mariano? Ainda há dúvidas de que o Bruno Moraes, devidamente motivado e sem lesões, pode ser um excelente ponta-de-lança, ou o Mourinho ter-se-á enganado?

Uma série de perguntas sem resposta, naufragadas num mar sul-americano de hipóteses por confirmar e suspensas da pergunta mortal: vamos mesmo perder o Quaresma?